Reflexões sobre o tempo

Por Germano Neto | Cientista social e professor na UFRN. 

Ao longo da história do nosso planeta, muitos são os marcos e as datações do tempo: eras, milênios, anos… O vivo e o não vivo partilham da experiência do tempo a partir de seus efeitos. Ele, impiedoso ou potente demais, afeta a tudo e a todos. Todavia, nem todos os seres compartilham da consciência de sua existência ou o ritualizam como nós, humanos. A ritualização do tempo, como afirma a antropóloga Maria da Conceição Almeida, assemelha-se a um álibi ou mesmo a um artifício da nossa espécie para nos pensarmos como comunidade de origem e coletividade de destino. É assim que estamos. Todos os anos, após nosso planeta concluir mais uma revolução solar, nosso compartilhamento ritual do tempo nos oferece a possibilidade de novidade: um novo ano, gestado a partir do que foi construído no anterior, mas com a chance de abrir caminhos imensamente diferentes.  

Esse tempo, provocador de reflexões, gera também, em alguns, o sentimento de sintomas mórbidos. Como disse o filósofo italiano Antônio Gramsci: “A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer.” Assistimos a agudização do sistema capitalista avançar no mundo em sua face mais perversa, potencializando crises climáticas e ambientais, esfacelando relações de trabalho e desumanizando sujeitos por meio do endurecimento de fronteiras de origem, etnia, classe e gênero. A falta da partilha do comum, de um sistema co-imunitário — para retomar a expressão do pensador germânico Peter Sloterdijk, em que indivíduos distintos compartilham um mesmo sistema de proteção — nos enfraquece em nossa condição humana.  

Por isso, para 2025, meu desejo vai além de uma frivolidade ou de um otimismo tolo. Como recomendou o pensador alemão já citado, é necessário um pensamento apocalíptico esclarecido, que reúna, ao mesmo tempo, precaução e urgência, não para o que nos aguarda, mas para o que estamos construindo. Que, na nova revolução solar, realizemos em cada vida uma metamorfose que una, como na perspectiva do pensamento complexo, uma transformação radical ao melhor da nossa continuidade. 

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