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Na última segunda-feira (21), o mundo recebeu a notícia do falecimento do Papa Francisco. Com a morte do Santo Padre, a Santa Sé adota uma série de protocolos direcionados ao processo fúnebre e à escolha de um novo Papa no conclave. Autoridades e lideranças manifestaram condolências.
“Essas imagens que vimos – em que ele queria e pedia que seus assessores comunicassem verdadeiramente a situação em que se encontrava, principalmente, no período em que ficou hospitalizado – revelam muito. O que percebemos ali, por exemplo, quando ele já não podia mais caminhar e passou a usar cadeira de rodas, foi a exposição da fragilidade humana, especialmente em alguém como o Papa, que carrega ao seu redor esse mistério religioso, quase como se fosse um homem perfeito. Para mim, foi muito importante ele ter mostrado essa fragilidade, para que pudéssemos enxergar o ser humano em sua realidade mais concreta. Ele, ao fazer isso, nos convidou a olhar com mais compaixão para o outro”, pontua o bispo da Diocese de Toledo dom João Seneme.
Segundo o bispo, outro momento marcante foi quando o Papa apareceu na Igreja de São Pedro. “Ele parecia, sem estar revestido das vestes papais, usando apenas um poncho, uma referência à sua origem Argentina. Isso expressa bem esse jeito de ser que ele queria mostrar: um Deus que assume a humanidade até as últimas consequências. Ao revelar sua fragilidade, ele nos levou a olhar com mais atenção para os doentes, os idosos, aqueles acamados nos hospitais e a recordar o amor de Deus por todos eles”.
ASSUMIR A CONDIÇÃO HUMANA – O bispo ainda reforça que foi bastante significativo o Papa assumir sua condição humana e mostrar que é possível ser frágil, humano e ainda assim confiar no amor e na graça de Deus, na sua misericórdia. Para dom João, isso ressaltou a presença e o legado desses 12 anos de pontificado do Papa Francisco: sua maneira de lidar com os conflitos e, sobretudo, o fato de ter assumido o papado em um momento totalmente inédito, após a renúncia de um Papa.
“Ele foi escolhido no conclave dos cardeais e se tornou o nosso Papa. Para nós, foi uma bênção. Nestes 12 anos, ele nos mostrou uma Igreja ferida, mas também uma Igreja capaz de fazer diferente, de apontar novos caminhos. Fica, para nós, a marca de alguém que doou sua vida totalmente à vida da Igreja. Tanto é que nunca mais voltou à sua terra natal, permaneceu ali, como sinal dessa presença de Deus. Estamos tristes, consternados, mas queremos levar adiante a memória eterna deste Papa tão importante, nesta fase, e neste momento da Igreja no mundo”, conclui o bispo.
CONDOLÊNCIAS – De acordo com o pastor Marlon Jonas Radons, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana (IECLB) emitiu um documento pela presidência. “A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil une-se ao povo da Igreja Católica Apostólica Romana para, com profundo pesar, lamentar a morte do Papa Francisco. Sua liderança foi um farol de esperança, reafirmando que a fé e a espiritualidade são essenciais no enfrentamento dos grandes desafios do nosso tempo: as guerras, a desigualdade, a ganância e a degradação da criação de Deus”, cita trecho.
A nota também pontua que “Em sua vida e ministério, o Papa Francisco testemunhou o amor de Cristo, clamando por justiça, acolhida e dignidade para com as pessoas marginalizadas e cuidado com a nossa Casa Comum. Que seu legado nos inspire a seguir construindo sinais do Reino de Deus, onde prevaleçam a paz, o amor e a justiça. Confiamos na promessa de Jesus: para aqueles e aquelas que creem, a morte não é o fim, mas passagem para a vida eterna. Que o Papa Francisco descanse na paz do Senhor e que seu exemplo continue a frutificar entre nós. Que o Espírito Santo de Deus fortaleça e guie os caminhos da igreja irmã”.
GRATIDÃO – A Embaixada Solidária, coração do mundo em Toledo, recebe imigrantes de vários países e estados brasileiros. Apesar de abrigar diferentes crenças religiosas, a instituição acolhe todas as manifestações de fé, como reconhecimento da espiritualidade de todos os povos. A Embaixada emitiu uma nota de pesar pelo falecimento do líder espiritual, como uma mensagem de gratidão e homenagem ao legado do Papa Francisco.
Os princípios do Papa são similares aos da Embaixada, como justiça social, dignidade humana e compaixão. Edna Nunes, fundadora e embaixadora da instituição, esclarece que “para nós, ele foi mais que um pontífice. Foi um farol de esperança para migrantes, refugiados, pobres, vítimas da indiferença. Suas palavras e gestos nos ensinaram que cuidar do outro é um dever sagrado e que a verdadeira grandeza está em servir. O legado de Francisco permanece vivo em cada ato de solidariedade, em cada fronteira ultrapassada pelo amor, em cada ponte construída em vez de muros”.
Em seu grupo, os membros desta rede inter-religiosa receberam a mensagem com comoção e respeito, além de vivenciar um movimento espontâneo de orações e reflexões. “Nesse espaço ecumênico e plural, reforçamos a importância da união entre as crenças em torno dos valores que o Papa Francisco tão belamente representou: a paz, o cuidado com os pobres, o acolhimento aos migrantes e o diálogo entre as culturas”, reforça Edna.
Escolha do novo Papa: dom Odilo Pedro Scherer participará do conclave
Os cardeais iniciam os trabalhos que irão resultar na escolha de um novo Papa. O processo envolve um período de luto, os rituais fúnebres e a eleição de um novo pontífice. Ao todo, 135 cardeais podem participar do processo eleitoral, o Brasil conta com a participação de sete cardeais: um deles é o arcebispo Metropolitano de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer – de família pioneira do município de Toledo.
Dom Odilo Pedro Scherer tem 75 anos, ele nasceu no Rio Grande do Sul, mas aos dois anos passou a residir em Toledo – no distrito de Dois Irmãos. Dom Odilo participou do conclave que elegeu o papa Francisco em 2013. Na ocasião, ele chegou a ser mencionado pela imprensa mundial como um possível candidato para suceder Bento 16.
No ano passado, ao completar 75 anos, o cardeal fez o encaminhamento do pedido de renúncia ao Vaticano – conforme as normas da Igreja Católica, todos os bispos devem solicitar a renúncia ao completarem 75 anos. Na época, o papa Francisco acolheu o pedido, entretanto requisitou que ele permanecesse no cargo até 2026.
RAÍZES EM TOLEDO – Dom Odilo estaria em Toledo, nesta semana, para cumprir agenda familiar. Com o falecimento do Papa, ele – como os demais cardeais – desmarcaram os compromissos para irem ao Vaticano. “Falei com ele ainda no dia da morte do Papa”, conta o irmão de dom Odilo, Flávio Scherer. “Ele nos pediu para sermos prudentes em nossas declarações. Em 2013, o quadro era diferente, ele tinha mais chances, hoje, está diferente. Acho difícil em termos um segundo papa latino-americano, não por falta de competência, mas pelas questões geopolíticas”.
OUTRO MOMENTO – Scherer destaca que, em 2013, a família concedeu entrevistas para diversos órgãos de comunicação do mundo, pois o nome de dom Odilo era cotado para assumir o papado. Na época, Scherer recebeu a imprensa em sua casa e ficaram aguardo da decisão do novo Papa. “Desta vez, toda essa concentração deverá ocorrer na Cúria ou na Diocese”, aponta.
“Fica a nossa admiração pelo Papa. Ele surpreendeu todo mundo, fez um belo trabalho na Igreja no lado espiritual, pois além de ser Papa, é o chefe de Estado do Vaticano, por isso, as autoridades do mundo inteiro se manifestam. Ele fez um trabalho extraordinário de mediação, de intervenção em relação a guerra, a fome, a doença. Acreditamos que o próximo Papa irá seguir parte daquilo que o Papa Francisco deixa e, com o tempo, irá também seguir seu próprio papado”, conclui.
Cardeais
Os cardeais são membros sêniores da Igreja Católica Apostólica Romana escolhidos pessoalmente pelo Papa. O Brasil tem um oitavo cardeal – o arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis. Contudo, aos 88 anos, ele não é mais considerado um cardeal-eleitor. Dessa forma, apenas os sete cardeais participam do conclave. Além de dom Odilo Pedro Scherer, os cardeais brasileiros que participam do conclave são: João Braz de Aviz; Orani João Tempesta; Sergio da Rocha; Leonardo Steiner; Paulo Cezar Costa e Jaime Spengler.
Da Redação
TOLEDO
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