Em setembro de 2024, aumentou o número de acidentes envolvendo motociclistas no Rio Grande do Norte. O número de acidentes de moto aumentou 16,07% de 2022 para 2023, e houve um acréscimo de 17,74% de 2023 para 2024. Dados do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG), principal unidade de referência em traumas do estado, apontam 876 atendimentos de vítimas de acidentes de moto no último mês. Este número é superior ao mesmo período de 2023, quando 744 motociclistas foram atendidos, e significativamente maior que os 641 atendimentos realizados em setembro de 2022.
Um dado alarmante é que 57,1% dos entrevistados não possuíam habilitação para conduzir motos, e 59% não estavam usando calçado fechado no momento do acidente, optando por sandálias ou até andando descalços.
Além dos atendimentos, o volume de internações também cresceu. O HMWG registrou 263 internações de motociclistas em setembro deste ano, em comparação com 259 no mês anterior e 200 em setembro de 2022. A análise desses dados revela um cenário de alta acidentalidade, principalmente entre motociclistas sem habilitação e sem equipamentos de segurança adequados.
A pesquisa conduzida pelo Núcleo de Acesso e Qualidade Hospitalar do HMWG entrevistou 153 pacientes envolvidos em acidentes de moto, nos meses de setembro e outubro de 2024.
O estudo identificou que 78,4% das vítimas eram os próprios pilotos das motos, enquanto 15,7% eram passageiros. Além disso, 36,4% dos motociclistas acidentados não estavam usando capacete, item obrigatório de segurança. Apesar disso, 80,3% afirmaram que não haviam consumido bebida alcoólica, mostrando que o álcool não foi um fator significativo nos acidentes registrados.
A pesquisa também mostrou que a maioria dos acidentes ocorre na Grande Natal, principalmente em municípios como Natal (23%), Parnamirim (7,4%) e Extremoz (5,4%). O coordenador do Núcleo de Acesso e Qualidade Hospitalar do HMWG, Denis Job Nunes da Silva, ressalta que a falta de fiscalização em algumas regiões é um fator crítico para o aumento no número de acidentes.
“Mais de 30% das vítimas não usavam capacete, o que aponta falhas na fiscalização desses municípios e falta de conscientização dos condutores”, enfatiza Nunes. Segundo ele, o uso de equipamentos básicos de proteção, como capacetes e calçados adequados, é uma medida simples e efetiva para reduzir tanto a ocorrência de acidentes quanto a gravidade das lesões.
Causas dos acidentes
Os entrevistados apontaram como principais causas dos acidentes a imprudência de outros motoristas (41%) e a própria imprudência (29,5%). Além disso, 15,1% atribuíram os acidentes a problemas nas vias, como buracos, lombadas e areia nas pistas. A pesquisa sugere que motos de menor cilindrada, principalmente de até 125cc, estão mais frequentemente envolvidas em acidentes, possivelmente devido à inexperiência dos pilotos e à menor segurança oferecida por esses modelos.
Em resposta ao aumento dos acidentes, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN) promoveu em outubro uma reunião com entidades empresariais, por meio do projeto Trânsito Cidadão, com o intuito de discutir medidas para reduzir esses números alarmantes.
Para a coordenadora do projeto, a promotora de Justiça Danielle Veras, a resolução da problemática é complexa, e envolve o setor privado na conscientização e adoção de práticas de segurança.
“O MPRN verificou a necessidade de apoio do setor privado para combater os acidentes, especialmente com motociclistas que utilizam o veículo para trabalho ou deslocamento. Precisamos enfrentar essa problemática e buscar a redução desses casos”, afirmou Veras.
Entre as medidas propostas estão campanhas educativas, fiscalização intensificada e ações de conscientização para os motociclistas. A promotora Iara Pinheiro reforçou a urgência de promover uma cultura de autoproteção entre os condutores. “Precisamos que os profissionais que utilizam motos para trabalho adotem comportamentos mais cuidadosos e respeitem as normas de trânsito”, alertou.
Além disso, foi sugerida a criação de um selo de reconhecimento para estabelecimentos que incentivam boas práticas entre seus motociclistas, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e a manutenção regular das motos.
O coordenador do Núcleo de Acesso e Qualidade Hospitalar, Denis Job Nunes, ressalta que a falta de habilitação e o uso inadequado de equipamentos de proteção estão entre os maiores desafios para a segurança dos motociclistas no estado. Ele defende uma maior conscientização da população e o fortalecimento das fiscalizações nas estradas.
A promotora Danielle complementa que a precarização das condições de trabalho dos motofretistas, especialmente em tempos de crescimento de entregas por aplicativos, agrava ainda mais o problema. “Estamos discutindo melhores condições de trabalho para esses profissionais, para que a busca pelo sustento não se traduza em risco de vida”, pontuou.
A grande dificuldade, de acordo com Veras, é porque a grande parte desses motofretistas não são empregados. “Existe todo uma discussão jurídica em torno dessa matéria ligada aos aplicativos. Uma vulnerabilidade social que o pressiona agir mais rápido até pegar mais rápido”, esclarece a promotora.
Ela defende que a solução para o problema dos acidentes de moto passa por uma mudança de cultura e por uma maior conscientização da população sobre a importância de seguir as leis de trânsito. ‘É fundamental mudar essa percepção e mostrar à população que a fiscalização tem como objetivo principal salvar vidas’, explicita a promotora.
Além disso, ela enfatiza a necessidade de capacitação dos motociclistas e de uma maior integração entre o Ministério Público e as prefeituras para implementar políticas de segurança no trânsito.
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