E os projetos de destruição da cidade seguem

Por Marjorie Madruga, procuradora do Estado do Rio Grande do Norte da Procuradoria do Patrimônio e da Defesa Ambiental

Quem não conhece a famosa Rua Ângelo Varela, palco de grandes festas públicas de São João nos anos 80, inserida numa parte do Tirol que se deita aos pés do Parque das Dunas e é abraçada pela Mata Atlântica? Um dos últimos espaços semipreservados da cidade que oferece abrigo, tranquilidade, relativo silêncio, com pequenos negócios, alguns edifícios, mas onde predominam casas; onde suas ruas são vivas, usadas pelos moradores para atos simples e essenciais à qualidade de vida; um bairro que guarda uma pracinha cinquentenária linda e arborizada, que já foi cenário de feirinhas e pequenos shows de artistas locais.

Pois este pequeno oásis urbano está sob risco por mais uma ação da ex-gestão Álvaro Dias, que doou o terreno da pracinha para a construção de uma capela.

O que significa destruir a pracinha para a construção de um templo católico? Este ato significa a subtração de um espaço público laico, bem da coletividade, para um espaço católico de uso restrito. Significa a morte de árvores e sombras para edificações, promovendo aumento de temperatura local. Significa destruir uma área de lazer das crianças e idosos, onde podem entrar em contato com a natureza, e uma academia pública ao ar livre. Significa eliminar um local de encontro entre crianças, idosos, adultos, moradores e transeuntes. Um local de encontros da diversidade de raças e religiões, crenças, espíritos, gênero e classe social. Um espaço por natureza democrático e justo, onde todos são bem-vindos.

E tudo isso feito sem escuta dos moradores, sem escuta da sociedade, apenas ouvindo os interessados na destruição da praça e na edificação da igreja. Novamente a velha forma se repete: o sacrifício de todos para atender os interesses de uns poucos.

Uma igreja que pretende nascer ferindo os preceitos do Papa Francisco, bem postos na Laudato Si. Onde está aqui o cuidado com a “Casa Comum”? O que pensará o Papa Francisco desta pretensão local?

O novo regime climático e o aumento das temperaturas exigem a construção e ampliação de praças, espaços verdes, arborizações e não sua destruição. Não é apenas uma questão ambiental e ecológica, mas, sobretudo, uma questão de saúde.

Chamamos a população do bairro e de toda a cidade para impedir o sacrifício da Pracinha da Ângelo Varela, bem da coletividade e essencial à qualidade de vida local.

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