“Governadora deu autonomia às forças de segurança do RN”, diz titular da Sesed

O Atlas da Violência 2025, divulgado essa semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revelou que a taxa de homicídios no Rio Grande do Norte taxa caiu 18,8% entre 2022 e 2023. A média despencou de 32,5 para 26,4 mortes para cada 100 mil habitantes. Foi, segundo o estudo, a maior redução no período entre todos os 26 estados e o Distrito Federal do país . Em entrevista exclusiva à Agência Saiba Mais, o titular da Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), coronel Francisco Araújo, contou como a área, que era uma vidraça nas gestões anteriores, se transformou na grande vitrine do governo Fátima Bezerra (PT).

A governadora nos deu autonomia operacional, integramos as forças de segurança, investimos em infraestrutura e inteligência, aumentamos o efetivo policial, valorizamos as nossas polícias com as promoções e pactuamos com o governo federal, principalmente agora no governo Lula, os convênios que nos deram as condições de implantar as ações previstas em nosso planejamento estratégico”, resumiu o secretário.

Os dados do Atlas da Violência também mostraram que, em números absolutos, o recuo dos casos de homicídio no RN foi de 18,2%, passando de 1.167 homicídios, em 2022, para 955, em 2023.

Desde o início da série histórica em 2013, foi a primeira vez que o estado registrou menos de mil homicídios em um ano. Nesse período, o pico de violência foi em 2017, quando o número de assassinatos chegou a 2.203.

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Não por acaso, foi nesse mesmo ano que ocorreu a rebelião mais violenta da história do sistema prisional do Rio Grande do Norte, provocada pela disputa de duas facções criminosas na Penitenciária de Alcaçuz, no município de Nísia Floresta, que ficou conhecida como “Massacre de Alcaçuz”.

Iniciada em 14 de janeiro de 2017, a rebelião terminou no dia seguinte com a morte de 26 detentos, em condições de extrema brutalidade. Na época, a penitenciária abrigava 1.150 presos, mas sua capacidade era para apenas 620.

Em 2018, último ano da gestão do ex-governador e atual deputado federal Robinson Faria (PL), o número de homicídios caiu, mas ainda estava em um patamar considerado elevado para um estado pequeno como o Rio Grande do Norte: 1.825.

Esse quadro dá uma dimensão do tamanho do desafio assumido pelo Coronel Araújo ao aceitar o convite para comandar a Sesed da recém-eleita governadora Fátima Bezerra em 2018.

“Quando a governadora nos convidou para o desafio da segurança pública em 2018, nós sabíamos o quanto seria difícil, porque realmente todo os índices de criminalidade e violência do Rio Grande do Norte eram muito negativos, não só o número de homicídios, mas também outros delitos, como furto, roubo, explosão de caixa eletrônica, assalto a banco, crimes contra a pessoa e contra o patrimônio”, relatou.

Mas não foram só os dados de mortes violentas que caíram no Estado potiguar. As ações da secretaria de Segurança Pública também derrubaram o número de assaltos e de furtos e roubos de celulares e veículos.

A governadora só quer resultados”, diz secretário

Governa “não intefere”, mas cobra resultados, conta secretário. Foto: Pedro Henrique/Sesed

O secretário afirmou que, ao convidá-lo, Fátima lhe perguntou o que uma governadora deveria fazer para apoiar a segurança pública. A resposta dele foi direta: “Não atrapalhar a gente”.

“Quando digo não atrapalhar, estou falando de não interferir, dar autonomia de trabalho à segurança pública. Então, o primeiro fato positivo do governo dela foi justamente esse, não teve interferência no trabalho dos gestores da segurança pública”, comentou.

No cargo desde o início do primeiro mandato da governadora Fátima Bezerra, o secretário assegurou que ela nunca interferiu na Sesed. “Ela só quer resultados, que é o que nós estamos entregando”, gabou-se.

Ideologia não pode atrapalhar segurança pública”, prega titular da Sesed

Foto: Pedro Henrique/Sesed

Coronel da Reserva da Polícia Militar, nascido em 1964, ano do golpe que deu início à ditadura brasileira, o secretário disse que alertou à então governadora eleita que “a ideologia não pode atrapalhar a segurança pública”.

Ele se referia ao fato de que, pela primeira vez em sua história, o estado seria governado por um partido de esquerda, a partir de janeiro de 2019.

Coronel Araújo também ponderou que, se no plano local teríamos uma gestão de esquerda, nacionalmente o governo que assumia era declaradamente de direita, que mais tarde se revelaria de extrema-direita, com um presidente rodeado de generais.

A gente precisava ter um diálogo franco lá em Brasília, porque senão nós não iríamos a lugar nenhum. O que a governadora disse foi: ‘faça o seu trabalho em defesa do Rio Grande do Norte’”, disse.

Na segurança, Bolsonaro não criou “nenhum obstáculo” ao RN, disse secretário

O secretário considera que, por ser militar, conseguiu driblar as resistências do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contra a gestão do PT no Rio Grande do Norte. Ele asseverou que, pelo menos na área da segurança pública, “não houve nenhum obstáculo”.

“O então vice-presidente, General Mourão, tomou café com a governadora aqui na Escola de Governo. Ele garantiu a ela a liberação de recursos que já estavam empenhados [para a segurança pública]. Quando eu fui lá em Brasília, eu disse a ele que o governo federal não poderia discriminar o Rio Grande do Norte por ser governado pelo PT, porque se fizessem isso, nós iríamos dizer em todos os jornais”, contou.

Araújo também revelou que, durante a primeira reunião com todos os secretários de segurança do país em Brasília (DF), o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, asseverou que trataria os estados de “forma republicana” e olharia “com bons olhos” para todas as unidades federadas.

Diante dos seus colegas, o secretário disse que pediu um “aparte” ao então ministro para dizer que não queria que ele olhasse “com bons olhos” para o Rio Grande do Norte, mas sim com “ótimos olhos”, porque “ótimo é melhor que bom”.

Moro, segundo Araújo, era “muito fechado”, tanto que nem os aliados de Bolsonaro tinham muito acesso a ele. A intervenção do secretário durante a reunião, no entanto, foi suficiente para “quebrar o gelo”.

Depois disso, ainda segundo o secretário, “as portas se abriram” em Brasília. Tanto que, em outubro de 2020, foi assinado o termo de compra de um novo helicóptero, ao custo de R$ 28 milhões, para reforçar o trabalho das forças de segurança do Rio Grande do Norte.

A maior parte desse valor veio da União, através do Ministério da Justiça, à época sob o comando de Sérgio Moro. O Governo do Estado entrou com uma contrapartida de R$ 7 milhões.

O helicóptero é o mesmo cedido pela governadora Fátima Bezerra para socorrer Bolsonaro, no dia 11 de abril desse ano, quando ele precisou ser transferido às pressas de Santa Cruz para Natal após passar mal quando estava a caminho da região Seridó.

Parceira melhorou com governo Lula

Após onda de ataques em março de 2023, o então ministro das Justiça, Flávio Dino, veio a Natal anunciar R$ 100 milhões para reforçar segurança pública no RN. Foto: Elisa Elsie

Quando veio o governo do presidente Lula, a parceria melhorou, garantiu o secretário, facilitada pelo alinhamento político com a governadora Fátima Bezerra.

Esse apoio foi fundamental para que o governo estadual superasse o seu maior desafio na segurança pública: a série de ataques em vários municípios potiguares, ordenados de dentro da prisão por chefes de uma facção criminosa, iniciados na madrugada de 14 de março de 2023.

Imediatamente, o então ministro da Justiça Flávio Dino, atualmente no Supremo Tribunal Federal (STF), veio ao estado anunciar a liberação de R$ 100 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública para reforçar o combate ao crime no Rio Grande do Norte.

“Dino ajudou demais”, exaltou o secretário, admitindo que aquela foi a maior crise que enfrentou desde que havia assumido a Sesed.

O apoio financeiro do governo federal deu ao governo estadual as condições para enfrentar a crise, estabilizar a situação e investir em infraestrutura, compra de equipamentos e renovação de toda a frota da segurança pública do RN.

Aumento do efetivo das forças de segurança

Governadora Fátima Bezerra durante anúncio da convocação de 464 soldados da Polícia Militar. Foto: Sandro Menezes

Araújo citou que, além dos investimentos em infraestrutura, outro fator que ajudou a chegar aos resultados positivos na segurança pública foi a decisão da governadora Fátima Bezerra de autorizar os concursos para aumentar o efetivo das forças de segurança.

Desde 2019, foram realizados nove concursos, repondo nos quadros da segurança pública pelo menos 4.600 novos policiais militares, policiais civis, bombeiros militares, peritos e servidores para o ITEP, incluindo também novos policiais penais.

Em novembro de 2020, depois de 15 anos sem concurso público para a contratação de pessoal, o governo estadual efetivou 1.022 novos soldados da Polícia Militar no RN. O último certame para ampliação do efetivo havia sido feito em 2005.

Já em fevereiro desse ano, a governadora anunciou a convocação de 464 soldados da Polícia Militar, aprovados no concurso realizado pelo Governo do Estado em 2023, que farão parte da segunda turma do Curso de Formação de Praças (CFP).

Depois dos concursos, segundo o titular da Sesed, o efetivo da PM passou de 7 mil para 9 mil profissionais. A Polícia Civil foi de pouco mais de 900 servidores para cerca de 1.800. Já o Corpo de Bombeiros incorporou cerca de 200 novos quadros à corporação.

Valorização profissional

O titular da Sesed afirmou, ainda, que as quase 17 mil promoções na Polícia Militar, autorizadas pela governadora desde 2019, também foram determinantes para “motivar” aqueles trabalhadores que estão na linha de frente do combate à criminalidade e à violência.

“Além de autorizar a incorporação do efetivo, a governadora atendeu ao pleito de todas as categorias nas negociações de melhoria salarial e de ascensão profissional. Os soldados trabalhavam frustrados, porque não tinham nenhuma perspectiva de progressão funcional, mas a partir do momento em que isso mudou, melhorou até o nível dos servidores que entraram na segurança pública, todos com curso superior, porque passou a ter valorização”, explicou.

De acordo com o secretário, a valorização, representada pelas promoções da corporação, teve reflexos até na disciplina, na hierarquia e na redução dos “excessos” cometidos pelos policiais militares.

“O policial ficou mais cidadão, os excessos diminuíram, porque ele tem uma carreira, tem uma progressão. Os concursos públicos, as promoções e o pagamento em dia dos salários fortaleceu muito institucionalmente”, analisou.

Inteligência

O secretário também citou os investimentos feitos na área de inteligência, como a compra de softwares para melhorar a capacidade de investigação da Polícia Civil e do ITEP.

“Nós já desvendamos coisas aqui que, em épocas anteriores, era impossível. Graças à inteligência, a esses equipamentos que foram adquiridos e estão sendo usados, além das pessoas que estão sendo treinadas e qualificadas para operar esses equipamentos”, disse.

Esses investimentos, segundo o secretário, refletiram no aumento do número de operações e prisões realizadas pela Polícia Civil.

“Isso só é possível porque, hoje, a instituição tem capacidade técnica e infraestrutura para fazer, que antes não tinha. Isso é uma realidade”, completou.

Integração

A integração das forças de segurança, segundo o secretário, também foi essencial para que o estado conseguisse melhorar seus índices de criminalidade e violência.

Esse processo de integração envolveu, relatou o secretário, não só as forças de segurança do Governo do Estado (Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Penal, Corpo de Bombeiros e ITEP), mas também a Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN).

O diálogo com essas outras instituições permitiu, por exemplo, a realização de operações conjuntas de combate ao crime organizado.

Para secretário, vaidade atrapalha a segurança pública

O desafio de promover essa integração é diário, admitiu o secretário. Araújo disse acreditar que um dos grandes inimigos da segurança pública é a vaidade.

“Todos os dias, eu luto aqui para diminuir a vaidade. A vaidade do policial civil, do policial militar, do bombeiro, do servidor do ITEP, porque quando as instituições têm muita vaidade, atrapalha o serviço”, refletiu.

Ele foi enfático ao dizer que foram “as forças de segurança” como um todo, não uma instituição unicamente, que reduziram a criminalidade e a violência no Rio Grande do Norte.

O secretário dividiu o reconhecimento até com a Secretaria estadual da Fazenda (Sefaz), que apoiou o trabalho de combate aos crimes fiscais.

Na última semana, para citar um exemplo recente dessa colaboração, policias da Delegacia Especializada na Investigação de Crimes contra a Ordem Tributária (DEICOT), em parceria com o ITEP e a Sefaz, realizaram uma operação que desmontou um esquema de fraudes em contratos com escolas das redes estadual e municipal da Grande Natal.

Número de assaltos e de furtos e roubos de celulares e veículos também caiu

Foto: Sandro Menezes

Araújo fez questão de destacar que não foram só os homicídios que caíram no Rio Grande do Norte. O secretário citou que os índices melhoraram em todas as áreas da segurança pública.

“Diminuímos os índices de furto e roubo de celulares e veículos, além da redução do número de assaltos”, enumerou, citando os dados do primeiro quadrimestre de 2025, em comparação ao mesmo período de 2024.

De acordo com os dados da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análises Criminais (COINE) da Sesed, no referido período, o número de celulares furtados caiu 9,6%, enquanto os roubos desses aparelhos recuaram 28,6%.

Em números absolutos, os casos de furto caíram de 2.156 para 1.950, enquanto as ocorrências de roubos passaram de 2.846 para 2.031.

No mesmo período, houve redução também dos casos de furtos e roubos de veículos. Comparando com o primeiro quadrimestre de 2024, houve redução de 14,2% no total de furtos e uma diminuição ainda maior no total de roubos: 27,8%.

Em números absolutos, os casos de furto caíram de 754 para 647 ocorrências no período. Já as ocorrências de roubo passaram de 935 para 675.

O número de assaltos também registrou queda no período. Houve redução de 21,7% no total de roubos a residências, 29,3% nos crimes em via pública e 34,9% nos assaltos a estabelecimentos comerciais.

Levando em consideração os números absolutos, os crimes em via pública caíram de 2.765 para 1.956, os assaltos a residências de 267 para 209 e os roubos a lojas e pontos comerciais de 281 para 183.

Índices também caíram em 2024, garante secretário

Francisco Araújo, o mais longevo dos secretários de Segurança do Rio Grande do Norte, anunciou que os índices de criminalidade e violência no estado também caíram em 2024.

Os dados, segundo ele, já foram tabulados pelo Atlas da Violência, mas ainda não há previsão de quando os números serão divulgados pelo IPEA.

O secretário, no entanto, disse que “os dados de 2024 virão melhores que os de 2023”, indicando uma possível redução no número de homicídios.

“O que podemos dizer é que há um esforço continuado para reduzirmos o número de homicídios. Em 2024, conseguimos a maior redução dos últimos 15 anos no Rio Grande do Norte, mas os dados serão divulgados em breve”, adiantou.

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