Este escrevinhador já pronto para escrever sobre morte do Papa, conclave, Trump, pesquisas eleitorais, anistia (sem ela, digo), conjuntura política nacional e local, quando de repente, não mais que de repente, noticiários e redes sociais são invadidos por uma notícia insólita: que em 2026 a seleção brasileira terá como segundo uniforme uma camisa na cor vermelha.
A informação foi publicada pelo site Footy Headlines, logo ratificada por outros portais esportivos e um silêncio da CBF que cheira a confirmação da história. A ideia teria sido da Jordan, linha da Nike, empresa de material esportivo que tem parceria com a seleção brasileira. E que na prática há anos é quem define a identidade visual da seleção. Sim, são negócios, claro.
Mas como canta Caetano, tudo é muito mais. A notícia caiu como uma bomba não apenas no mundo do futebol, mas no campo político. Porque se a seleção brasileira é imageticamente identificada com a camisa amarela, a cor vermelha é identificada com a Esquerda enquanto lado político e no Brasil, especificamente, com um partido político, o PT.
Contudo, é aí que a porca torce o rabo. Porque no Brasil há alguns anos, a camisa amarela da seleção brasileira é identificada com o espectro político da Direita, ou mais exatamente da extrema-direita, já que esse grupo de “apossou” da chamada amarelinha em movimentações políticas, com amplo uso do uniforme pelo ex-presidente e atual inelegível e réu por golpe de estado, Jair Bolsonaro, e também por seus filhos, apoiadores e eleitores.
Então vamos lá: o mesmo grupo que usurpou imagética e ideologicamente a camisa amarela da seleção para uso político, está reclamando agora que a camisa vermelha para o escrete nacional não apenas quebra a tradição como vai ser usada para… fins políticos. Pimenta e cor de camisa no dos outros é refresco, né?
É fato que o futebol é sempre usado politicamente. Mussolini usou a seleção italiana campeã das Copas de 1934 e 1938 para aumentar sua projeção de poder. A ditadura argentina tinha como questão de Estado vencer a Copa de 1978, em casa, o que aconteceu, para mascarar os desmandos do regime. A própria seleção brasileira campeã de 1970 foi utilizada politicamente pelo ditador de plantão, o famigerado Garrastazu Médici.
Mas também é fato que em um mundo globalizado no século 21 em pleno capitalismo selvagem, tudo pode ser um (bom) negócio, até mesmo a pol´pitica-ideológica. Parece bem claro que a Nike ( e a própria CBF) acompanhavam com atenção o desgaste da camisa da seleção brasileira (e consequente queda de vendas e perda de receitas) diante de um público consumidor bem considerável.
Com a disponibilidade de uma camisa da seleção em cor vermelha em 2026, ano de Copa do Mundo, o consumidor identificado com a esquerda deverá comprá-la para marcar posição e afrontar a direita. Já os direitistas continuam adquirindo a camiseta amarela para marcar território e se aferrar na tradição. Em bom português: os dois lados vão comprar os produtos da Nike/CBF, cada qual com sua camisa. Mais dinheiro no bolso de quem fabrica e vende e o capitalismo, ao contrário do time do Brasil, sempre sai ganhando.
Contudo, não estou aqui reclamando nem querendo ser o cínico indiferente. Claro que é salutar essa reviravolta, lembrando também que 2026 além de Copa é ano de eleição presidencial. E li matérias sobre o esperneio de gente como Galvão Bueno e Flávio Bolsonaro com a novidade, classificando a camisa vermelha como “uma ofensa”, um “ultraje” e outras choradeiras. O bolsonarismo é chegado nessas aloprações e em ver simbologia comunista até na bandeira do Japão, nada novo sob o sol. Como diria Arnaldo, a regra é clara: se os bolsonaristas e Galvão Bueno estão furiosos, então para mim está ótimo! Segue o jogo (ops).
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