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Segundo Paraná, a situação se agravou após a moratória de 2016, que tentou conter a proliferação de faculdades sem critérios adequados, mas teve efeito contrário.“A famosa moratória de 2016 foi uma das atitudes mais covardes que já vi. Não deu outra: judicializações ocorreram e foi quando mais cresceu o número de escolas médicas, mas desta vez sem nenhum regulatório. Porque era por judicialização, as pessoas faziam como queriam”, afirma.Médicos sem residênciaA consequência, afirma o hepatologista, é a entrada no mercado de milhares de profissionais sem a devida qualificação.“Nós estamos agora observando uma situação caótica, onde a Medicina está colocada em jogo em sua credibilidade, o que é muito ruim. Você despeja no mercado milhares de médicos, sem ter vaga para residência, que seria o último passo para cobrir as lacunas do curso. Só tem 30% das vagas de residência, obviamente 70% não consegue alcançar a pontuação para entrar”, explica.Dr. Paraná pontua que, sem formação complementar, muitos desses médicos buscam alternativas rápidas para ganhar dinheiro e assim acabam nas redes sociais. Ele critica o pior defeito da globalização da internet: a transformação das redes em espaço de desinformação, inclusive na área da saúde.“Mentir não é liberdade de expressão, mentir é feio, é ruim, é desonesto. Mentir para ganhar dinheiro às custas de pessoas de boa fé é crime, o nome disso é estelionato. Isso não tem nada a ver com liberdade de expressão”, ressalta.“As redes sociais trouxeram outro fenômeno que é mortal: são muito boas para o espalhador de fake news, que sabe que vai adoecer a pessoa depois. O que ocorre é que as pessoas se tornaram superficiais. O bombardeio de informações é tão grande que ninguém quer saber da fonte, do tema, ninguém quer se aprofundar”, completa.O fim da inspiraçãoA superficialidade não contamina apenas o público, mas também os próprios profissionais de saúde, que passam a investir mais em sua imagem do que em conteúdo. Para Paraná, isso destrói um pilar essencial da formação médica, que é o exemplo.“A medicina sem paradigmas é um caminho aberto para uma medicina desumanizada e sem controle. São aquelas pessoas que matam sua formação e servem como molde. Isso está acabando com esse tipo de ensino que a gente tem. Não tem mais paradigma, que é aquele indivíduo que você olha e diz: ‘esse cara é diferente’, ‘esse é um professor de fato’, ‘quero me espelhar nele’. É uma crise de princípios sem precedentes”, conclui.Ele ainda destaca o que tem moldado os tempos atuais: “Ganhar dinheiro não respeita nenhum princípio”.