Aluna de direito gasta R$ 77 mil economizado por turma para formatura em Jogo do Tigrinho

Alunos de direito da Unidade Central de Educação Faem (UCEFF) de Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, denunciaram a presidente da comissão de formatura por usar quase R$ 77 mil do fundo destinado para a festa em apostas on-line. O evento de formatura, que deveria acontecer em 22 de fevereiro, não ocorreu pela falta de dinheiro.

A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso e disse que trabalha com duas linhas de investigação: apropriação indébita ou estelionato. Vítimas, testemunhas e a própria suspeita serão ouvidas nos próximos dias.

Uma das vítimas, Nicoli Bertoncelli Bison, 23 anos, contou que soube que não havia mais dinheiro pela própria colega que o gastou. Em um aplicativo de mensagem, em 27 de janeiro, Cláudia Roberta Silva disse que perdeu a quantia.

“Eu perdi todo o dinheiro da formatura. Me viciei em apostas on-line, Tigrinho e afins, e quando perdi todo o dinheiro que eu tinha guardado, comecei a usar o da formatura para tentar recuperar. E aí, cada vez mais fui me afundando no jogo”, diz trecho da mensagem (veja print abaixo).

Ao g1, a defesa da investigada disse que todas as medidas judiciais para recuperação dos valores serão tomadas e que ela pretende ressarcir os colegas. Também afirmou que a cliente aguarda ser chamada para prestar os esclarecimentos à polícia (nota abaixo).

Como aconteceu

 

Nicoli contou que os colegas contribuíram ao longo de três anos para garantir recursos para a formatura. O valor ficou concentrado na conta da suspeita, que havia se voluntariado para assumir a responsabilidade.

O grupo registrou um boletim de ocorrênciaNo documento, ao qual o g1 teve acesso, as vítimas descrevem o seguinte:

  • um adiantamento de R$ 2 mil havia sido pago à empresa responsável pela formatura ao fechar o contrato.
  • O restante, R$ 76.992,00, deveria ser pago em dezembro de 2024.

Sem receber o dinheiro, e após algumas tentativas de contato com a presidente da comissão, a empresa chamou os estudantes em um ultimato, em janeiro, e relatou que a mulher afirmou não ter mais o dinheiro para o pagamento.

Segundo Nicoli, a suspeita sempre pareceu engajada na organização da formatura. “A gente não desconfiou de nada porque, desde o início, ela sempre foi muito assim: ‘vou atrás, vou fazer’”, contou.

“Não havia como a gente suspeitar dela, porque ela mostrou até o último segundo que estava tudo bem. Quem ia imaginar que, em um mês, o nosso sonho ia por água abaixo? Nunca passou pela nossa cabeça”, comentou.

A Polícia Civil informou que encaminhou representação à Justiça para rastrear e, se possível, recuperar o valor supostamente desviado. g1 entrou em contato com o órgão, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.

Em nota, a Nova Era Formaturas afirmou que não possuía qualquer responsabilidade sobre a arrecadação, administração ou guarda dos valores destinados à realização do evento e destacou que em nenhum momento o dinheiro esteve sob a administração ou custódia da empresa.

“Está envidando todos os esforços necessários para, em conjunto com os estudantes, viabilizar a realização dos eventos de formatura, de modo a minimizar os impactos do ocorrido e garantir que este momento tão aguardado seja, enfim, concretizado”, informou a empresa (íntegra no fim do texto).

Planos para nova formatura

Enquanto buscam reaver os valores, a turma decidiu juntar dinheiro mais uma vez e tentar fazer a formatura acontecer em maio deste ano, com vaquinha on-line e eventos.

O que diz a defesa

Na defesa de Cláudia Roberta, o advogado Joel Sustakovski encaminhou nota ao g1. Veja íntegra abaixo.

Conforme já amplamente divulgado antes deste Procurador assumir o caso da Sra. C.R., a mesma confessou que, de fato, se apropriou dos valores relacionados a formatura da turma de Direito, gastando o valor integralmente com apostas online, em especial, o conhecido “Jogo do Tigrinho”.

O que se busca neste momento é o esclarecimento dos fatos, principalmente aos colegas de formatura da suspeita.

Todas as medidas judiciais serão tomadas para tentar recuperar os valores perdidos nas apostas online, assim como será ressarcido os valores aos colegas de formatura. No mais, a suspeita aguarda ser chamada na Delegacia de Polícia Civil de Chapecó SC para ser ouvida.

O caso serve de alerta, haja visto que não é um caso isolado, e prova que talmodalidade de apostas leva pessoas a perderem o controle financeiro e emocional, como foi o caso.

Importante destacar que a suspeita também utilizou valores seus e a soma ultrapassa o valor que era destinado a festa de formatura.

O que disse a empresa de evento

A Nova Era Formaturas vem a público prestar esclarecimentos acerca das recentes notícias envolvendo a subtração de valores arrecadados para a formatura de uma turma de formandos do curso de Direito da UCEFF Chapecó – SC.

A empresa esclarece que não possuía qualquer responsabilidade sobre a arrecadação, administração ou guarda dos valores destinados à realização do evento. A arrecadação foi realizada diretamente pelos formandos, por meio de rateio, sendo os valores depositados em conta bancária de responsabilidade exclusiva dos alunos. Em nenhum momento tais quantias estiveram sob a administração ou custódia da Nova Era Formaturas.

Apesar de não ser responsável pelo ocorrido, a Nova Era Formaturas se solidariza com a situação dos formandos e reafirma seu compromisso com mesmos, ressaltando que está envidando todos os esforços necessários para, em conjunto com os estudantes, viabilizar a realização dos eventos de formatura, de modo a minimizar os impactos do ocorrido e garantir que este momento tão aguardado seja, enfim, concretizado.

Dito isso, reiteramos nosso compromisso com a transparência, profissionalismo e dedicação para tornar a formatura um evento memorável, e seguimos à disposição dos formandos e de seus familiares para quaisquer esclarecimentos adicionais.

O que disse a universidade

A UCEFF esclarece que não tem participação direta com as organizações de cerimônias festivas de formaturas, exceto, as cerimônias institucionais/gabinete. Declara, ainda, que em fevereiro do corrente ano soube do fato pelos próprios estudantes, momento em que prontamente ofereceu assessoramento jurídico e administrativo.

(Fonte: G1)

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