Após ataque de onça PMA faz fiscalização e ação educativa para combater ceva no Pantanal


Ações da Polícia Militar Ambiental ocorrem durante a semana na região do Rio Miranda em Corumbá (MS), orientando moradores, turistas, pescadores e ribeirinhos. Policiais fazem patrulhamento na região do Passo do Lontra, em Corumbá (MS)
Divulgação/PMA
Após o ataque de onça que vitimou o caseiro Jorge Avalo, 60 anos, em um pesqueiro no Pantanal sul-mato-grossense, a Polícia Militar Ambiental (PMA) passou a intensificar as ações educativas e de fiscalização contra a prática da ceva de animais.
Os policiais iniciaram ações terrestres ao longo da rodovia MS-181, rota importante de acesso à região do Passo do Lontra, em Corumbá (MS), proximidade do Rio Miranda.
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Segundo a PMA, as equipes estão realizando abordagens e orientações aos condutores e moradores locais, reforçando a importância da preservação ambiental e alertando sobre os crimes relacionados à prática da ceva.
“A MS-181 é uma via estratégica, e o trabalho educativo e preventivo da PMA contribui diretamente para coibir infrações e garantir a proteção da fauna silvestre na região do Pantanal”, informa a PMA.
Durante os últimos dias foram realizados inúmeros patrulhamentos fluviais, com diversas abordagens e orientações a pescadores e ribeirinhos.
Conforme informado pela PMA, a atuação da polícia ocorre de forma preventiva para promover a conscientização ambiental e já teve resultados positivos.
Cevar animais, ou seja, oferecer alimentos a animais silvestres é crime ambiental. Normalmente ocorre de fora intencional e contínua com o objetivo de atraí-los, para caça, pesca ou simples aproximação. Ainda segundo divulgado pela polícia, a prática altera o comportamento natural da fauna, gera dependência alimentar e desequilibra o ecossistema local, além de se enquadrar como forma de utilização indevida da fauna, porque interfere no ciclo de vida, favorecendo a captura e aproximando os animais de áreas de risco, como regiões urbanizadas ou com presença constante de humanos.
“Além disso, cevar é uma ameaça silenciosa: pode provocar desequilíbrios populacionais, aumentar conflitos entre espécies e trazer riscos à saúde humana e animal”.
Jorge Avalo e a onça macho capturada, no Pantanal de MS
Reprodução
Ataque de caseiro
A prática de ceva é apontada como “comum” na região em que o caseiro foi encontrado morto após ser atacado por uma onça, no Pantanal. O caso aconteceu em Aquidauana no dia 21 de abril (segunda-feira).
A Polícia Militar Ambiental confirmou a morte ao encontrar pegadas do felino junto a pedaços do corpo do homem, que trabalhava como caseiro em um pesqueiro no dia seguinte.
Uma onça foi capturada após o ataque, porém não há confirmação de que ela teria atacado a vítima.
Após três semanas de tratamento, sob cuidados veterinários, o animal, um macho, de 94 quilos, ganhou 13 kg e foi transferido para um mantenedor de fauna no Instituto Ampara Animal, em São Paulo.
“Ceva”: Crime ambiental
Ouvido pelo g1, o coordenador do Programa de Conservação da Panthera no Brasil, Fernando Tortato, alerta que a prática da ceva pode aumentar o risco de ataques, ao fazer com que animais silvestres percam o medo natural do ser humano e passem a associá-lo à oferta de alimento — comportamento que pode ter causado o ataque ao pantaneiro Jorge.
“Ao condicionar o animal à presença humana, ele perde esse medo natural que uma onça tem do ser humano, e isso não deve ser encarado como normal. E o pior dessa questão da ceva é que ela passa a associar o ser humano com alimento. Então, além de você condicionar o animal a ficar transitando ambientes do homem de maneira tranquila, ele também condiciona com a alimentação”.
O professor e pesquisador Gediendson Araújo, especialista em animais de grande porte, pontua que o ataque de felinos a seres humanos é raríssimo e pode estar relacionado a presença e aceitação de um animal silvestre à presença de humanos. “O animal perdeu o medo de ver o homem como um predador, e acabou tendo essa situação com esse desfecho. Então a coisa é incomum de acontecer, são poucos os relatos, e é uma pena que teve uma perda humana”, disse Araújo.
Para o tenente Alexandre Saraiva Gonçalves, comandante do pelotão de Porto Murtinho da PMA, a convivência de animais silvestres com humanos – e a alimentação oferecida para a onça, é um ponto de atenção na morte de Jorge. “A ceva é uma ação proibida na legislação estadual e federal”.
Onça-pintada fotografada por André Bittar no Pantanal.
Arquivo pessoal/André Bittar
‘Espetacularização da fauna’
Fernando Tortato reitera que os animais estão sendo ‘cevados’, ou seja, alimentados com frequência por pessoas para fins turísticos — uma prática criminosa que traz riscos tanto para os humanos quanto para os próprios animais. O especialista chama a atenção para os riscos da “espetacularização da fauna”, impulsionada pela busca por fotos e vídeos com animais silvestres.
“A gente está em um mundo muito atento às mídias sociais, a essa espetacularização da fauna, onde você vê um animal muito perto e faz vídeos. As pessoas querem registrar momentos impressionantes, como interações de perto com animais selvagens, mas esse tipo de comportamento leva a riscos desnecessários”, alerta.
O biólogo destaca a importância de entender que todo animal silvestre representa risco, justamente por ser selvagem e não domesticado. “Não se trata de um pet ou de um animal doméstico. É essencial ter esse cuidado, porque muitas vezes só se pensa nas consequências depois que um acidente acontece”, ressalta.
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