Perspectivas 2025: assistência humanizada é desafio para a saúde municipal

Desafio da saúde municipal é humanizar assistência, afirma Margarida

O segundo mandato da prefeita Margarida Salomão (PT) começa de uma maneira totalmente diferente do primeiro: sem uma pandemia global. Apesar da constante preocupação com novos surtos – como foi com a dengue, em 2024 -, a área da saúde possui diferentes desafios e prioridades em Juiz de Fora para 2025. Em entrevista exclusiva à Tribuna, a chefe do executivo municipal destacou a necessidade de humanizar a assistência à população como um dos grandes problemas a serem resolvidos.

Outro tópico que a prefeita ressalta a importância é o Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira (HPS). “É uma estrutura obsoleta. Em certa época, pareceu ser uma grande solução para se tornar a ‘nova Cotrel’ – que era referência para diversos atendimentos. Mas o tempo passou, e a situação do equipamento não mudou: podemos fazer manutenção, que é obrigação nossa, mas não resolve o problema. Além disso, por ser um imóvel alugado, precisamos da permissão do Tribunal de Contas para fazer intervenções estruturais”, esclarece.

Apesar das condições, Margarida reforça que a humanização requer formação continuada, monitoramento meticuloso das condições de trabalho e da infraestrutura. “Os problemas do HPS são estruturais, difíceis de resolver. Mas não faz sentido chegar a nós que, em uma estrutura de saúde, por exemplo, uma porta não fecha. É inadmissível. Isso não é problema: é fracasso. Precisamos melhorar a gestão no sentido de humanizar o atendimento.”

Além disso, a prefeita conta que espera entregar, ainda no primeiro semestre de 2025, a nova UBS do Manoel Honório. Há, também, por parte do governo, uma perspectiva de construir novas unidades no Vitorino Braga, na Avenida Brasil, no Parque Independência e no Caiçaras.

Mais de 80 mil atendimentos de saúde registram faltas dos usuários em Juiz de Fora
Pessoas na fila do PAM Marechal para marcar os procedimentos de saúde (Foto: Felipe Couri)
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Redução das filas de espera

Ainda na missão de humanizar a saúde municipal, Margarida afirma ter se comprometido a reduzir o tempo de espera da medicina especializada – consultas e exames. “É angustiante quando um médico recomenda uma consulta e você não consegue marcar. Não posso fazer isso com as pessoas. É um problema nacional, discutido em todas as campanhas eleitorais do Brasil. Em Juiz de Fora, hoje, você tem Saúde da Família em 100% da área urbana, funcionando de 7h às 19h. Em relação à saúde de alta complexidade, a cidade também conta com equipamentos excelentes: Hospital Ana Nery, Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, Hospital João Penido, o próprio HPS, Regional Leste.”

O nível intermediário (consultas e exames) é a grande fragilidade do sistema, segundo a prefeita. “Você vai em um posto de saúde e é instruído a buscar outra consulta, já que os médicos são educados a fazer isso – uma prática hospitalocêntrica. Precisamos lidar com a capacitação e a informatização na saúde. Minha meta é o prontuário eletrônico, pois já temos condição de produzi-los. No momento em que a pessoa estiver no sistema, não tenho dúvidas de que, entre outras coisas, vai ter um abatimento de custos considerável. Muitas vezes, há duplicação de procedimentos e consultas, o que não existe plano de saúde”, diz.

A médica e professora do Internato em Atenção Primária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Sandra Helena Cerrato Tibiriçá, aponta que o problema das filas de espera para cirurgias, exames e consultas na saúde pública é complexo e multifatorial. A solução requer intervenções em várias frentes, incluindo gestão eficiente, aumento de recursos, inovação tecnológica e educação em saúde.

Além da implementação de sistemas de regulação eficazes para otimizar os processos, a médica destaca a necessidade de reforçar o quadro de médicos, enfermeiros e técnicos, principalmente em áreas com maior déficit. “Também é preciso fixar esses profissionais em regiões vulneráveis e ampliar a quantidade de centros cirúrgicos conveniados, bem como laboratórios e unidades de diagnóstico. Outras formas de reduzir as filas são investimentos em manutenção e modernização de equipamentos já existentes e expansão de consultas remotas para triagem e acompanhamento, diminuindo a necessidade de deslocamento para casos menos graves, como uma utilização oportuna da telemedicina de qualidade.”

Sandra Helena completa as soluções com o desenvolvimento de sistemas integrados de prontuário eletrônico nos três níveis de atenção, com  plataformas para acesso em tempo real aos dados do paciente; ampliação dos polos regionais para exames e cirurgias de média complexidade; instrução de médicos e da população para usar o sistema de forma consciente; realização de auditorias frequentes para identificar gargalos e propor soluções específicas para diferentes regiões ou especialidades; criação de indicadores de desempenho para acompanhar o tempo médio de espera e satisfação do usuário; e planejamento do orçamento público com foco em expansão e manutenção da infraestrutura de saúde.

Atenção Primária à Saúde

Conforme dados obtidos junto à Secretaria Municipal de Saúde, a população juiz-forana é assistida em 63 Unidades, sendo 15 UBSs rurais e 48 urbanas. O município compreende cobertura de 81,54% na Atenção Primária à Saúde, um grande salto de abrangência. Sandra explica que o ideal é o número chegar a 100%, principalmente por equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF).

“Entretanto, grandes municípios enfrentam desafios específicos pela alta densidade populacional e desigualdades socioeconômica e culturais. Nesses casos, uma cobertura de 70% a 80% da população já é considerada um excelente resultado. Ou seja, mais de 81% de cobertura é algo bastante razoável. O desafio agora é aumentar o percentual para UBSs com ESF, uma vez que 20% ainda são unidades tradicionais.”

Em junho, durante evento de inauguração da UBS Jóquei Clube I, Juiz de Fora recebeu a visita da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima. Na ocasião, ela anunciou o credenciamento de 50 novas equipes de saúde da família para o município. A ampliação, de acordo com a titular da pasta, possibilitará a implementação de horário estendido em todas as UBSs da cidade.

‘Fracasso da administração pública’

Dentre as ações que compõem o plano de governo da prefeita reeleita, uma delas é concluir as obras do Hospital Regional em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), com o objetivo de ampliar a capacidade de atendimento de alta complexidade na região. Além disso, a ideia da gestão é, após a possível conclusão, transferir o HPS para o espaço.

Margarida Salomão acredita que as atuais condições do HPS levaram ao início das obras do novo Hospital Regional, que incluiriam uma nova rede de urgência e emergência. “Infelizmente, tornou-se um grande fracasso da administração pública municipal e estadual. De alguma forma, os trabalhos devem ser retomados de um modo que seja positivo para a cidade. Quando passo por ali, parece um monumento à incompetência pública. Fico profundamente constrangida”, lamenta.

A chefe do executivo municipal acrescenta, ainda, que considera a localização do Hospital Regional “horrível, por ser na beira da linha do trem”. Apesar disso, reforça que já foi feito um investimento de R$ 150 milhões. “O Estado precisa retomar as obras. Não precisa ser aquela estrutura gigantesca, podemos redimensionar o projeto. Inclusive, o Ministério Público já possui um trabalho na área e a própria Prefeitura fez um levantamento do laudo (que diz que os trabalhos não devem continuar) apresentado pelo Estado – absolutamente precário, com erros crassos. Feita uma revisão de boa fé, como sempre aposto que as pessoas irão trabalhar, considero possível instalarmos o serviço de urgência e emergência ali.”

Em novembro, a Tribuna noticiou que o HPS foi uma das unidades de saúde de Minas Gerais fiscalizadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG) para analisar a prestação de serviços. Na ocasião, foi constatado que não foi possível identificar as caixas d’água e que não há laudo de limpeza. Além disso, pacientes (internados ou não) foram encontrados no corredor. A certificação de desinsetização e desratização do estabelecimento estava vencida, e os equipamentos aguardavam manutenção, sendo que a empresa que presta os serviços de restauro fica no próprio hospital. O banheiro estava em condições precárias e havia móveis sucateados e material permanente em desuso.

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* sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

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