Justiça condena bengaleses a até 7 anos de prisão por lavagem em esquema de imigração ilegal

A Justiça Federal em São Paulo condenou dois bengaleses por lavagem de dinheiro e fraudes para transações cambiais ligadas a um grande esquema de imigração ilegal sediado do Brasil. Um acusado é apontado como o maior traficante de pessoas do mundo, informou a Procuradoria.Alvos de denúncia do Ministério Público Federal no âmbito das operações Estação Brás e Bengal Tiger, deflagradas em 2019, os réus pegaram penas de 7 anos e 6 meses a um deles, identificado como líder do esquema, e de 5 anos e 3 meses ao outro. Cabe recurso.O líder do esquema movimentou R$ 5,1 milhões entre 2013 e 2018, apesar de declarar renda mensal de aproximadamente R$ 8 mil, destaca a Procuradoria.As vítimas da organização eram principalmente de Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e Afeganistão. A principal porta de entrada no Brasil era o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Os imigrantes ingressavam no país com documentos ilícitos fornecidos pelo esquema. Depois eram levados a hospedagens no centro de São Paulo e só tinham permissão de seguir viagem após o pagamento integral pelos serviços ilegais.Os bengaleses que comandavam o esquema cobravam R$ 69 mil de cada imigrante – R$ 25 mil pela chegada ao Brasil e R$ 47 mil para o trajeto até os Estados Unidos.A Procuradoria destaca que as rotas ‘envolviam inúmeros riscos’. As vítimas cruzavam o Brasil em direção a cidades próximas à fronteira e, ao atravessá-la, tinham que percorrer, por terra, diversos países até a linha que separa o México dos Estados Unidos.Entre os perigos do deslocamento, assinala o Ministério Público Federal, estavam o ambiente hostil da Selva de Darién, na fronteira da Colômbia com o Panamá, e os sequestros praticados por cartéis mexicanos. Muitos morriam pelo caminho. Outros que conseguiam chegar aos EUA eram presos por imigração ilegal.Os dois bengaleses já haviam sido condenados por organização criminosa e promoção de migração ilegal em outro processo relativo às duas operações. As penas de reclusão agora impostas se somam às aplicadas na sentença anterior, de 14 anos e oito meses para o suposto chefe do esquema e de 8 anos e três meses ao seu cúmplice.A denúncia da Procuradoria pontua que, entre 2016 e 2018, os dois principais acusados e pelo menos outros 10 investigados articularam uma extensa rede clandestina de contrabando de imigrantes do sul asiático que passavam pelo Brasil rumo aos EUA.A base do grupo ficava no bairro do Brás, região central de São Paulo. Ali, o chefão mantinha uma agência de turismo e outros tipos de comércio usados para dar uma aparência de fachada legal às atividades ilícitas.A Polícia Federal constatou que outros integrantes da organização ficavam estabelecidos na Ásia e em outros países latino-americanos.Lavagem e falsa identidadeA nova condenação dos dois bengaleses foi imposta em ação penal sobre ocultação da origem ilícita de recursos levantados por meio do esquema de imigração ilegal.A PF apurou que os acusados lavavam dinheiro com o emprego do artifício conhecido como ‘smurfling’ – método que consiste na divisão do montante em pequenas quantias depositadas em diversas contas bancárias para despistar a fiscalização sobre a ilegalidade do valor total.Várias contas foram abertas com o uso de documentos dos imigrantes presos nos Estados Unidos, mas todas permaneciam sob controle do grupo. A PF e a Procuradoria descobriram que, muitas vezes, o líder do grupo assumia a identidade das vítimas e se fazia passar por elas para tratar de serviços bancários e autorizar transações.Para concluir a operação de lavagem, afirma a Procuradoria, os réus recorriam a doleiros, recebendo os recursos por depósitos a partir de agências em cidades fronteiriças, principalmente do oeste do Paraná.
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