Freira brasileira perde cargo de madre-abadessa por ser “bonita demais”

freira brasileira bonita demais
Aline e Francisco

Felipe Borges, para o Pragmatismo

Poucos dias após a morte do papa Francisco e da eleição do novo pontífice Leão XIV, uma freira brasileira perdeu o cargo de madre-abadessa de um dos mais antigos mosteiros da Itália. Aline Pereira Ghammachi, natural do Amapá, afirma ter sido alvo de uma decisão arbitrária, marcada por machismo e xenofobia. Seu afastamento desencadeou a saída em massa de outras religiosas e levantou questionamentos sobre os bastidores do poder eclesiástico.

Aline liderava desde 2018 o Mosteiro San Giacomo di Veglia, nos arredores de Veneza, onde vivia com cerca de 20 freiras. Aos 33 anos, tornou-se a madre-abadessa mais jovem da Itália. Formada em administração de empresas, trocou o mercado pela fé e atuou como tradutora de documentos sigilosos da Igreja, além de intérprete em eventos religiosos internacionais.

Sob sua liderança, o convento passou a abrir as portas para a comunidade local. As religiosas criaram projetos voltados ao acolhimento de mulheres vítimas de violência, ao apoio de pessoas com autismo e à produção de prosecco por meio do cultivo de uvas.

Dois anos atrás, no entanto, uma carta anônima enviada ao Vaticano acusou Aline de maus-tratos, manipulação e gestão opaca do orçamento do mosteiro. A Santa Sé abriu uma investigação e designou uma inspeção no local, que durou semanas. Segundo documento obtido pela Folha de S. Paulo, a auditoria recomendou o arquivamento do caso.

A freira, porém, acredita que pressões internas reabriram o processo. Ela menciona frei Mauro Giuseppe Lepori, seu ex-colega e superior na ordem, como possível responsável pela retomada das acusações. “Ele dizia que eu era bonita demais para ser freira. Ria, como se fosse brincadeira, mas me expunha”, afirmou. Em nova visita enviada pelo Vaticano, uma representante concluiu que Aline era “desequilibrada” e que as irmãs “tinham medo” dela, mesmo sem realizar exames ou diligências formais, segundo relato da freira.

A demissão ocorreu em abril deste ano, no mesmo dia da morte de Francisco. Aline conta que foi informada de que deveria deixar o convento imediatamente e se recolher em outro espaço da Igreja para “amadurecimento psicológico”. Ela recusou. “Não houve julgamento, não houve denúncia formal, não tive direito de defesa”, disse.

Aline decidiu recorrer ao Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, instância máxima do Vaticano, e também avalia entrar com ação na Justiça civil. Ela afirma que sua remoção foi motivada por preconceito. “Fui julgada pela minha aparência, pela minha juventude e pela minha nacionalidade. Porque uma mulher jovem e bonita não pode ser inteligente? Tem que ficar calada?”, questionou.

Desde sua saída, pelo menos onze freiras deixaram o mosteiro em solidariedade. Algumas buscaram apoio em instituições públicas, temendo represálias. Atualmente, o grupo vive em uma villa onde pretende continuar o trabalho social. “Vamos ter que pedir a dispensa de votos, é uma exigência canônica. Mas queremos seguir com a vida de oração e de serviço. Amamos a Igreja. Vamos começar do zero, talvez em outra congregação”, declarou.

O mosteiro confirmou a destituição da ex-abadessa e afirmou que ela poderia ter recorrido oficialmente ao Dicastério, órgão da Cúria Romana. A Aliança Inter Monastérios, em nota publicada no dia 3 de maio, disse que Aline “prefere apresentar uma queixa civil, mas não está claro contra quem e por quais motivos, já que tudo foi feito de acordo com a lei da Igreja”.

A brasileira, por sua vez, mantém a convicção de que foi punida por desafiar padrões estabelecidos. “Agora rezo para que a verdade venha à tona, pelo amor de Deus e pela missão que desempenhamos.”

→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… Saiba que o Pragmatismo não tem investidores e não está entre os veículos que recebem publicidade estatal do governo. Fazer jornalismo custa caro. Com apenas R$ 1 REAL você nos ajuda a pagar nossos profissionais e a estrutura. Seu apoio é muito importante e fortalece a mídia independente. Doe através da chave-pix: [email protected]

O post Freira brasileira perde cargo de madre-abadessa por ser “bonita demais” apareceu primeiro em Pragmatismo Político.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.