Quase 30 anos depois de lançada a primeira aventura high-tech do espião Ethan Hunt, a série Missão: Impossível parece chegar a um ponto de conclusão nos cinemas, mas não necessariamente de seu encerramento. Este é possivelmente o fim da era Tom Cruise à frente da franquia que sobreviveu a todos esses anos mantendo, em bom estilo, as tramas de espionagem que fazem seus agentes percorrerem o mundo e enfrentarem desafios cada vez mais grandiosos e imprevisíveis, a fim de fazer jus ao título da saga.Foram sete filmes antes deste atual, nem sempre tão magistrais como o primeiro longa, dirigido pelo mestre Brian De Palma, em 1996, mas é incrível perceber como a série conseguiu se adequar aos novos tempos. Manteve-se eficiente como produto de ação e adrenalina, sem derrapar na mania de grandiloquência, armadilha que afeta grande parte das franquias do gênero.Este oitavo filme, O Acerto Final, é, na verdade, a segunda metade da trama iniciada com o longa anterior, Acerto de Contas. Mais do que concluir o confronto da equipe chefiada por Hunt contra uma inteligência artificial ardilosíssima e muito emblemática da nossa atualidade, o filme é uma grande celebração do legado do personagem defendido por Cruise durante todos esses anos.O ator mantém a imagem de homem viril e agente infalível mesmo aos 62 anos de idade, e o filme está muito interessado em comemorar tanto vigor e disposição – a todo momento, alguém nos lembra que Hunt é o único capaz de salvar a humanidade da catástrofe tecnologicista.Há momentos em que vemos um clip com cenas marcantes dos filmes anteriores, uma forma de estabelecer unidade dentro da franquia, mas com claro intuito de festejar a última missão do astro.No longa anterior, vimos como a Entidade – nome pelo qual a inteligência artificial passou a ser denominada – surgiu como o vilão da vez já que sua autoconsciência rapidamente viu a possibilidade de controlar toda a vida humana. O agente passou o filme inteiro em busca das duas partes de uma chave que seria capaz de acionar e controlar a Entidade, ao mesmo tempo em que ela própria é capaz de prever as muitas possibilidades de movimento dos agentes e vai fazer de tudo para impedi-los.Agora, é preciso encontrar o submarino onde está instalada a fonte física da IA, acionada por esta chave, antes que a própria Entidade passe a controlar os sistemas de inteligência militar das nações com maior potencial bélico e nuclear do mundo.Até mesmo a presidenta dos Estados Unidos (vivida por Angela Bassett) entra na jogada e se torna a demandante da missão para Hunt, que tem 72 horas para desativar a Entidade antes que o mundo inteiro esteja perdido.Ação estilosaChristopher McQuarrie assumiu a direção dos filmes da franquia desde Nação Secreta (2015) e foi um dos grandes acertos de Missão: Impossível, uma vez que a troca de diretores criava irregularidades narrativas e estéticas.Os últimos quatro longas, sob seu comando, goste-se mais ou menos deles, possuem uma unidade interessante, especialmente na maneira como a ação se tornou mais charmosa, sem perder o senso de realismo no limite do inverossímil.É uma identidade que se mantém aqui, uma espécie de continuidade estilosa das missões e do encadeamentos do fatos, reviravoltas e surpresas que sempre fizeram parte dos filmes da série. É o mesmo tipo de atualização bem-sucedida que temos visto nos filmes da série 007.
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Além de se juntar com novos aliados, como a ladra Grace (a ótima Hayley Atwell), que apareceu pela primeira vez no filme anterior, Hunt encontra velhos amigos, como os agentes Benji (Simon Pegg) e Luther (Vigh Rhames), tão eficientes como divertidos.Há ainda o vilão de carne e osso, Gabriel (Esai Morales), também interessado em se apossar da Entidade, mais o arqui-inimigo de Hunt, Kittridge (Henry Czerny), que apareceu no primeiro filme da série, vivido pelo mesmo ator.Como responsável indiretamente pelo surgimento da Inteligência Artificial, outro personagem do primeiro filme surge aqui, o cientista visto na icônica cena em que Hunt invade uma base militar e se pendura por um fio a um centímetro do chão.Com tudo isso, Missão: Impossível – O Acerto Final joga com a nostalgia, mas incorpora todas essas pontas no filme novo de modo coerente.Clima de despedidaSe esse for, de fato, o último filme de Cruise como o agente Hunt, podemos dizer que se trata de um ciclo exemplar e duradouro, apesar de alguns pontos baixos (como o terceiro longa da franquia e o já citado Nação Secreta). Mas mesmo esses filmes ajudaram a estabelecer a identidade e o legado da série.Além disso, toda história que é dividida em duas partes guarda sempre a desconfiança da real necessidade dessa escolha, sob a suspeita de apenas duplicar os lucros para o que poderia ser apenas um único filme.Seria até possível dizer isso da última missão de Hunt, mas McQuarrie consegue equilibrar muito bem a trama entre conflitos pessoais e ação desenfreada.Com isso, é preciso alongar as sequências de ação, mas elas acabam se tornando mais tensas e bem orquestradas – o trabalho de edição dos dois últimos filmes é primoroso, fora o uso potente da trilha sonora empolgante –, além de estarem mais abertas a brechas e surpresas. A aguardada sequência do submarino, por exemplo, é filmada no fio da tensão, enquanto uma perseguição em aviões ganha destaque pelo nível de risco e imprevisibilidade.De longe, pode parecer que as quase três horas de duração de cada um dos filmes sejam desnecessárias, mas a experiência de imersão, para os fãs de adrenalina, se dá de modo orgânico.Há algo um tanto didático e explicativo aqui – não só por necessidade em relembrar ao público dos detalhes do filme anterior, como também dos novos desdobramentos –, mas o que vale é quebrar a barreira da descrença e embarcar de cabeça em missões intransponíveis, até que Hunt nos prove o contrário.Missão: Impossível – O Acerto Final (Mission: Impossible – The Final Reckoning) / Dir.: Christopher McQuarrie / Com Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Esai Morales, Pom Klementieff, Henry Czerny, Holt McCallany, Janet McTeer / Salas e horários: cinema.atarde.com.br