O que pensam as mulheres sobre as lutas para além dos salários mais justos

Mais do que rosas vermelhas e parabéns pela data, o Dia Internacional da Mulher é a chama ainda acesa da luta por salários mais justos e igualdade de gênero.

Passados alguns anos desde que mulheres foram queimadas nas fogueiras da Idade Média, algumas conquistas tornaram-se direitos, mas muitos outros ainda estão no front de luta.

No ramo da política, o  Rio Grande do Norte guarda algumas simbologias nesse campo, afinal, é do Estado potiguar a 1ª mulher a votar na América Latina (Celina Guimarães Viana) e a primeira mulher a ser eleita prefeita (Alzira Soriano) de uma cidade. Mas, há muitas outras esferas a serem debatidas e para explorar esse universo, a Agência Saiba Mais conversou com algumas mulheres sobre o 8 de Março. Confira:

Natália Mota, neurocientista

Natália Mota defende que a sociedade precisa seguir vigilante / foto: José de Paiva Rebouças

Sou do time otimista, sempre percebo um saldo positivo, mas percebo que nos encontramos naquele momento de pêndulo histórico, no qual avançamos em muitas pautas nos últimos anos, principalmente, globalizando essas informações e ampliando essas discussões em outros espaços que antes ainda não tinham chegado com tanta qualidade.

Vejo como positivo o alcance cada vez mais jovem de meninas e mulheres jovens começando a se preocupar e se posicionando sobre suas próprias escolhas, na sua construção de autonomia dentro de seu cotidiano, não apenas nos seus espaços de trabalho, mas nos vários relacionamentos de diferentes origens. Porém, percebo que o pêndulo está voltando, depois de termos avançado bastante há sempre forças de reação quando a sociedade avança em ideias progressistas.

Vejo que a luta da mulher na sociedade, assim como várias outras de emancipação, estão recebendo uma contraposição forte de um conservadorismo a nível global, que vai desde uma insegurança que sentimos no cenário natural e climático até um ponto de incertezas de precarização do mercado de trabalho, nas relações internacionais, com uma crescente dessa tensão militar de diferentes países. Isso gera uma sensação de medo social que, muitas vezes, dá uma falsa sensação de segurança em se agarrar a essas ideias mais conservadoras e que, normalmente, colocam a mulher nesse lugar de espectadora desses processos.

Sempre que vemos crises nesse sentido precisamos ser vigilantes e não deixar retroceder os espaços já conquistados. Continuamos sendo como sempre fomos, capazes, fortes e autônomas para escolher nossos destinos, as formas como queremos construir nosso futuro. Tendo a ser otimista ao perceber que temos informação mais distribuída e de maior alcance na sociedade porque depois que sabemos que somos capazes, é muito difícil ‘dessaber’. Hoje temos uma geração muito esperançosa de mulheres e meninas que estão preparadas para enfrentar esse período e conservadorismo”.

“No campo das ciências noto com preocupação um pouco mais forte uma tendência a meninas buscarem menos profissões com engenharias, tecnologias, exatas e etc, porque a tendência no futuro é ter uma melhor remuneração, principalmente, não apenas raiz tecnológica, mas que dominem as novas tecnologias, como a IA. Esse ponto me traz preocupação, assim como o pouco avanço no aumento da representatividade de mulheres em cargos de liderança, principalmente em setores de tomada de decisão, como reitorias de universidades, chefias de departamento, gestão de ministérios, que tenham peso para gerar políticas públicas de fomento. Para que nos sintamos representadas num cargo de gestão e percebamos que aquele é um futuro possível. Outro ponto que vale a pena olhar é o empreendedorismo a partir da ciência. É muito importante ampliar esse olhar do que é traduzir achados científicos para soluções na vida real e de como isso pode ser uma fonte importante de geração econômica. Ter lideranças femininas nesse processo é algo que mudaria o cenário para fomentar esse desejo de novas gerações”.

Giovana Tito, estudante

A estudante Giovana Tito gostaria de ver apoio e respeito às mulheres / Foto: arquivo pessoal

Para mim não é apenas sobre conquistar, porque já tivemos muitas conquistas relevantes, mas de nada adianta alcançar novas coisas se nem as antigas são respeitadas e seguidas. Na minha opinião é sobre aprimorar. Como no caso do respeito, já que, na realidade, muitas mulheres não são respeitadas da forma que deveriam. As pessoas não respeitam suas vontades, gostos e atitudes.

É perceptível que homens tratam as mulheres de forma diferente, independente da idade. Eu, por exemplo, quando ouço alguém falar sobre algum esporte que eu gosto, sempre tenho um certo medo de falar o que penso por saber que, infelizmente, as pessoas ainda são machistas e iriam invalidar o que eu iria falar ou fariam perguntas estúpidas que nem eles saberiam responder.

Gostaria de ver o respeito e apoio. Infelizmente, muitos homens acham que nós mulheres queremos ter vantagens sobre eles, o que não é verdade. Só queremos que as coisas sejam justas. Se são funções iguais, que ambos tenham o mesmo salário e o mesmo número de horas trabalhadas, por exemplo”.

Marjorie Madruga, Procuradora do Estado do RN

Para a procuradora do Estado, Marjorie Madruga, as mulheres só tem um caminho: a luta / Foto: Cedida

Quando era muito jovem (minha primeira juventude!) sofri assédios na vida profissional – setor privado e público-, e um na vida privada, COMO QUASE TODAS AS MULHERES. Um deles foi objeto de uma  investigação criminal, pois era  figura muito conhecida na elite potiguar. Aconteceram antes de eu aprender a construir uma auto-blindagem com meu próprio jeito de ser. Há muito tempo os homens sabem  que qualquer tentativa, por menor que seja, não ficará impune. Acho que essa postura é importante. Eles precisam saber que não nos calaremos e que não os tememos. 

Só há um caminho: seguir lutando, sempre. Não normalizar, não aceitar as menores violações, marcar território incondicionalmente. Durante a história, silenciaram as vozes femininas, roubaram a nossa liberdade, se apossaram dos nossos corpos, aniquilaram nossas vontades, nos classificaram de loucas, nos mataram vivas.

Mas foi em vão. Aqui estamos porque sempre teve aquelas que pagaram todos os preços, até com a vida, por  se insurgirem contra o desejo de eliminação da mulher e do feminino- que segue tão atual, inacreditavelmente. 

Mulheres que nunca calaram, que jamais permitiram ser silenciadas e que constituem esta voz ancestral que deve ser guia de toda mulher.  Devemos honrar em cada ato as vozes que não se calaram, que morreram para não serem amordaçadas e foram abrindo trilhas para nosostras.

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