Com o aumento da longevidade e as incertezas econômicas, o planejamento financeiro para a aposentadoria se torna cada vez mais essencial. Contudo, de acordo com pesquisa feita pela Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box, 37% dos aposentados admitem que não se planejaram para esse momento. O estudo, que interrogou 1.052 brasileiros em janeiro de 2025, ainda aponta que 64% dos brasileiros que recebem a aposentadoria consideram o valor recebido insuficiente e causa de queda no padrão de vida.Entre os motivos que levam os brasileiros a não se prepararem para a aposentadoria está a deficiência na educação financeira, como indica Sérvio Túlio, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado da Bahia (CRC/BA). “Muitos brasileiros não têm conhecimento suficiente sobre investimentos, previdência e planejamento financeiro, o que os impede de tomar decisões assertivas a longo prazo. A cultura de consumo imediato e a preocupação com despesas diárias fazem com que as pessoas posterguem o planejamento da aposentadoria. Além disso, muitos enfrentam dificuldades financeiras e priorizam gastos essenciais, como moradia e alimentação, em detrimento da poupança para o futuro”.Não pensar no futuro é outra causa da falta de planejamento. “Muitas pessoas adiam a preocupação com a aposentadoria por acharem que ainda são jovens e que poderão começar a poupar mais tarde”, destaca Sérvio. Foi o caso de Lucimeire Azevedo. “Infelizmente não fiz nenhum planejamento. Trabalhava, tinha meu salário, férias, décimo terceiro, assistência médica e outros benefícios. Na minha imaturidade era suficiente para pagar as contas e suprir outras necessidades. Era jovem e não pensava lá na frente. Achava que quando eu me aposentasse teria uma vida tranquila. Pura ilusão”, admitiu a aposentada.Após a aposentadoria, Lucimeire precisou continuar trabalhando para suprir as necessidades da sua família. “Me aposentei muito jovem, com 50 anos e um salário menor do que recebia quando trabalhava. Além disso, perdi a maioria dos benefícios que muito somava e ajudava a pagar as contas. Em 2021, quando fui desligada da empresa que trabalhava desde os 20 anos, fui cuidar da minha mãe que naquela ocasião apresentava problemas de saúde. Ela foi diagnosticada com quadro de Alzheimer e foi ficando cada vez mais debilitada. Por incentivo de uma amiga, fiz o curso de cuidadora de idosos para me ajudar a cuidar melhor da minha mãe e acabei tomando amor pela profissão. Após o falecimento da minha mãe, me dei conta de que precisava trabalhar para suprir as necessidades da minha família, pois a aposentadoria era a única renda que tínhamos. Hoje trabalho como cuidadora de idosos em uma agência e também presto serviços particulares”. Assim como Lucimeire, 53% dos aposentados continuam trabalhando a fim de complementar a renda, de acordo com o estudo da Serasa em parceria com a Opinion Box.A pesquisa também indica que 6 em cada 10 pessoas prestes a se aposentar só passaram a se organizar financeiramente nos últimos cinco anos. Contudo, é indicado se planejar para esta fase da vida desde jovem, como sugere Thiago Ramos, especialista em educação financeira da Serasa. “O ideal é que este planejamento comece no início da vida profissional, já no primeiro emprego. Os jovens precisam ser alertados disso. Uma pesquisa da Serasa, no entanto, revelou que muitos brasileiros só iniciam esse planejamento cinco anos antes de se aposentar, o que afeta a renda e o padrão de vida de quem para de trabalhar. Essa falta de organização chama a atenção para possíveis dificuldades que possam existir no futuro. Quanto mais cedo houver uma organização financeira, mais tranquila será a transição para essa nova fase da vida”.Sendo assim, é possível se planejar para a aposentadoria sem comprometer as economias do presente. “É possível construir uma reserva sem comprometer outras necessidades financeiras com um planejamento equilibrado. Algumas estratégias podem ajudar, como fazer o ajuste gradativo do orçamento, cortando gastos supérfluos que podem abrir espaço para uma reserva, sem comprometer a qualidade de vida. Além disso, é fundamental definir metas realistas e, de preferência, mensais, para manter o hábito de poupar de forma mais acessível. De modo geral, monitorar os gastos regularmente é o principal passo para manter o orçamento equilibrado, evitando compras impulsivas e outros prejuízos financeiros”, sugere Thiago.Os trabalhadores também devem estar atentos ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), sistema de previdência pública gerido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), como salienta a contadora Isis Santana. “Estão sujeitos ao RGPS os trabalhadores assalariados, trabalhadores autônomos, servidores públicos temporários e comissionados, trabalhadores que atuam sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O RGPS funciona da seguinte forma: os trabalhadores contribuem mensalmente para o INSS e o valor da aposentadoria é calculado com base na média das contribuições ao longo da vida. O RGPS concede os seguintes benefícios: aposentadoria por tempo de contribuição e por invalidez, aposentadoria por idade, auxílio por incapacidade temporária, auxílio por incapacidade permanente, auxílio-acidente, auxílio-maternidade, pensão por morte, auxílio-reclusão”.Já após a aposentadoria é imprescindível seguir práticas financeiras com cuidado para manter as contas em dia. “Calcule seu orçamento pós-aposentadoria, listando todas as despesas fixas (moradia, alimentação, saúde, contas básicas) e só execute gastos extras com a segurança que não vai fazer falta. Além disso, prefira pagamentos à vista para evitar juros. E adapte o seu estilo de vida à nova realidade, reduzindo gastos desnecessários sem comprometer qualidade de vida”, aconselha Sérvio. “Criar um planejamento consciente e revisar o orçamento regularmente são passos essenciais para garantir mais estabilidade durante o processo de aposentadoria e em todas as fases da vida”, acrescenta Thiago.Cálculos e reservas“Sempre faço o possível para ir guardando o que posso para uma necessidade lá na frente. Se tivesse o pensamento e a maturidade que tenho hoje aos 57 anos, talvez não precisasse trabalhar tanto para complementar a renda familiar. Mas me sinto bem e feliz com o que eu faço hoje”, conclui Lucimeire. Thiago aproveita para destacar que, mesmo que não tenha sido no momento ideal, o importante é começar a se planejar financeiramente. “A aposentadoria não é barata e prepará-la de modo adequado exige sacrifícios durante a vida ativa do trabalhador, fazendo reservas e cálculos, investindo em previdência privada se tiver condições e acompanhando os rendimentos da mesma. O único consenso entre os especialistas previdenciários é que o melhor é começar cedo – quanto antes melhor. Mas nunca é tarde para começar a se preparar financeiramente para a aposentadoria”.*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
37% dos aposentados admitem que faltou planejamento para parar de trabalhar
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