Mulheres de Fibra: mãos que trabalham para viver

Por Leandro Juvino e Melissa Albuquerque / Projeto Comtrilhas – UFRN

Na terra dos jerimuns, bananas e polvos, um grupo de mulheres descobriu na fibra da bananeira uma nova fonte de renda, uma maneira de se reinventar, enriquecer e fomentar a cultura local. No município de Rio do Fogo, especificamente no distrito de Canto Grande, distante 72 km de Natal, dez artesãs encontraram um jeito de transformar suas vidas. 

Mulheres de Fibra é o nome do grupo que, com o objetivo de ajudar a filha de uma companheira que precisa realizar uma cirurgia de mama, descobriu na fibra da bananeira o potencial para ir além dos limites do povoado de Canto Grande, em Punaú. 

Isso porque Silvana Saturnino, idealizadora do grupo e professora das artesãs, precisa ajudar sua filha a arrecadar fundos para a cirurgia. Diante da situação delicada e vendo um bananal inteiro em seu quintal, a mineira que vive na terra dos Parrachos de Rio do Fogo, percebeu que, para além da alimentação e venda, muito mais dessas bananas poderiam ser utilizadas de outras maneiras. 

“A ideia surgiu porque a minha menina precisava fazer uma cirurgia de redução de mamas, como ainda precisa fazer. E aí as minhas amigas quiseram me ajudar nesse processo. Ela precisava fazer um exame que era mil reais e não tinha condições e foi quando elas pediram para mim fazer alguma coisa para a gente poder ajudar nesse processo. Aí eu pedi muito a Deus no que eu poderia fazer e aí veio o trabalho da fibra da bananeira ao qual eu nem conhecia esse trabalho.”, explica Silvana contando o início do projeto. 

Com a ideia na cabeça e assistindo vídeos no youtube de como fazer peças de artesanatos, Silvana começou a produzir utensílios únicos feitos a partir da fibra da planta. São bolsas a tiracolo, acessórios, porta pano de prato, cestas, peças multiusos e uma diversidade de produtos todos bordados e confeccionados pelas mãos dessas mulheres. 

A profissionalização

Atualmente, o grupo é composto por dez integrantes, que, juntas, realizam todo o trabalho de venda e artesanato. Com o grupo formado, foi possível realizar um curso intensivo de duas semanas sobre o artesanato em fibras de bananeira, promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-RN), com o objetivo de aprimorar técnica e aprender a extrair, secar e trabalhar a fibra de maneira mais eficiente.

“O processo é lento e bem difícil, mas é muito bom de fazer. Agora já estamos mais acostumadas a fazer todas as peças, de tudo que a gente faz. A gente planeja participar de projetos e feiras para conseguirmos vender.”, explica Dilma da Costa e Silva, integrante do grupo.

A artesã que virou professora explicou que através do trabalho a sua filha conseguiu marcar o exame, mas ainda luta para conseguir custear a cirurgia. 

“Eu não sou professora e fui ser professora dela e deu certo. E a minha menina conseguiu, sim, fazer o exame, mas a cirurgia até hoje eu não consegui e ela precisa muito dessa cirurgia. E a gente continua trabalhando. E foi assim que surgiu esse trabalho com a fibra da bananeira.”, completa. 

A fibra da bananeira 

A fibra de bananeira é um recurso natural e sustentável, extraído do tronco, do mangará (flor da bananeira) e também das suas folhas. Atualmente, existem diversos métodos de extração, dependendo do uso previsto, sendo a fibra natural e as fibras verdes as mais utilizadas. 

A fibra natural  pode ser retirada após a decomposição no próprio pé, já as verdes exigem uma remoção de camada por camada do pseudocaule e depois uma secagem ao sol. Após  o processo, as fibras ficam extremamente resistentes e podem ser empregadas na produção de uma variedade de itens. 

Esse processo artesanal realça o valor da matéria-prima, promovendo a sustentabilidade e fazendo da fibra de bananeira uma opção ecologicamente correta e inovadora. Vale ressaltar que Canto Grande / RN é um dos distritos que mais produz bananeiras no estado, ligado à economia, à tradição e à cultura do povoado.

“Aproveita a bananeira em tudo, né? Porque o tronco a gente tira e destronca e faz um monte de coisa de fibra. É muito bom, é uma terapia, porque a gente trabalha junto, né? É muito bom. Muita coisa boa mesmo. A gente cria, todo dia a gente faz, porque não é só isso que a gente faz, a gente cria uma coisa diferente e é muito bom.”, detalha Dilma.

O impacto local 

Mais do que produzir objetos úteis ou bonitos, o trabalho com a fibra da bananeira tem ajudado a construir uma nova narrativa para as mulheres de Canto Grande.

 O grupo não apenas encontrou uma fonte de renda, mas também um espaço de convivência, aprendizado e transformação. Para Aline Nunes, integrante do Mulheres de Fibra, as artesãs estão se distraindo e trabalhando ao mesmo tempo. 

“Bom, pra mim é muito importante porque a gente se reúne e é como se fosse uma terapia mesmo. A gente se reúne pra destroncar, pra fazer bolsa, pra fazer as peças. A gente tá ali se distraindo e trabalhando ao mesmo tempo.”, detalha a artesã que se apaixonou pelo trabalho depois de visitar o ateliê. 

E o Futuro?

As artesãs sonham em expandir suas vendas, aumentar a produção e consolidar sua atividade como uma fonte de renda sustentável para todas as integrantes. No entanto, a ausência de políticas públicas limitam as possibilidades de crescimento.

Para Rosineide Felix, que também integra o grupo, a falta de divulgação e comunicação é uma das maiores dificuldades que as profissionais encontram no momento. “Nós esperamos que nosso projeto seja reconhecido, seja visto. Nosso município é muito pequeno e, ainda assim, há muitas pessoas que ainda não conhecem o nosso trabalho.”, conta. 

Já para Rosângela Ferreira, participante do Mulheres, a principal dificuldade enfrentada é a mobilidade necessária para divulgar as peças em outras regiões. “A gente mora no interior e o transporte é mais difícil. A maior dificuldade é levar as peças para outros lugares para que as pessoas conheçam o nosso trabalho.”, relata.

O impacto vai além do que um dia já se foi imaginado; ele é percebido na autoestima e no senso de comunidade das participantes. E com isso, as mulheres enxergam possibilidades: “Esse trabalho foi um presente. Veio para somar em nossas vidas, é uma coisa diferente”, reflete Rosineide

O que começou como uma solução emergencial virou trabalho, comunidade e propósito. Com apoio e investimentos estruturados, o projeto tem potencial para não apenas transformar a vida das mulheres de Canto Grande, mas também servir como modelo para outras comunidades no Brasil.

Para conhecer mais sobre o trabalho das artesãs, basta entrar em contato pelo WhatsApp (84) 99112-3160 (Rosineide), ou pelo Instagram @mulheresdefibra.cg

The post Mulheres de Fibra: mãos que trabalham para viver appeared first on Saiba Mais.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.