Por que mulheres brasileiras estão idolatrando um condenado à morte nas redes sociais?

Wade Wilson
Wade Wilson

com informações de Beatriz Gomes, do UOL

Condenado à morte pelo assassinato de duas mulheres no estado da Flórida (EUA) em 2019, Wade Wilson, de 30 anos, teve seus crimes descritos como “cruéis” pelo juiz que proferiu a sentença. Entretanto, o homem recebeu quase 4.000 mensagens de admiradoras desde junho, quando foi realizado o júri.

No TikTok, várias mulheres brasileiros já gravaram vídeos apoiando o homem e tecendo comentários elogiosos ao criminoso. “Deus, esse homem está invadindo meus pensamentos”, diz uma. “Sem defeito algum, se tiver mais lindo, desconheço”, falou outra. “Se ele soubesse o quanto está sendo amado”, observou mais uma.

Outras mulheres admitem que Wilson é um criminoso perigoso, mas não abrem mão de elogiá-lo. “Verdade seja dita, ele é um psicopata, mas o cara é elegante e sensual. Pena que não soube usar essa beleza. Como diz o ditado: belo por fora e podre por dentro”.

Algumas das brasileiras também chegam a pedir que ele não seja morto. Wilson recebeu quase 4.000 mensagens e 754 fotos de admiradoras entre junho e julho, quando um júri optou pela pena capital. Os presos podem receber mensagens por meio de uma conta monitorada.

As admiradoras também escreveram ao juiz do caso. Elas solicitaram que Wilson fosse condenado à prisão perpétua em vez da pena de morte. As remetentes seriam mulheres que têm filhos, pessoas que alegam ter conhecido o preso e também pessoas que acham que seria mais benéfico que ele continuasse vivo por acreditarem que poderia se reabilitar e se arrepender dos crimes.

Hibristofilia

Especialistas dizem que a atração por responsáveis por crimes violentos tem explicação se chama hibristofilia. Maria de Fatima Franco dos Santos, psicóloga e docente na área de psicologia forense, conta que há vários fatores determinantes para explicar como algumas pessoas idolatram até mesmo estupradores.

“Entre os fatores estão o histórico de violência, especialmente doméstica e principalmente na infância; baixa autoestima; carência afetiva; imaturidade psicológica e dependência emocional. Também são consideradas a insensibilidade ao sofrimento alheio e a naturalização da violência por alguém que a sofreu de forma tão intensa que pode ser caracterizada como tortura. Um pai pouco afetivo ou ausente também pode ser um dos motivos para essa veneração de criminosos”.

O psicólogo forense e especialista em psicologia criminal Matheus Oliveira ressalta os discursos que os próprios presos usam com as pessoas atraídas por eles. Muitas vezes, esses homens alegam que o crime não teria sido divulgado como realmente aconteceu e as mulheres acreditam. Em alguns casos, explica o especialista, elas chegam a pensar que estão seguras e protegidas por se envolverem com alguém ameaçador.

“Quanto mais notoriedade as redes sociais e a mídia trazem ao criminoso, mais eles acabam despertando a atenção dessas mulheres ou homens que apresentam essa parafilia sexual, contribuindo para surgirem cada vez mais pessoas que apresentam essa parafilia. Logicamente, muitas vezes, a questão da beleza contribui. Mas neste caso, isso é o de menos. É mais pela notoriedade mesmo que esse sujeito [Wilson] está apresentando”.

QUEM É WADE WILSON

Wilson nasceu em Fort Myers e é fruto de um relacionamento entre adolescentes. Steven Testasecca, afirmou que descobriu que seria pai quando tinha 14 ou 15 anos. Ele e a mãe de Wade decidiram colocar a criança para adoção. Candy e Steve Wilson, pessoas que frequentavam a mesma igreja dos avós maternos do bebê, adotaram o menino.

Ele cresceu na cidade de Tallahassee, na Flórida. Segundo a Newsweek, Wilson estudou todo o ensino fundamental em uma escola e depois no ensino médio estudou na “Lawton Chiles High School”. Um ex-colega, sob anonimato, disse que o jovem era “problemático”. Outro ex-colega falou que Wilson teria chegado a roubar o carro de seus pais adotivos e desaparecido por três dias ainda quando era adolescente.

ENTENDA SEUS CRIMES

Wilson, então com 25 anos, conheceu Kristine Melton, 35, e uma amiga dela, Stephanie Sailors, em 7 de outubro de 2019 em um bar na cidade de Fort Myers, na Flórida. Segundo depoimento no julgamento, o trio deixou o estabelecimento depois que ele fechou e foi até a casa de um homem, Jayson Shepard, onde ficaram por horas antes de irem embora pela manhã.

Depois, Kristine, Stephanie e Wilson foram para a casa de Kristine na cidade de Cape Coral, na Flórida. Após algum tempo, Stephanie foi embora e o homem estrangulou a dona da residência até a morte enquanto ela dormia. O homem também roubou o carro da vítima e dirigiu para encontrar sua namorada, Melissa Montanez.

Melissa se recusou a entrar no carro onde Wilson estava e foi agredida. Apesar disso, ela conseguiu fugir. Então, pouco tempo depois, o homem viu Diane Ruiz, de 43 anos, caminhando por uma rua de Cape Coral e fingiu pedir informações para ela.

Wilson atraiu Diane para o carro e tentou estrangulá-la. O criminoso ainda dirigiu até um terreno baldio e espancou e estrangulou a vítima após ela tentar fugir. Ele ainda empurrou a vítima para fora do carro e a atropelou de 10 a 20 vezes.

Após os crimes, Wilson teria ligado para o pai, Steven Testasecca, diversas vezes. O criminoso disse que havia matado duas mulheres e narrou detalhes das ações. O genitor, então, colocou o telefone no viva-voz e a mãe biológica de Wilson ouvia e repassava as informações que o homem dizia à polícia.

Pai de Wilson perguntou a localização do filho e disse que enviaria um carro por aplicativo. Porém, Testasecca informou o paradeiro do homem à polícia. Ele fugiu, mas foi preso em 8 de outubro de 2019.

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