Durante entrevista concedida em Moscou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) evitou estipular prazo para o ressarcimento dos valores desviados em um esquema de descontos indevidos em contracheques de aposentados e pensionistas do INSS. Em suas declarações, o presidente atribuiu a responsabilidade à gestão anterior, liderada por Jair Bolsonaro (PL), e ressaltou a necessidade de uma investigação criteriosa antes de qualquer decisão.
As informações foram divulgadas pela CNN Brasil, que acompanha a viagem oficial de Lula à Rússia, onde o presidente participou de uma cerimônia militar e manteve agenda diplomática com o governo de Vladimir Putin.
“Devolver ou não vai depender de constatar a quantidade de pessoas lesadas. Há casos em que o nome foi incluído em listas sem autorização. Os que assinaram autorizaram, mas muitos foram enganados”, afirmou Lula. Ele criticou a ideia de “pirotecnia” para dar respostas rápidas à opinião pública e reforçou que a prioridade é apurar com responsabilidade.
Na mesma linha, o presidente acusou diretamente o governo anterior de ter criado o ambiente propício para o surgimento da fraude. “Nós desmontamos uma quadrilha que foi criada em 2019. E vocês sabem quem governava o Brasil em 2019”, declarou. Lula ainda sugeriu que membros da antiga gestão podem estar envolvidos: “Vamos a fundo para saber quem é quem nesse jogo”.
Apesar das suspeitas generalizadas, Lula pontuou que nem todas as entidades envolvidas cometeram irregularidades. “Há instituições sérias no meio. Mas há outras que foram criadas com a finalidade de cometer crimes”, destacou.
Sobre os prejuízos causados, o presidente garantiu que os aposentados não serão penalizados financeiramente. Segundo ele, os bens das entidades envolvidas serão congelados e os valores recuperados serão utilizados para compensar os afetados. “Quem vai pagar são aqueles que ousaram explorar o aposentado e o pensionista brasileiro”, afirmou.
A fraude, descoberta por uma operação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), envolvia o desconto automático de valores nos benefícios do INSS para sindicatos e associações sem autorização dos beneficiários. Estima-se que o esquema tenha movimentado cerca de R$ 6,3 bilhões.
Com o avanço das investigações, seis servidores públicos foram afastados, e o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pediu exoneração. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), também deixou o cargo após se reunir com Lula.
“O que queremos é apurar com seriedade. Tanto a CGU quanto a PF estão indo a fundo para encontrar o coração dessa quadrilha”, concluiu Lula.