“Toma gostosa, lapada na rachada/Você pede e eu te dou, lapada na rachada/E aí, tá gostoso?/Lapada na rachada/Toma toma toma…”
Não sei se as pessoas se dão conta do quanto muitas letras de músicas populares acabam alimentando não só “o uso violento do corpo da mulher”, sobretudo na hora do sexo, o que configura sua objetificação e desumanização, como também a famigerada cultura do estupro.
Os verbos, as ações descritas nessas letras estão sempre próximas à dor, à violação, ao machucar… Ações em que a força do homem sobre a mulher é impositiva e necessária.
Mas necessária para quem? Para reafirmar a masculinidade como algo beirando a selvageria? Para assegurar que é sob o julgo da força que se “doma uma mulher”? Ou para alimentar uma indústria pornográfica que se alimenta do sexo beirando o masoquismo, com todas as suas cenas fetichizadas e recheadas de mais dor que prazer?
Outra letra de música muito famosa, que virou hit de pagode, traz, por exemplo, a combinação nefasta de chicote, pau, espora, inseticida e furadeira para atacar a “barata da vizinha”. Barata, rachada, tcheca… a descaracterização do sexo feminino é uma premissa! Não pertence aos rótulos de humanização.
Não bastasse isso, outro problema dessas canções é, também, o fato de as mulheres serem determinadas ou descritas como se fossem meras genitálias, pedaços de um corpo, peças de carne. Será que é por isso que é tão fácil para os homens trocarem uma mulher por outra?!
Há um outro agravante que problematiza ainda mais esse tema: a massificação do discurso. Consumimos e assimilamos essas ideias como se fossem verdadeiras e inquestionáveis… Culturais e muito nossas. “É assim mesmo!” E naturalizamos a coisificação das mulheres e a violência contra seus corpos.
Esses dias conversando sobre esse assunto com uma amiga de trabalho, ela me apresentou uma música em que a atitude violenta na hora da transa é assumida pela mulher. A letra diz: “Todo dia eu quero pegar ela/ Não consigo dormir pensando na lapada dela/ Tô aqui pensando em cada movimento dela/ Tu não pega ela/ Ela é quem te pega”.
Menos mal!
Menos mal? Será?
Por mais que seja a mulher que na letra da canção não esteja “apanhando”, o sexo continua sendo popularizado como violento. E desconfio que isso possa contribuir para que as relações interpessoais, no tocante às questões de gênero, em um cenário de “amor e sexo” e para além dele seja saudável para a sociedade.
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