Globo de Ouro de Fernanda Torres celebra democracia em de ‘aniversário’ de atos golpistas

editorial

O Brasil parou – pelo menos nas redes sociais – para exaltar a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro como Melhor Atriz em Filme de Dramahttps://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/07-01-2025/fernanda-torres-historia-cinema.html, por “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles. Para além da celebração de um grande filme e de uma conquista inédita para o Brasil, o prêmio coroa uma nova era na cultura brasileira, renascida após anos de sucateamento.

Mais que isso: é uma carta de amor e resistência – ainda que não sem dor – à democracia brasileira. O filme, que lotou as salas de cinema pelo Brasil e pelo mundo afora, expôs os horrores da ditadura militar, personificados na luta de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda, após o brutal assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva (vivido por Selton Mello), pelo governo autoritário.

A dor da família Paiva espelha a de tantas outras durante os anos de chumbo, e a opressão retratada nas telas traz a amarga lembrança recente de discursos de ódio e exclusão, que culminaram nos atos golpistas de 8 de janeiro, exatos dois anos atrás, quando extremistas invadiram os prédios da Praça dos Três Poderes na tentativa de instaurar o caos e reverter o resultado democrático das eleições.

Em 2025, enquanto o processo de responsabilização avança, a pesquisa Quaest divulgada recentemente aponta que 86% da população brasileira desaprova os atos, incluindo 85% dos eleitores de Jair Bolsonaro. Esses números mostram que a ideia de democracia está profundamente enraizada na sociedade brasileira, independentemente da chamada polarização política.

Além disso, o prêmio e a própria trajetória de “Ainda estou aqui” vêm em um momento em que o Brasil ainda se recupera de anos de exaltação pública à ditadura militar, quando instituições foram ameaçadas, e a cultura, desvalorizada. No filme, a personagem Eunice enfrenta o regime, que prendeu, torturou e matou Rubens Paiva, desaparecendo com seu corpo em um ato de violência que reverbera até hoje. A narrativa cinematográfica coloca um holofote sobre as feridas do autoritarismo, ao mesmo tempo em que celebra a força e a coragem daqueles que resistiram, apesar das atrocidades.

A vitória de Fernanda, e do filme, é, portanto, mais do que um marco para o cinema brasileiro; é um lembrete do poder transformador da arte. Em um país que ainda busca superar os traumas do passado e consolidar sua democracia, “Ainda Estou Aqui” se torna um símbolo de resistência, memória e esperança e reforça a importância, em tempos em que se debate a anistia, de que haja justiça contra barbáries perpetradas contra o Brasil e o povo brasileiro.

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