RN foi o 2º estado que menos queimou em 2024, aponta estudo

O Rio Grande do Norte foi o segundo estado brasileiro menos atingido por queimadas em 2024, segundo o estudo Monitor do Fogo, do MapBiomas. Com 7.125 hectares atingidos, o estado ficou atrás apenas de Sergipe (3.840 hectares). O índice é 0,69% maior do que o registrado em 2023, quando 7.076 hectares do RN queimaram.

Por outro lado, o crescimento de queimadas no país foi expressivo no ano passado – um aumento de 79% em relação a 2023. De janeiro a dezembro de 2024, o Brasil queimou uma área superior a 30,8 milhões de hectares, ante os 17,23 milhões de hectares fogueados no mesmo período do ano anterior. 

Dos municípios potiguares atingidos, destaca-se Apodi, no Oeste Potiguar, que queimou 2.325 hectares em 2024. Já a capital do estado, Natal, não teve registro de queimadas. 

Segundo Washington Rocha, coordenador da equipe MapBiomas de pesquisa sobre a caatinga, “incêndios em Apodi são recorrentes e ocorrem em média a cada 8 anos, mas desde 2019 a média baixou para 2 a 3 anos”. A parte norte de Apodi é a mais atingida. 

Outro dado interessante é que a sub-bacia hidrográfica Apodi-Mossoró parece ter uma recorrência de incêndios”, compartilha o especialista. Mossoró, também no Oeste, teve 351 hectares de seu território queimados no ano passado.

RN teve 7.125 hectares queimados em 2024 / Foto: reprodução/MapBiomas

Caatinga foi 2º bioma menos afetado

A caatinga, que é predominante no RN, foi o segundo bioma menos afetado no Brasil em 2024, de acordo com o estudo. O bioma teve 330.267 hectares fogueados e ficou atrás do pampa (3.411 hectares). Isso pode ter acontecido por diversas razões, conforme especialistas, dentre elas o maior volume de chuvas no ano passado. 

Choveu mais durante o ano, houve mais retenção de água. E nesse caso, o Rio Grande do Norte se beneficiou, por ser também, dentreos estados, aquele que teve também uma grande quantidade de retenção de água, tanto nos açudes quanto nos rios. Então, se mantém a umidade, isso faz com que o risco de incêndios seja menor”, frisa Washington.

Número de área queimada na caatinga reduziu 47% entre 2023 e 2024 / Foto: reprodução/MapBiomas

Dessa forma, a maior umidade no RN pode ter contribuído para que o estado tivesse menos áreas queimadas. O coordenador afirma que a caatinga tem vivido um ciclo de chuvas, mas, caso passe novamente por um período de estiagem, a tendência é que o risco de incêndios aumente. 

A atividade pecuária intensa em alguns estados cobertos por caatinga é uma das razões para haver queimadas. Mas, no geral, esse bioma mostrou uma redução de 47% de áreas fogueadas entre 2023 (631 mil) e 2024 (330 mil hectares).

Já o Rio Grande do Norte, na série histórica de 2019 a 2024 – intervalo disponível na plataforma do MapBiomas –, teve um pico de queimadas em 2019, com 23.827 hectares atingidos. O menor número foi registrado em 2022 – 6.882 hectares.

Fogo é provocado pela natureza e pelo humano

O fogo na natureza é um problema que se manifesta de diversas formas. Nesse sentido, Washington, que é especialista em Sensoriamento Remoto e professor na Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), explica sobre queimadas, focos de incêndio e incêndios. 

Para ocorrer incêndio, conforme ele, é necessário que o território tenha “matéria combustível”, além de outras questões. As condições climáticas, por exemplo, precisam registrar baixa umidade. 

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) faz um registro dos focos de incêndio, algo que se relaciona ao trabalho do MapBiomas, mas não é a mesma coisa. “A metodologia do MapBiomas é dirigida ao registro do incêndio propriamente dito, da cicatriz do incêndio”. O Inpe registra fogo ativo, e temperaturas altíssimas já geram alertas de anomalias termais. 

Para que a queimada, de fato, se propague e se torne incêndio, é necessário que você tenha o que a gente chama de matéria combustível: aquele resto de folha, de matéria que foi se acumulando ao longo do ano”, explica. O acúmulo desse material é comum em áreas florestais.

Quanto mais seca a área e quanto mais ela tiver matéria acumulada, mais ela vai queimar com facilidade. Então, isso também depende dos tipos de vegetação. Tem vegetação que tem capacidade de reter mais umidade, e essas que são menos suscetíveis a ser queimadas”, diz o especialista.

Além disso, ele pontua que existem meses mais propensos a ter mais queimadas, que são os meses de setembro, outubro e novembro. “Aí temos a temperatura mais alta e a umidade mais baixa, ou seja, fica mais quente [alta temperatura] e mais seco [baixa umidade]. Essas são as condições ideais para que haja incêndio”. 

Ele destaca ainda que, para haver queimada, é preciso haver um fator-chave chamado ignição. O fogo precisa ser provocado.

Vamos dar um exemplo, fazer uma analogia. Num posto de gasolina, você tem ali todas as condições reunidas [para haver fogo], não é? Você tem bomba de combustível, tem gasolina e álcool. As condições estão ali, certo? Mas, por que não pega fogo? Porque ninguém fica lá fumando, acendendo cigarro, ou seja, as pessoas sabem que é um local que tem que ter cuidado com a questão do fogo”.

Continua:

E o que isso tem a ver com a atualidade? E por que isso é um problema ambiental? Porque, com o passar dos anos, aumentando o uso do que a gente chama de queimadas para limpar os terrenos, isso começou a perder o controle. Então, o fator de ignição é esse. O principal fator de ignição hoje é causado pelo homem”. 

Números da queimada por biomas (hectares)

  • Amazônia: 17.904.406 
  • Cerrado: 9.706.370
  • Pantanal: 1.910.543
  • Mata Atlântica: 1.012.678
  • Caatinga: 330.267
  • Pampa: 3.411

Fonte: Monitor do Fogo/MapBiomas – 2024

O que é o MapBiomas

Criado em 2015, o MapBiomas é uma rede formada por empresas de tecnologia, universidades e organizações não governamentais. Inicialmente, o projeto atualizou os mapas da dinâmica de uso e ocupação do solo, visando dar suporte ao acompanhamento paralelo das emissões de gás de efeito estufa (GEE).

Washington Rocha conta que, em 2015, o Observatório do Clima, que é uma coalizão de ONGs, tinha dúvidas sobre a metodologia praticada pelo governo brasileiro nos relatórios que computavam a emissão de GEE. 

Eles resolveram fazer esse cálculo pegando o protocolo do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], que é o protocolo internacional utilizado para esses cálculos de emissão, e perceberam que um dos problemas maiores de erro nesse cálculo estava nessa variação da dinâmica de uso e ocupação da terra”, afirma.

Nesse contexto, surgiu o desafio de desenvolver tecnologias capazes de gerar mapas e imagens precisas de todo o território nacional. “Entraram especialistas em sensoriamento remoto, em imagens via satélites, computação e inteligência artificial de universidades junto com as ONGs e também empresas de tecnologia”.

Equipe que pesquisa sobre a caatinga é coordenada por Washington Rocha / Foto: reprodução/MapBiomas

Os mapas diversos deram a oportunidade aos pesquisadores de mensurar outros fenômenos, como os incêndios no país. Apesar de haver uma margem de erro segura, o resultado é mais de 90% confiável, segundo Washington. Ele conta que esteve duas vezes no RN em 2024 e que as equipes do projeto conhecem os estados monitorados com frequência, presencialmente. 

Quanto à metodologia do projeto, ela se baseia em observação por satélite, reunindo ainda diversas tecnologias, a exemplo do sensoriamento remoto. 

Fazemos a classificação por imagem de satélite e usamos a técnica de comparar imagens antes da queimada e após a queimada […] Já o Monitor de Fogo, que tem uma série de 2019 para cá, usa um outro tipo de satélite para ter a informação mais rápida e divulgar, por exemplo, com menos de um mês. A ideia é que, se tiver uma tendência de descontrole de grandes incêndios, teria tempo para as autoridades terem como combater, como ter uma estratégia de contenção desses incêndios”, detalha Washington Rocha.

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