UFRN realiza jornada de conhecimento em terapia com psicodélicos

Você certamente tem ou conhece alguém que sofre com problemas de saúde mental. Pioneira nesta área, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) iniciou sábado (17) sua primeira Jornada de conhecimento em terapia com psicodélicos para saúde mental. O evento marcou um importante passo para desmistificar o uso terapêutico dessas substâncias, separando-o do estigma associado ao uso recreativo. Esse campo de pesquisa revela o protagonismo do Rio Grande do Norte na revolução da saúde mental.

A jornada tem como objetivo central expandir o conhecimento sobre terapias com psicodélicos, com uma abordagem educacional flexível. O curso é dividido em três módulos: o primeiro, aberto a todos os interessados, visa diminuir o preconceito e quebrar barreiras sobre o tema. Segundo a coordenadora, professora Nicole Galvão, vão participar pessoas de diversos segmentos: desde psiquiatras até pacientes e seus familiares.

“O conhecimento sobre essas terapias é essencial para capitalizar o poder transformador dessas substâncias”, pontua a docente.

Os outros dois módulos do curso são voltados para profissionais de saúde e psicologia, focando no treinamento prático e acadêmico para a aplicação dessas substâncias no ambiente clínico.

“Estamos no início de uma revolução na saúde mental. Para que ela aconteça, é necessário que o conhecimento saia do meio acadêmico e chegue à população“, ressalta Nicole Galvão.

Da tradição ao laboratório: a ciência redescobre os psicodélicos

O uso terapêutico de substâncias psicodélicas, como a cannabis, DMT (dimetiltriptamina), ibogaína, mescalina e cetamina, está ganhando espaço no tratamento de transtornos mentais e dependências químicas. Historicamente utilizadas em rituais indígenas, essas substâncias são agora estudadas pela ciência moderna por suas promissoras capacidades de tratar condições como transtorno pós-traumático, depressão, ansiedade e dependência de substâncias.

A professora Nicole Galvão ressalta que o uso recreativo e o terapêutico são completamente diferentes.

“No ambiente clínico, há todo um suporte psicológico, uma preparação do espaço e do paciente, e um manejo cuidadoso dos possíveis riscos associados, como os efeitos no sistema cardiovascular e na pressão arterial“, disse.

Ela também explica que, ao contrário do consumo em festas ou eventos recreativos, onde o ambiente é inadequado, passando a ser apenas estímulos sensoriais, o uso terapêutico é introspectivo, ajudando os pacientes a trabalharem suas questões emocionais, conectando-se a si mesmos.

Outro ponto relevante que diferencia as substâncias no uso clínico é a pureza. “No uso recreativo elas não são puras, envolve um risco enorme, e não será terapêutico. Hoje em dia não consideramos apenas substância: existe um cuidado profissional, um suporte psicológico, o setting, a preparação e vários outros fatores”, acrescente a docente.

Os psicodélicos, que são substâncias que induzem estados alterados de consciência, já estão sendo testados no Centro Avançado de Medicina Psicodélica (CAMP) da UFRN, que é referência nacional e internacional nas pesquisas sobre o tema. “Nosso centro é pioneiro no Brasil e referência mundial. Ao longo de quase duas décadas, temos feito vários estudos pioneiros, que obtiveram destaque mundial, e queremos dar acesso a todos. Estamos comprometidos em oferecer uma abordagem científica e segura para o tratamento da saúde mental”, afirma Galvão.

O futuro das terapias com psicodélicos

O objetivo da Jornada é não apenas compartilhar conhecimento, mas também encontrar formas de tornar essas terapias acessíveis à população em geral. O CAMP já aplica tratamentos com psicodélicos no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com uma taxa de resposta positiva de aproximadamente 60% nos pacientes, inclusive nos que não apresentam melhora com os medicamentos tradicionais. “Temos uma população resistente, uma alta prevalência das patologias de ordem emocional e o crescimento exponencial do sofrimento mental. As terapias com psicodélicos podem ajudar a aliviar esse sofrimento “

A professora Nicole Galvão ressalta que o desafio agora é reduzir os custos desses tratamentos, especialmente em um país como o Brasil, onde o acesso a cuidados de saúde mental ainda é limitado. “Estamos em busca de alternativas para que esses tratamentos possam ser incorporados de forma viável ao SUS”, conclui.

Com mais de 30 professores, incluindo especialistas internacionais, a Jornada de Conhecimento em Terapia com Psicodélicos da UFRN terá a duração de nove meses, e promete avançar na compreensão dessas substâncias e no seu uso seguro e eficaz no tratamento de transtornos mentais graves, colocando o Rio Grande do Norte na vanguarda dessa revolução científica.

Para saber mais sobre a Jornada e o Camp, acesse o Instagram @camp.educ ou site camp-sci.com.

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