Brasileiros moram cada vez mais de aluguel

“O número de brasileiros vivendo em imóveis alugados é cada vez maior. Segundo os dados do Censo Demográfico 2022, 20,9% da população mora de aluguel, o que equivale a 42,2 milhões de pessoas. O Nordeste segue a tendência nacional, com uma pequena variação: 75,75% da população vive em casa própria, enquanto no Brasil a proporção é de 71,25%. 

Isso significa dizer que um em cada cinco brasileiros moram de aluguel (21%). A maioria das pessoas ainda têm casa própria, mas esse é um índice que vem apresentando queda nos últimos anos, enquanto a locação de imóveis mostra uma tendência de alta estável desde os anos 2000. 

Em 2000, 12,3% da população vivia de aluguel. Em 2010 essa proporção subiu para 16,4%, e no último censo atingiu 20,9%, o que representa mais de 50% de aumento em pouco mais de duas décadas. Já a proporção de pessoas com casa própria foi de 76,8% em 2000 para 75,2% em 2010, e agora está em 72,7%. 

O conjunto de dados do Censo 2022 que examina as condições de moradia da população brasileira foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início de dezembro, e revelou o impacto que a habitação exerce tanto para a economia familiar quanto para o valor de mercado dos imóveis, a economia das cidades e o planejamento urbano. 

Segundo o economista Cícero Carvalho, professor da Universidade Federal de Alagoas, o crescimento do imóvel alugado é um dado positivo para a macroeconomia, porque está ligado à melhora no processo de urbanização e da renda.

‘Aluguel é uma característica do meio urbano. Com mais trabalho e renda, a demanda por casas nas cidades aumenta, tanto para quem está deixando o núcleo familiar quanto para quem está mudando de cidade’, afirma. 

O impacto que o aluguel terá na renda familiar vai depender de alguns fatores. Hoje, boa parte desses alugueis se concentram nas rendas C, D e E- mas há diferentes situações. Por exemplo, segundo dados mais detalhados do IBGE, as mães solo com filhos constituem um grupo relevante entre as pessoas que buscam os imóveis alugados. Nesses casos, o aluguel faz parte da vida de grupos vulnerabilizados.

‘É um dado preocupante, porque essa mãe já está se responsabilizando sozinha pelos gastos da casa e da família, e ainda tem que comprometer parte da sua renda com um aluguel’, chama atenção o técnico do IBGE responsável pela divulgação dos dados, Bruno Perez. 

Existem casos onde as pessoas têm imóvel próprio, mas colocam para alugar, e se mudam para outra cidade, onde vão morar pagando aluguel também. Ou seja, não são apenas as pessoas em situação de vulnerabilidade que buscam imóveis temporários, embora esse seja o grupo mais expressivo. 

No Nordeste, as cidades que mais viram os contratos de aluguel aumentarem foram as capitais Natal (29,7%), e Maceió (29,3%), ambas em um movimento visível de verticalização na última década. 

Em Maceió, o economista da UFAL afirma que ao menos dois fatores foram decisivos para a alta: o crescimento do turismo e o caso Braskem. Em 2020, após os laudos que atestam o afundamento de cinco bairros da capital alagoana, ao menos 15 mil famílias tiveram de deixar as suas casas e buscar por novas moradias. E moradias imediatas, uma característica do imóvel alugado. 

‘Não havia construções na cidade para atender essa demanda repentina, o que fez o preço do metro quadrado subir, consequentemente o do aluguel também. Com a valorização, quem participa desse mercado, investiu. A cidade tinha um problema, o mercado ofereceu a solução’, explica Cícero. 

A taxa de valorização do mercado imobiliário em cada capital varia de acordo com vários fatores, como a localização, a infraestrutura e a situação da economia. Em janeiro de 2024, Maceió foi a capital com a maior valorização do m² residencial para venda, com um aumento de 15,35% em relação ao mesmo mês de 2023. 

O economista reforça que a valorização do m² puxa também os preços dos alugueis, e que o investimento no setor está em alta, uma vez que o rendimento pode ser superior ao de programas bancários, por exemplo. 

Embora o aluguel nem sempre seja uma situação desejável para muitas famílias, os dados macroeconômicos mostram que o aumento no número de pessoas morando em imóveis alugados representa, também, uma melhora geral nas condições de vida da população brasileira. 

Em cidades com Produto Interno Bruto – PIB – e renda per capita altos, como Brasília  (30,1% moram em casas alugadas), São Paulo (27,1%), Florianópolis (33,8%), a quantidade de imóveis alugados é proporcionalmente alta em relação a municípios empobrecidos, como Cocal (6,3%), no Piauí, ou Salitre, (11,7%), no Ceará. 

Como explica o economista, são nas cidades mais urbanizadas, onde muitas famílias migram em busca de melhores condições de vida, que a procura por imóvel alugado cresce. É como no exemplo dos mais jovens, que desejam sair da casa dos pais, ou casais que se casam e têm filhos. 

‘Para que esse movimento seja possível é preciso que o emprego esteja estável e a renda garantida. Por outro lado, é nessa faixa etária onde estão os menores salários, então a tendência natural é que essas pessoas não tenham a sua própria casa’, explica Bruno Perez. 

Nessa linha, o mercado imobiliário se mobiliza para oferecer imóveis alugados para pessoas mais jovens e de menor renda, e ao mesmo tempo construir para pessoas com profissão e emprego sólidos, geralmente mais velhos, com liquidez para arcar com um financiamento.” 

 
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