Alinhamento solar anual de inverno é visto através de rochas de sítio milenar construído por indígenas da Amazônia


Fenômeno foi visto no ‘Parque do Solstício’ localizado do município de Calçoene, no interior do Amapá. O alinhamento do sol com as pedras que acontece duas vezes ao ano pôde ser observado de perto por turistas de dentro e fora do estado. Solstício de inverno é visto no ‘Stonehenge da Amazônia’ no município de Calçoene
No estado do Amapá, turistas de vários lugares se reuniram para apreciar a chegada do ‘Solstício de Inverno’, o fenômeno de alinhamento solar com as rochas no ‘Stonehenge da Amazônia’ ou ‘Parque do Solstício’ como é popularmente conhecido o Sítio AP-CA-18 Rêgo Grande 1, construído por indígenas habitantes da região há cerca de mil anos.
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Alinhamento solar é visto do stonehenge da Amazônia
Isadora Pereira/g1
O Solstício acontece apenas duas vezes no ano, no período do verão e inverno. No inverno, este alinhamento pode ser visto nos dias 21 ou 22 de dezembro, além disso, as noites se tornam mais longas que os dias.
Observação astronômica através das rochas
Turistas chegaram ao local ainda pela madrugada
Isadora Pereira/g1
Os turistas do Amapá partiram em uma jornada rumo ao local megalítico histórico do Amapá por volta das 5h30 da madrugada para acompanhar o nascer do sol até o principal momento do dia. Cada um conseguiu ver de perto as rochas de granito arrastadas ao local pelos povos originários.
Em seguida, às 6h20, foi possível enxergar à olho nu o alimento do sol entre duas rochas. O sol atravessa a ‘pedra do furo’, que possui um círculo em sua extensão e segue até a pedra da ponta oposta, apontando o local exato do sol no alvorecer do solstício.
Pedras alinhadas mostram posição do sol
Tom Gomes/NuPARQ
Durante a tarde do mesmo dia, a partir das 14h39, um dos blocos passa a não projetar sombras nas faces principais. A sombra concentra-se ao leste e o sol no oeste. Ao longo do ano, o sol se posiciona no sentido norte, sendo a posição ‘máxima’ no hemisfério sul.
‘Pedra do furo’ no lado direito da imagem captura passagem do sol
Isadora Pereira/g1
O Lúcio Costa Leite, gerente do centro de pesquisas arqueológicas do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), explicou ao g1 sobre o momento em que a estação é marcada.
“O solstício é o momento do ano em que o inverno marca o inverno para o hemisfério norte. Então, na região sul temos o verão e também o momento em que os dias são muito mais curtos e as noites muito mais longas. Então imaginamos que o relógio foi construído, os megálitos foram construídos como um marcador cultural”, disse.
Lúcio Costa Leite gerente do centro de pesquisas arqueológicas do Iepa
Isadora Pereira/g1
O professor de história que esteve como turista assistindo ao solstício Carlos Haussler, contou ao g1 que já tinha conhecido parque, mas nunca no período de alinhamento solar.
“Antes eu não tinha a leitura que eu tenho agora desse espaço, dessa região, que são monumentos históricos, isso é um fator que de grande valorização para o município de Calçoene”, contou o professor.
Professor visitou parque arqueológico pela segunda vez
Isadora Pereira/g1
As informações sobre o parque como observatório foram constatadas conforme uma pesquisa realizada pelo Iepa. Segundo os pesquisadores, esta era a principal função do sítio, a observação dos fenômenos astronômicos, monitorando além dos solstícios, os equinócios.
Segundo os pesquisadores, outra forma de funcionamento do parque era através de rituais religiosos e manifestações culturais e funerais de figuras importantes da época.
Engenharia Indígena
Parque do solstício no Amapá
Isadora Pereira/g1
A estrutura do sítio é formada por diversos formatos de rocha granítica que totalizam 127, fixadas em diferentes locais e composições que somam 30 metros de diâmetro. Alguns dos blocos apresentam desgastes e lascamentos nas bordas.
Rochas do ‘Stonehenge da Amazônia’ apresentam desgaste
Isadora Pereira/g1
O pesquisador Lúcio contou ainda que o mais fascinante é o posicionamento das rochas que possuem cerca de 4 toneladas chegando a alcançar 2 metros e meio de altura, que estão perfeitamente alinhadas no topo de uma pequena colina, o que evidencia um esforço coletivo devido a ausência de qualquer máquina ou tecnologia.
“Temos cerca de quatro dúzias de sítios formados com esses blocos de rocha. Esta é uma proporção maior. Então, uma das questões da pesquisa foi a origem desses blocos de rocha. E um dos testes que fizemos foi descer o rio procurando por esses locais de oficina. Encontramos uma área que pode estar relacionada a isso, há uns 7 quilômetros daqui (parque do solstício). Então vimos que tem umas marcas de fogo, uns blocos destacados pela dilatação, que provavelmente foram trazidos pelo rio e depois subiram até essa pequena colina e foram colocados aqui nesse espaço”, disse Lúcio.
O pesquisador disse ainda que a etnia dos indígenas habitantes da região está sendo estudada com base nos materiais utilizados. Lúcio esteve à frente como guia turístico na data, explicando aos turistas a criação, propósito e funcionamento do observatório em meio a Amazônia.
Turistas chegaram ao local ainda pela madrugada
Isadora Pereira/g1
“Nós temos esses fenômenos expressos nas rochas e também nos materiais arqueológicos que foram escavados pela nossa equipe em diferentes épocas e que hoje fazem parte da reserva arqueológica”, complementou o gerente sobre as pesquisas.
Visita ao passado amapaense
Os materiais coletados ou preservados no local são protegidos por lei. É proibida a destruição e venda. Por se tratar de peças históricas preservadas, apenas instituições autorizadas podem levá-las à público.
As coleções guardadas em questão se tratam de diversas cerâmicas, instrumentos de pedra, peças decoradas e outros e estão sob reparos do NuPArq, para estudos e visitação.
O NuPArq informou que os achados em Calçoene possuem características próprias e uma “assinatura própria”. As peças consistem em poços funerários com câmaras laterais em formato de bota com placas de granito como se fosse um mausoléu.
Sítio AP-CA-18 (Rêgo Grande 1) em Calçoene, no Amapá
NuPArq/Divulgação
Uma das visitantes, a bibliotecária Marília Shibayama contou que o local é mais um para sua lista de culturas conhecidas.
“Eu adoro conhecer a cultura, conheço várias culturas do nosso Brasil, mas aqui no Amapá, até a questão do acesso é difícil. Estamos aproveitando essa oportunidade do dia do solstício. Aqui a gente tem a questão da cultura, da história. E tudo feito aqui foi pensado”, disse.
Marília Shibayama conheceu o parque pela primeirra vez
Isadora Pereira/g1
O local é aberto á visitas apenas em ocasiões especiais como a chegada do solstício, ou com a solicitação prévia para a autorização de um rápido acesso.
“A gente tem um processo de entendimento dos impactos da visita aqui, a gente está no momento de construção de um projeto base, a gente foi selecionado recentemente no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) patrimonial do governo federal, e a gente está no momento da formulação desse projeto. A ideia é que nos próximos anos, possamos abrir esse lugar ao público, já é um espaço aberto ao público, mas ainda controlado, com a solicitação feita diretamente ao centro de pesquisa, porque tendemos a controlar o público para que não haja um impacto maior nos blocos e que não haja nenhum tipo de vandalismo”, completou o pesquisador Lúcio.
Além disso, existe um fenômeno chamado de megalitismo amazônico ou megalitismo atlântico, onde há a ocorrência de 40 sítios do conhecimento do Iepa, inclusive ao longo de toda extensão do Amapá. O próximo solstício a acontecer é o de verão, em que os dias são mais longos, que acontece entre os dias 20 e 22 junho.
Parque do solstício é localizado no município de Calçoene, no interior do Amapá
Isadora Pereira/g1
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O sítio construído por indígenas há mais de mil anos para observações astronômicas na Amazônia
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