Grupo Boca Livre junta requinte vocal e apuro instrumental ao seguir a própria correnteza no show ‘Rasgamundo’


Boca Livre apresenta o show ‘Rasgamundo’ na Arena Jockey
Digimakki / Divulgação Arena Jockey
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Rasgamundo
Artista: Boca Livre
Data e local: 20 de dezembro de 2024 na Arena Jockey (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Quarteto reconhecido pela combinação extremamente harmônica das vozes, o grupo Boca Livre também merece ser notabilizado pelo apuro instrumental. Tal requinte ficou evidente desde o primeiro número, Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1977), do roteiro do show Rasgamundo, apresentado por David Tygel (voz e viola caipira), Lourenço Baeta (voz, flauta e ukelele), Mauricio Maestro (voz e baixo) e Zé Renato (voz e violão) na Arena Jockey na noite de sexta-feira, 20 de dezembro.
Caxangá é música das Geraes abordada pelo Boca Livre no mesmo álbum, Dançando pela sombras (1992), de cujo repertório o grupo pescou outra pérola mineira, Cruzada (Tavinho Moura e Marcio Borges, 1978), para o roteiro do show Rasgamundo.
Com o reforço do pianista João Carlos Coutinho e do ritmista Marcelo Costa, o quarteto contentou a plateia que assistiu a volta do show Rasgamundo à cidade do Rio de Janeiro (RJ), em versão reduzida a uma hora porque a noite foi dividida pelo grupo com o cantor Nando Reis.
Seguindo a correnteza da própria história iniciada em 1978, o Boca Livre abarcou Caravana (Geraldo Azevedo e Alceu Valença, 1975) – canção que gravou em disco ao vivo editado em 2007 – e resgatou intrincada canção dos primórdios do quarteto, Feito mistério, parceria de Lourenço Baeta com Cacaso (1944 – 1987).
Na costura do show Rasgamundo, Feito mistério apareceu lado a lado com Mistérios (Mauricio Maestro e Joyce Moreno, 1978), canção lançada por Milton Nascimento em gravação feita com o próprio Boca Livre para o álbum Clube da Esquina 2 (1978).
Parceria de Zé Renato com Nando Reis que marcou o retorno do grupo à cena no segundo semestre do ano passado, em single que anunciou a vontade do grupo de fazer o álbum que viria a ser gravado no início deste ano de 2024 e lançado em maio com o título de Rasgamundo, Rio Grande (2023) deixou boa impressão no show sem atingir a perfeição do registro fonográfico.
Amor de índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1978) se aproximou mais da gravação do álbum Viola de bem querer (2019). Já Benefício (Zé Renato e Hamilton Vaz Pereira, 1987) foi cantada no embalo da recém-lançada releitura da canção pelo grupo em gravação com o ator Gabriel Leone.
Perceptível sobretudo no toque do piano de João Carlos Coutinho, o eventual acento jazzístico do show ficou evidenciado na abordagem de Pedro Navaja (1978), tema do compositor panamenho Rubén Blades que fechou o álbum do Boca Livre com Blades – Pasieros, gravado em 2011 e lançado somente em 2022, quando o quarteto estava em modo pausa por divergências políticas – em gravação que mixou o balanço da salsa com a cadência do samba.
Parceria de Dori Caymmi com Paulo César Pinheiro gravada pelo grupo no álbum Folia (1981), Desenredo (1976) foi número sedutor em que os quatro vocalistas e músicos ficaram a sós no palco com violões e viola, além das vozes arranjadas por Maurício Maestro.
Ao fim, essas vozes se uniram – como esperado – para seguir Toada (Na direção do dia) (Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho, 1978) e cantar Quem tem a viola (Zé Renato, Claudio Nucci, Juca Filho e Xico Chaves, 1979) para alegria do público. É sempre prazeroso se deixar levar pela correnteza do Boca Livre.
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