Inteligência Artificial desafia candidatos

O uso de tecnologias nos estudos e na educação de forma geral já não é mais tanta novidade. Mas agora foi apontada a utilização da inteligência artificial (IA) na formulação de questões do Concurso Público Nacional Unificado (CNU), o “Enem dos Concursos”.

Candidatos preencheram gabarito em prova: questionamentos sobre formulação das questões com uso de tecnologia

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Especialistas entendem que pode haver utilização da tecnologia nas provas, como uma forma de auxílio aos humanos, enquanto um professor de cursos preparatórios vê receio da utilização da IA.Uma ação popular ajuizada na 14ª Vara Federal do Distrito Federal pede a suspensão da primeira edição do concurso e a reaplicação das provas aos candidatos que disputaram as 900 vagas autorizadas para auditor-fiscal do trabalho.Um dos argumentos que sustentam o pedido é que as provas do “Enem dos Concursos” foram preparadas com ajuda de inteligência artificial, o que pode ter comprometido o desempenho de alguns candidatos, segundo a ação assinada pelo advogado João Gabriel Brito Silva, que representa candidatos que se sentiram lesados.Advogado especialista na área de Direito Público, Alexandre Amorim disse que o ponto central é, como em qualquer situação, saber fazer bom e adequado uso da ferramenta.“É sempre necessário que haja a supervisão e conferência humana, caso contrário, será possível, por exemplo, que questões produzidas integralmente por IA, sem nenhum tipo de validação do usuário, venham a apresentar textos truncados, ilógicos e mesmo falsos”, afirmou.Frederico Comério. CTO e head de IA da Intelliway, contou que não há motivos para proibição do uso de Inteligência Artificial para a formulação de questões.“Penso que a utilização de IA na elaboração de questões de concursos públicos não deveria ser proibida. Ao contrário, trata-se de uma evolução natural do processo avaliativo, uma ferramenta que, se bem empregada, pode aumentar a eficiência, a precisão e a agilidade na criação de conteúdos”, afirmou.

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Acervo pessoal

O professor da Jus Cursos José Quirino disse que há momentos que a IA também se equivoca. Segundo ele, a tecnologia pode criar falsas afirmativas e consequentemente apresentar alternativas equivocadas. Saiba mais*Inteligência artificial nos concursosA utilização da inteligência artificial (IA) em provas de concursos públicos divide opiniões.Não há motivos para proibição do uso de IA para a formulação de questões, pois é uma ferramenta para produtividade, segundo Frederico Comério, CTO e head de IA da Intelliway.Ao contrário, trata-se de uma evolução natural do processo avaliativo, uma ferramenta que, se bem empregada, pode aumentar a eficiência, a precisão e a agilidade na criação de conteúdos. Da mesma forma que o uso de computadores substituiu a elaboração manual, a IA não é o problema em si, mas sim a forma (ou falta de processos adequados) de como é implementada e supervisionada.A IA, por exemplo, é capaz de gerar as questões das provas e facilitar, até mesmo, as correções de algumas perguntas. O resultado é a agilização das seleções, explicou Gabriel Pacheco, professor de cursos preparatórios para concursos especializados em Tecnologia da Informação e Informática.Ainda, ele pontua que qualquer tipo de tecnologia de IA é fundamentada em uma base de dados prévia. Por conta disso, “a tecnologia da informação usada, com apoio na IA, pode gerar algum tipo de conteúdo errado”, ele disse. “Isso pode acontecer com as bancas de concursos públicos que, em certos momentos, podem usar o mecanismo para criar as perguntas”, complementou.Já o professor de cursinhos José Quirino disse não concordar com a utilização, por conta da possibilidade de erros em questões, seja no enunciado ou nas opções de resposta, no caso das provas objetivas.Ele acredita na chance de erros em questões envolvendo legislação e que seria necessário amadurecer essa ideia de usar a IA em concursos.PreparaçãoO uso da IA pode atuar auxiliando na produtividade e economia de tempo, segundo Alexandre Amorim, advogado de Direito Público.Estudo para concursosFerramentas de IA como ChatGPT e Bard têm sido utilizadas por candidatos para simulação de questões e até tradução de termos e temas complexos.Outra maneira é pedir para o chatbot criar um cronograma com todas as matérias que precisam ser estudadas, separando-as pelos dias que o candidato tem disponível.*Frederico Comério, Alexandre Amorim, José Quirino, Gabriel Pacheco, e Agência Estado. Uso da tecnologia no estudoA Inteligência Artificial (IA) vem sendo utilizada como uma ferramenta para impulsionar o estudo para concursos públicos, de forma mais personalizada e eficiente.As ferramentas de Inteligência Artificial, como o ChatGPT, podem ser usadas, por exemplo, para a resolução de dúvidas e teste de conhecimento através da proposição e correção de questões, segundo especialistas.Ao não fazer perguntas diretas para o robô, mas “ensiná-lo” antes, o concurseiro corre menos risco de a ferramenta se basear em fontes não confiáveis na internet.Isso é importante, inclusive, porque a base de conhecimento do ChatGPT é atualizada até um certo ponto no tempo, explicou o especialista em tecnologia Rodrigo Calado, cofundador da Gran Cursos Online. Ele também cita o uso da inteligência artificial para criar planos de estudos personalizados, considerando os objetivos do concurseiro, prazos e o volume de material a ser estudado.Alexandre Amorim, advogado especialista em Direito Público e também professor de cursos preparatórios, contou que utiliza ferramentas de IA, seja nos materiais que produz para os alunos, seja em questões a serem ofertadas como simulados de provas.
Aumento do número de recursos na JustiçaAssim como já aconteceu no Concurso Público Nacional Unificado (CNU) com a utilização da inteligência artificial (IA), poderá ter um aumento do número de recursos, segundo o professor da Jus Cursos José Quirino.“Nós podemos ter, com questão elaborada pela IA, um maior número de recursos. Se a pergunta que foi elaborada não foi perguntada de maneira correta, obviamente o gabarito vai destoar, e pode ter duplicidade de respostas”.No caso do próprio CNU, o Ministério Público Federal pediu na Justiça que sejam anuladas quatro questões. Uma delas por não apresentar entre as alternativas nenhuma que possa ser considerada correta. Já as outras teriam mais de uma resposta correta, mas não foi informado se tem relação com a IA.A IA pode criar esboços de questões, que depois são revisados por especialistas. A etapa humana garante correção e relevância ao material, mantendo rigor técnico e acadêmico, sugeriu Frederico Comério, CTO e head de IA da Intelliway.O uso de IA é cada vez mais difícil de se detectar, segundo o advogado especialista na área de Direito Público, Alexandre Amorim.“Ironicamente, existem algumas IAs cujo trabalho é mascarar textos escritos por IAs. A melhor maneira de se detectar é analisando se a questão foi elaborada com termos pouco usuais, linguagem ‘não natural’ e até levando-se em consideração questões estéticas”.

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