Obesidade pode ser evitada nos primeiros dias de vida

Sem açúcar: A psiquiatra Francislainy Dal’Col, de 35 anos, é mãe do Matteo Dal’Col Rintos, de 1 ano e meio. Ela conta que, desde a gestação, sua maior preocupação sempre foi evitar o açúcar com o Matteo, pelo menos, até seus 2 anos de idade.
“Sei dos malefícios que o açúcar traz. Até deixo passar um biscoito de maisena, por exemplo, mas evito ao máximo. Atualmente, tento sempre colocar na sua alimentação carne, proteína, legumes e frutas”, disse Francislainy.

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Fábio Nunes/AT

O Brasil pode ter até 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade ou sobrepeso em 2035, conforme aponta o Atlas Mundial da Obesidade 2024. O que muitos pais não sabem é que a prevenção da obesidade infantil começa antes mesmo de a criança nascer.Criado em 2010, a partir de um programa da Organização das Nações Unidas (ONU), o conceito dos primeiros mil dias (280 de gravidez + 730 dos primeiros dois anos) de vida envolve estratégias que são capazes de impactar a saúde a longo prazo da criança. Agora, pesquisadores de diversos países propõem ampliar esse período até os 5 anos, ou seja, dois mil dias de vida. Uma revisão de estudos feita por cientistas da Austrália enfatiza a importância de reduzir o risco de obesidade logo nesse período.“É neste período que uma dieta de qualidade e quantidade inadequada, horários mal determinados, alimentação frente às telas e em ambientes agitados podem favorecer o organismo da criança a se adaptar a essas condições e aumentar o risco de obesidade no futuro”, explica a pediatra Nathália Miranda. Segundo a médica, esse aspecto é chamado de epigenética, o estudo de como fatores ambientais e comportamentais podem “ligar” ou “desligar” genes de maneira temporária ou permanente, influenciando o funcionamento do organismo e até sendo transmitidos às próximas gerações.Entre os principais fatores que podem aumentar o risco de obesidade na criança até seus cinco anos, Nathália lista, por exemplo, má nutrição materna durante a gravidez (excesso de calorias ou falta de nutrientes), falta de atividade física materna, excesso de telas, sendo o principal fator atualmente; e introdução precoce ou inadequada de alimentos ultraprocessados.A pediatra e neonatologista Sara Vailant ressalta que, além da obesidade infantil, podem ser prevenidas, desde a gestação, influenciadas pelo pré-natal da mãe, doenças como dislipidemia, diabetes e hipertensão. Sara pontua ainda a importância do aleitamento materno nessa prevenção. “O leite materno é o alimento mais rico em imunoglobulina, células de defesa. Já temos muitas comprovações científicas de que ele previne muitas doenças da vida adulta, além de que o bebê alimentado por ele tende a ser mais inteligente na vida adulta”.Refrigerante fora do cardápioPais de Helena, de 8 anos, Mariana, de 2, e João Felipe, de 5 meses, a enfermeira Renata Werly Melo Costa, 34, e o advogado João Costa Neto, 36, sabem da importância dos primeiros dois mil dias para o desenvolvimento da criança.“Eu me preocupei bastante com a alimentação durante a gestação, por ser um período crucial tanto para a saúde da mãe quanto para a do bebê”, conta Renata.

Pais de Helena, de 8 anos, Mariana, de 2, e João Felipe, de 5 meses, a enfermeira Renata Werly Melo Costa, 34, e o advogado João Costa Neto, 36, sabem da importância dos primeiros dois mil dias para o desenvolvimento da criança

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Acervo pessoal

A enfermeira relata que, com a filha mais velha, se sentiu mais insegura. Já com Mariana, teve mais tranquilidade.João ainda não iniciou a introdução alimentar, mas ela diz se sentir mais preparada. “Aprendemos muito com os filhos mais velhos. Acho que, com o primeiro filho, somos mais rigorosos em relação à alimentação. Já com a segunda, acabei sendo mais flexível. No entanto, uma coisa que eu não abro mão é de não incluir refrigerante na alimentação delas. Acredito que é importante estabelecer hábitos saudáveis desde cedo”, afirmou.Sono também afeta saúde da criançaDois mil diasO conceito dos primeiros mil dias de vida (280 de gravidez + 730 dos primeiros dois anos), criado em 2010, a partir de um programa da Organização das Nações Unidas (ONU), envolve estratégias que são capazes de impactar a saúde da criança a longo prazo.A partir de achados recentes da literatura científica, pesquisadores de diversos países estão propondo ampliar o período para até o quinto ano de vida. Um trabalho publicado em setembro no periódico Nature Reviews Endocrinology também aposta nesse novo número.Cientistas da Austrália enfatizam a importância de reduzir o risco da obesidade logo nos 2 mil primeiros dias.Plasticidade As evidências apontam que, nesse período, que engloba tanto o ventre materno quanto os primeiros anos seguintes, o organismo está mais sensível às influências do ambiente. É uma fase em que o corpo apresenta maior plasticidade. Daí a importância de intervenções que, segundo pesquisas, teriam efeitos duradouros.Orientações antiobesidade- Na gestação: Adoção de um cardápio equilibrado e a prática de atividade física orientada favorecem o ganho de peso saudável da grávida. Realizar o acompanhamento pré-natal, com exames para detectar precocemente o diabetes gestacional, entre outros distúrbios, é fundamental.- Evitar oferecer à criança alimentos ultraprocessados, excesso de açúcar e sal na alimentação; e uso de telas.- Estimular brincadeiras ativas e ao ar livre, que a criança vá a feiras e supermercados para escolher verduras, frutas e legumes; incluir a criança nas tarefas da cozinha (de forma segura).- Aleitamento materno tem uma composição ideal de nutrientes, não gerando uma hiper oferta proteica e calórica, além de possuir compostos ativos que regulam a saciedade do bebê.- O Sono de qualidade, a higiene do sono implementada, vai trazer benefícios na prevenção da obesidade infantil. Fonte: Agência Einstein e especialistas consultados na reportagem.

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