Pipa: conheça área de preservação de Mata Atlântica sobre dunas do RN

Proteger integralmente uma área remanescente de Mata Atlântica sobre dunas. Essa é a missão do Parque Estadual Mata da Pipa (PEMP), em Tibau do Sul. Criado em 2006, o parque é a nona unidade de conservação (UC) estadual reconhecida no Rio Grande do Norte.

Assim como o Parque das Dunas, em Natal, a sede do PEMP é um Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecimento dado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2023, às atividades ali desenvolvidas. 

Tais atividades, segundo a gestora da unidade, a bióloga Mariana Gondim, intensificaram-se com a inauguração do ecoposto, em 5 de junho (Dia do Meio Ambiente) do mesmo ano, no distrito de Sibaúma. 

“Esse título se deve ao cumprimento das três funções da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica: conservação da biodiversidade, desenvolvimento sustentável e conhecimento tradicional e científico”, explica.

A gestora afirma que o PEMP contribui para a conservação da biodiversidade, protegendo a fauna e flora associadas ao parque, e para a valorização dos conhecimentos tradicionais, cumprindo um papel socioambiental. Diversos colaboradores da UC são pessoas da comunidade quilombola Sibaúma.

Quanto à história da UC, Mariana conta que a demanda partiu, também, das comunidades que vivem em seu entorno, para proteger aquele fragmento de Mata Atlântica, que tem cerca de 290 hectares. A iniciativa de proteger as conhecidas “Matas da Pipa” começou em 2005, por meio de ações da ONG Núcleo Ecológico de Pipa e do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

Em 2024, a história do PEMP foi selecionada na lista “Top 100 Green Destinations”, com o título “Living Nature and Ecotourism in the Park” (Natureza viva e Ecoturismo no Parque). O parque figurou como um dos 100 destinos verdes do mundo, após uma avaliação baseada em critérios como eficácia e inovação. 

Área de proteção permanente

Por ser uma área sob dunas, o PEMP já era considerado área de proteção permanente em legislações federais, mas o reconhecimento da UC serviu para “criar um instrumento mais forte para que essa mata não se perca. Até então, a gente tinha algumas diretrizes, mas não se tinha o zoneamento da área”, diz Gondim

Em seu plano de manejo (2013), o PEMP tem expostas suas informações gerais, histórico de criação, diagnóstico com uma análise regional, caracterização da paisagem dos fatores bióticos, abióticos e socioeconômicos, programas e projetos de manejo e zoneamento ambiental. 

“Temos uma legislação ambiental muito boa, mas, infelizmente, o cumprimento dessa legislação não é tão efetivo”. Conforme a bióloga, a fiscalização ainda é um desafio para proteger áreas ambientalmente frágeis.

Contudo, Mariana destaca a parceria entre o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiental (Idema), nas unidades de conservação sob gestão do órgão, com os municípios e com o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPAMb).

Além disso, Gondim avalia que o trabalho exercido pelo BPAmb é muito proativo e necessário, mas ainda não consegue coibir todas as práticas ilegais e infrações ambientais no PEMP, como a retirada de madeira e a invasão de áreas em alguns pontos – trilhas ainda não estão disponíveis ao público geral. “Os principais problemas são desmatamentos, queimadas e invasões”.

Mariana Gondim, que é bacharel e licenciada em Biologia e mestre em Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), conta ainda que o conselho gestor do parque foi instituído em 2008, teve uma pausa e retornou em 2012. 

Atualmente, uma renovação do conselho está em curso, e há projetos para incluir a atualização do plano de manejo, de 2013, nas próximas demandas do Idema. O PEMP está inserido na Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guaraíra, mas tem sede e gestão próprias.

Biodiversidade do PEMP

O PEMP é biodiverso em espécies de fauna e flora, contando com espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Conforme avalia a sua gestora, o parque apresenta bons índices de conservação. 

Pequenos répteis também são encontrados no PEMP – Foto: Mariana Gondim

“Alguns estudos relatam que o PEMP está numa situação clímax, que é o topo. Está tudo muito bem, e a nossa preocupação é esta: que isso continue assim. Quando a gente tem esse ambiente favorável, temos a presença de espécies indicadoras de que o ambiente ainda está bem preservado”, frisa.

Árvores de grande porte não são características do parque, por ele estar acima de dunas, mas ainda há árvores bem destacadas, diz a bióloga. 

De acordo com as informações sobre flora contidas no Plano de Manejo do PEMP, o porte arbóreo é o predominante na área, com 107 espécies. Foram registradas 278 espécies de angiospermas (plantas com flores) e 37 espécies de trepadeiras. Dentre as espécies da flora ameaçadas de extinção, destacam-se o pau-brasil (Paubrasilia  echinata), o jitaí (Apuleia leiocarpa) e a coroa-de-frade (Melocactus violaceus). 

Já a fauna tem o grupo de vertebrados como o principal, com o destaque para as aves, com 123 espécies registradas, seguido dos artrópodes (84 espécies), répteis (41 espécies) e mamíferos (27 espécies). 

Gondim elenca, dentre as espécies da fauna endêmica que ocorrem no PEMP, a Jacu (Penelope superciliaris), que é uma ave endêmica da Mata Atlântica ao norte do rio São Francisco; Conopophaga lineata (papa-mosquito ou chupa-dente), ave endêmica das florestas do Nordeste; Xenops minutus alagoanus (bico-virado-liso), ave endêmica do Nordeste; Leopardus tigrinus (gato-do-mato); e Coleodactylus natalensis (lagartinho-do-folhiço): “o menor lagarto da América, endêmico dos remanescentes de Mata Atlântica do RN”. 

Pesquisas científicas e educação ambiental

A maioria das pesquisas científicas realizadas no PEMP enfocam a diversidade biológica do local: zoologia (herpetofauna – estudos de répteis e anfíbios; avifauna – estudos das aves; e entomologia – estudo dos insetos), botânica (angiospermas – plantas que possuem flores e frutos) e micologia (estudo dos fungos). Entretanto, houve uma pesquisa que chamou a atenção da gestão da unidade.

“Foi sobre a percepção dos moradores do entorno com relação ao parque, [investigando] o que eles entendem. Algumas pessoas, não sei, talvez pela falta de comunicação ou de sinalização, alguns não identificaram que existia um parque”, diz Mariana.

A partir das pesquisas, cabe à UC atuar de algum modo e, neste caso, provocou a ampliação de trabalhos de educação ambiental no PEMP junto às comunidades escolares. O projeto Cartografia dos Sentidos é um destaque.

Em parceria com o Instituto Casa d’Água, o projeto promoveu quatro laboratórios para estudantes, sobre comunidades tradicionais, turismo, conservação e educação. A Cartografia dos Sentidos apresenta o mapa gigante de Tibau do Sul e uma série de usos pela comunidade local e visitantes, no ecoposto da UC. 

Além disso, o ecoposto abriga um viveiro de mudas nativas, uma casa de apoio ao BPAmb e uma casa de apoio ao pesquisador. A gestora da unidade adianta que há diálogos para a implementação de um parque infantil e para trilhas abertas ao público. 

Ainda, a UC recebe pesquisas relacionadas a temáticas socioambientais, como sobre a percepção ambiental na zona de amortecimento do parque, efetividade da unidade de conservação, corredores ecológicos e turismo e governança. 

“As pesquisas científicas fornecem dados complementares, ou até mesmo inéditos, sobre as espécies que habitam ou fazem uso da área do PEMP, incrementando, assim, o conhecimento da área e trazendo contribuições para a conservação destas espécies”, frisa Mariana Gondim, que adiciona: 

“Também subsidiam um melhor entendimento dos processos naturais e podem auxiliar na sensibilização da comunidade local e visitantes, contribuindo para tomadas de decisão da gestão e nas políticas conservacionistas e de manejo para a área”. 

Na parte de educação ambiental, alguns programas chamam a atenção. “Ao longo dos anos, o Parque já recebeu diversas escolas e alunos para aulas de campo. Com a operacionalização do ecoposto, além das aulas de campo, eventos culturais e esportivos também foram realizados”, lembra Mariana.

Há, além da Cartografia dos Sentidos, o projeto Cine PEMP, “que consiste em levar alunos das escolas do Município e comunidade para um momento diferente no Parque, de educação não formal e conscientização ambiental, onde eles assistem a filmes com a temática ambiental e social”.

Parelhas: parque estadual na Caatinga

O Parque Estadual Florêncio Luciano é uma unidade de conservação localizada em Parelhas, no Seridó Potiguar. Criado por meio do Decreto nº 10.120 em 1988, o parque é a terceira unidade de conservação reconhecida no Rio Grande do Norte.

Após o PEMP (290 hectares), o Parque Estadual Florêncio Luciano é a segunda menor UC do estado, com cerca de 446 hectares. Ele está localizado na área desapropriada da bacia da barragem do Boqueirão, no bioma Caatinga.

Saiba Mais: Rio Grande do Norte tem 11 unidades de conservação da natureza

“O parque foi criado com o objetivo de proteção de recursos hídricos. Ele foi criado em 1988, em um contexto ainda de seca na região semiárida do estado do Rio Grande do Norte, e toda sua área envolve o corpo hídrico do açude Boqueirão”, explica o supervisor-pesquisador da Unidade de Gestão da Biodiversidade (UGBio) do Idema, Ilton Soares.

Além disso, o parque cumpre um papel social, ao garantir reserva hídrica nos períodos de maior seca no estado. Confira fotos da unidade de conservação:

Florêncio Luciano foi um coronel e político atuante entre os anos 1920 e 1930 na cidade seridoense, tendo sido prefeito do município. Além dos embates políticos da época, ele é lembrado pelo Plano de Propaganda Contra o Analfabetismo (1928-1930).

Potencial para o ecoturismo 

Incentivar o turismo ecológico é um dos objetivos de criação do PEMP, e lá há muito potencial para isso, segundo sua gestora. “A própria sede já é um atrativo, e as trilhas estão bem pertinho de serem abertas ao público. Será uma trilha interpretativa, que tenha educação e sensibilização ambiental também”, revela.

Para alavancar o ecoturismo, é preciso ouvir quem entende do assunto. Por isso, a unidade está dialogando com entidades do setor, como a Secretaria de Cultura do RN, a Secretaria de Estado do Turismo, a Empresa Potiguar de Promoção Turística S/A (Emprotur), o movimento Preserve Pipa e o Instituto Casa d’Água

Em 2024, Mariana finalizou o plano de ecoturismo da unidade, que está sob revisão e elenca os equipamentos do parque e quais são as formas de uso dele.

“Por se tratar de uma unidade de conservação de proteção integral, ou seja, uma área protegida pela legislação brasileira, patrimônio ambiental e social que tem como objetivo principal a preservação da natureza, é de extrema importância que as atividades realizadas no Parque Estadual Mata da Pipa sejam ecologicamente corretas, sustentáveis e responsáveis, e isso inclui a atividade turística”, Gondim observa. 

O próprio município de Tibau do Sul tem o turismo como um de suas principais atividades geradoras de renda, “e o PEMP, com seus atributos naturais e beleza cênica, possui um potencial para receber visitantes que podem desfrutar destes atributos por meio de trilhas interpretativas e do uso de seus espaços, sem comprometer a dinâmica natural do ecossistema local”.

Trabalho de projetos de preservação

Se o Núcleo Ecológico de Pipa esteve na criação da UC, este não foi o único projeto sem fins lucrativos a se preocupar com as questões ambientais na região. A gestora do parque destaca que os projetos são relevantes como parceiros de educação ambiental. 

A Fundação Projeto Tamar e o Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental são projetos atuantes na proteção da vida marinha que, ao longo do tempo, tornaram-se parceiros do PEMP. No caso do Tamar, o foco é a proteção de tartarugas marinhas.

Outra parceria é com o Santuário Ecológico de Pipa, segundo Gondim. “Enquanto, por exemplo, as trilhas do parque não estão abertas, quando chegam escolas ou universidades, instituições que queiram fazer trilha e conhecer, a gente sempre sugere que façam a trilha lá no Santuário”.

Conselho gestor do PEMP

De acordo com Mariana Gondim, o conselho gestor do PEMP é um conselho consultivo, instituído junto ao decreto de criação da unidade. São 12 representações: seis cadeiras de representantes de instituições públicas (federal, estadual e municipal) e seis cadeiras para a sociedade civil. 

O conselho gestor do PEMP funciona por meio de reuniões ordinárias bimestrais e eventuais reuniões extraordinárias. Atualmente, o conselho está em fase final de renovação, para o mandato 2025-2027. 

“A importância do conselho gestor está na promoção da participação da sociedade nas atividades da unidade de conservação, onde, por meio de diálogos e ações, todos têm suas contribuições na gestão da área protegida”, avalia Mariana. 

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Esta é a oitava reportagem da série de reportagens da Agência Saiba Mais sobre as 11 unidades de conservação estaduais do Rio Grande do Norte.

Acompanhe a série:
Parque das Dunas: refúgio da Mata Atlântica na capital potiguar
Pico do Cabugy: segunda unidade de conservação do RN é mesmo um vulcão extinto?
Piquiri-Una: área de proteção ambiental preserva águas potiguares
APA Jenipabu: entre o turismo e a conservação da natureza
APA Bonfim-Guaraíra: Riqueza de ecossistemas e turismo sustentável
APARC: conheça a unidade de conservação que preserva recifes de corais no RN
Ponta do Tubarão: Costa Branca se engaja na conservação de reserva ambiental

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