“O estupro de vulnerável ocorre em qualquer relação com adolescente abaixo de 14 anos… mas às vezes existe um relacionamento, existe namoro”, comentou a vereadora Camila Araújo (União), durante o pequeno expediente (quando os vereadores discursam antes da sessão começar) nesta quinta-feira (08), no plenário da Câmara Municipal de Natal. Além de normalizar relações com menores de idade, a vereadora ainda condenou a realização de abortos, mesmo nos casos de estupro.
“Eu lamento profundamente Santa Catarina, uma adolescente de história parecida [anteriormente a vereadora falou sobre uma menina de 13 anos que engravidou do namorado e decidiu ter o filho] infelizmente foi levada ao aborto. Imagine o trauma que ficou para essa mãezinha de 13 anos que foi submetida ao aborto ‘legal’. Eu jamais vou dizer que aborto é legal, aborto para mim continua sendo crime, é um homicídio de um ser vivo”, argumentou a parlamentar.
No Brasil o aborto é considerado legal em três situações: nos casos de gravidez por estupro, se a gestação representa risco à vida da mulher e em caso de anencefalia do feto.
“Ao contrário do que a vereadora disse, o aborto no Brasil não é crime em alguns casos. Ficamos estarrecidas com o grau de desinformação que a vereadora manifestou. É lamentável porque se trata de uma parlamentar que deveria estar informada sobre a situação de mulheres que fazem aborto, seja previsto por lei, seja em situações clandestinas, o que coloca a vida delas em risco, tanto de morte, como de sequelas“, critica a advogada Tárzia Medeiros.
A vereadora ainda defendeu que as crianças gestantes sejam “ensinadas” sobre as vantagens de continuar com a gravidez.
“O aborto não é a principal solução, não é a única solução, não é a primeira que deve ser pensada. A gente deve pensar em trabalhar aquela criança, que sofreu de fato e direito uma violência, ensinando para ela que a possibilidade de trazer à vida, de dar para adoção”.
Camila Araújo ainda criticou a atuação de militantes “de esquerda”.
“A criança que foi estuprada não está preocupada com videozinho lacrador de militante da esquerda, ela está preocupada em saber qual vai ser o anjo da guarda que vai chegar na casa dela e oferecer segurança e proteção. Não é com opinião de militante lacrador”, comenta a parlamentar que postou recentemente um vídeo de Nicolas Ferreira.
“Ao contrário do que a vereadora relata, nos países que legalizaram a interrupção voluntária da gravidez, o número de abortamentos diminuiu drasticamente, justamente, porque quando se garante esse direito às mulheres de decidir sobre o próprio corpo, os números de abortos diminuem. Esse é um dado que pode ser verificado na OMS [Organização Mundial da Saúde]”, pondera Tárzia.
Segundo a advogada, ao contrário do discurso de Camila Araújo, a Constituição não prevê que a vida se dá desde a concepção.
“Quem é contra o desejo da mulher de interromper uma gravidez indesejada, quer colocar isso na Constituição como cláusula pétrea, mas até agora não conseguiram. Quando falamos em defesa da vida, temos que garantir, sobretudo, o direito àquela vida plena de mulheres que, muitas vezes, têm muitos outros filhos e que se morrerem ou tiverem alguma sequela, esses filhos ficarão sem uma mãe para cuidar deles. Ninguém faz aborto porque quer, quem recorre a isso tem seus motivos“, defende Tárzia.
Confira a sessão na íntegra
Mudanças na Mesa Diretora
Como segunda secretária da Mesa Diretora, Camila Araújo está entre os três vereadores que assinaram, nessa última terça (06), a resolução nº 7/ 2025 que alterou o Regimento Interno da Câmara, reduzindo o poder de fiscalização e enfraquecendo a participação feminina na própria Mesa.
O documento foi apresentado pela Mesa Diretora e assinado pelo presidente da Casa, Eriko Jácome (PP), pelo primeiro secretário, Kleber Fernandes (Republicanos), e por Camila. Com oito membros, a Mesa Diretora deveria contar com pelo menos um terço da representatividade de um dos gêneros, mas com a nova redação, essa exigência foi retirada.
Quem é Camila Araújo

Camila Araújo é uma das cinco mulheres dentre os 29 parlamentares da Câmara Municipal de Natal. Ela já havia sido eleita vereadora por Natal em 2020 e foi reeleita em 2024. Se candidatou a deputada estadual em 2022, mas ficou como suplente.
Nas redes sociais, além de postar fotos com Jair Bolsonaro, a vereadora defende pautas conservadoras, tendo se posicionado contra a luta antimanicomial, movimento que defende a transformação do tratamento das pessoas em sofrimento mental por um modelo mais humanizado. Ela também é defensora da anistia para para os golpistas do 8 de janeiro e tem atuação religiosa forte, com divulgação de vários vídeos fazendo testemunhos.
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