Análise: “A ascensão e queda da primeira-dama Janja da Silva”

Por Rodrigo Lopes:

“A queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato tem gerado um efeito colateral dentro e fora do governo: o crescente escrutínio sobre a primeira-dama, Janja da Silva. Críticos apontam que sua presença ativa nas redes sociais e sua influência em agendas oficiais têm contribuído para desgastes políticos da atual gestão.

Nas últimas semanas, Janja enfrentou uma onda de críticas, que vão desde a falta de transparência em sua agenda até sua participação em eventos e interações online. O caso mais recente foi o incidente envolvendo a Portela, no qual a primeira-dama acabou revelando, por descuido, detalhes da sigilosa águia do desfile da escola de samba carioca. O episódio gerou repercussão negativa e reforçou a imagem de uma atuação polêmica e, segundo opositores, até prejudicial ao governo.

A análise da consultoria Bites demonstra o tamanho do desafio para Janja: entre 1º de janeiro e meados de fevereiro, das 704 mil menções a seu nome em plataformas como X, Instagram, Reddit, YouTube e Facebook, 53,4% foram negativas, enquanto apenas 14,4% foram positivas. O restante foi considerado neutro.

A postagem com maior alcance recente veio do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), no dia 12 de fevereiro. No vídeo, ele faz uma brincadeira ao simular que está trabalhando para “sustentar duas pessoas” e, ao olhar o celular, exibe uma imagem de Lula e Janja. A publicação acumulou impressionantes 32 milhões de visualizações, o que evidencia o apelo do tema entre opositores e críticos do governo.

As críticas à primeira-dama também foram parar no Ministério Público Federal (MPF). Apenas no último mês, parlamentares acionaram a instituição quatro vezes para questionar gastos institucionais ligados a Janja. Entre os pontos levantados, estão os custos de sua viagem a um evento em Roma ao lado do ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e a falta de transparência na sua agenda oficial.

Ademais, o vereador de Curitiba Guilherme Kilter (Novo) ingressou com uma ação alegando que Janja viola princípios da administração pública ao manter uma estrutura com 12 assessores no Palácio do Planalto e por já ter acumulado R$ 1,2 milhão em viagens. Na última terça-feira, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o caso deve tramitar na Justiça Federal do Distrito Federal, o que poderá trazer novos desdobramentos para o debate.

A exposição de Janja e a crítica crescente sobre seu papel colocam o governo em uma situação delicada. Interlocutores do Palácio do Planalto já reconhecem que o desgaste atrelado à primeira-dama pode afetar ainda mais a popularidade de Lula, que enfrenta desafios na economia, pressões políticas e dificuldades para consolidar sua base no Congresso.

O governo precisará decidir como lidar com a presença de Janja nas redes e sua atuação institucional. Se por um lado sua postura ativa reforça a ideia de uma primeira-dama participativa e influente, por outro, a oposição tem conseguido transformar esse protagonismo em munição política.

A questão agora é: o Planalto vai ajustar a estratégia para reduzir os danos ou Janja continuará sendo um dos principais alvos de críticas neste governo?”

 
 
 
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