Adoção na Bahia: Mais de mil famílias à espera, mas poucas crianças acolhidas

Às vésperas do Dia Nacional da Adoção, neste domingo, 25 de maio, tornam-se ainda mais evidentes os desafios enfrentados pelas crianças e adolescentes à espera de um lar. Na Bahia, o cenário é de luta, por parte de autoridades e lares de acolhimento responsáveis, em busca de um futuro com mais esperança para as crianças.Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), coletados em 23 de maio, atualmente existem 261 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, e um total de 1.367 pretendentes em busca de um filho. O número representa mais de cinco vezes a quantidade de jovens aptos a serem acolhidos. Segundo especialistas, a disparidade ainda se dá pela busca de perfis específicos pelos pais no processo de adoção.

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“Isso acontece porque, quase sempre as pessoas querem mais recém nascidos, do sexo feminino, sem irmãos, ou da cor da própria pele. Isso é natural, mas temos que repensar. É compreensível a pessoa que quer ter um filho querer viver todas as fases da vida da criança, mas nós temos muitas delas em condições de serem adotadas que não estão sendo procuradas. É importante que se tente fazer uma reflexão”, analisa o desembargador do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJBA), Salomão Resedá, coordenador da Infância e Juventude (CIJ).DisponíveisDas crianças disponíveis na Bahia, 67% são pardas, 27,2% são pretas, e 5,7% são brancas. Por faixa etária, os maiores de 16 anos estão entre os mais comuns, com 42 jovens no total, atrás somente dos que possuem entre 14 e 16, com 48. Os mais novos ainda aparecem em menor frequência, com apenas 15 para os de até dois anos e 11 para os que têm entre 2 e 4 anos. Além disso, são 144 crianças com pelo menos 1 irmão, ao lado de 117 que não possuem.Atualmente, o estado é o 6º com maior número de crianças disponíveis, atrás de São Paulo (1.162); Minas Gerais (693); Paraná (692); Rio Grande do Sul (590); e Rio de Janeiro (292). Ainda de acordo com o CNJ, foram 566 crianças e adolescentes adotados desde 2019.

Bahia é 6º com maior número de crianças disponíveis

|  Foto: Uendel Galter/Ag. A Tarde

Para Salomão, outro desafio é a demora no processo de adoção. Segundo ele, o prazo máximo para a conclusão da burocracia é de 120 dias, mas pode ser prorrogado devido a decisões judiciais. Por isso, o desembargador garante que o TJBA vem buscando uma maior agilidade: “O judiciário tem feito de tudo para buscar um desfecho mais rápido da ação adotiva. Infelizmente, em alguns casos, o atraso acontece devido ao não cumprimento de diligências das partes interessadas”.DesafiosPsicóloga da CIJ, Alessandra Meira ainda destaca a realidade desafiadora dos jovens que atingem a maioridade sem serem adotados. “Quando o jovem vai chegando numa idade mais avançada, próxima aos 18, a gente sabe que as chances de adoção são muito baixas. Então, é necessário trabalhar com adolescente e buscar na rede socioassistencial programas de profissionalização em que ele possa estar inserido, para que ele possa ir construindo uma vida autônoma, e quando sair do serviço de acolhimento ele tenha a possibilidade de se virar sozinho”.Fundadora do Lar Pérolas de Cristo, casa de acolhimento para crianças afastadas do convívio familiar, Vera Lúcia Guimarães relata: “Adolescente aqui é quase impossível de ser adotado, quase não conseguimos ter adoções tardias. A maioria dos casais só querem crianças brancas e recém nascidas, deixando vários outros meninos e meninas sem perspectiva. Tudo que eles querem é alguém que os ame, um pai ou mãe que possa dizer: ‘Meu filho, eu te amo’”.EsperançaNa Organização de Auxílio Fraterno (OAF), outro lar de acolhimento, Jennifer Vitória da Silva, de 14 anos, é uma das recém chegadas. Mesmo com a idade avançada, ela ainda tem a expectativa de que possa encontrar uma nova família: “Eu tenho muita esperança que um dia vou ter uma família ótima, que vai cuidar de mim do jeito que a ‘verdadeira’ não cuidou. Para mim, que já sou adolescente, aqui não é um lugar bom de se viver”.“Adotar é um ato de amor, de acolhimento, de paternidade ou maternidade. As crianças que estão nesses lares acolhedores, infelizmente, não tiveram a mesma sorte que outras. A instituição pode até ajudar, mas nunca vai preencher na vida dela a lacuna do pai e da mãe”, defende Josias Sousa, presidente da OAF.O processo de adoção é gratuito e deve ser iniciado na Vara de Infância e Juventude mais próxima. A idade mínima para se habilitar é de 18 anos, independente do estado civil, contanto que seja respeitada a diferença mínima de 16 anos de idade em relação a criança a ser escolhida.*Sob a supervisão da editora Isabel Villela

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