“No abraço a gente entrega o quanto ama”, de Fernanda Estellita.
Não é novidade, pelo menos para quem me acompanha, que costumo, muitas vezes, dar a largada para meus textos usando, como base, frases que me tocam. A que abre esta crônica caiu como uma luva para celebrar o Dia do Abraço, em vinte e dois de maio.
Mesmo no Brasil, em que somos mais efusivos ao cumprimentar, dificilmente vamos abraçar alguém no momento da apresentação. Afinal, o outro é uma incógnita, um desconhecido. Então, para evitar constrangimentos, estendemos a mão para um cumprimento formal ou, no máximo, aproximamos a face para um beijo discreto.
Isso porque os abraços ficam reservados para aqueles com quem temos certo grau de intimidade. Ainda nesse caso, é possível encontrar muita diferença entre eles. Há os abraços rápidos, com um leve encostar do corpo, breves, efêmeros, apressados. Esses denunciam que ainda falta a entrega dos envolvidos. Avançaram do aperto de mão e do beijo no rosto, mas negam o repouso e a aproximação mútua que, no gesto, faz-se necessário.
Homens costumam se abraçar e se estapear ao mesmo tempo. Quando você vir dois indivíduos depositando, com entusiasmo, vários tapas nas costas um do outro, não há outro veredito: existe afeto envolvido. Pais, filhos e amigos de longa data são exemplos clássicos desse tipo de euforia.
Contudo, lindos são os abraços que se encaixam perfeitamente, unindo dois corpos e formando um só, enquanto proporcionam aconchego e transbordam segurança.
Abraço que transmite a sensação de paralisar o tempo, silenciar vozes e de ser o melhor lugar do mundo.
Abraço que faz subir os batimentos cardíacos, acalma a alma, faz cafuné no coração, troca energia e dá vontade de permanecer ali.
Abraço de gente que fica feliz de ter nos encontrado e, por esse motivo, abre os braços, recebe-nos sem pressa e, mesmo que nenhuma palavra seja mencionada, é possível ouvir “fica aqui”.
Abraço sem parcimônia, apertado, envolvente, vibrante, provocativo. Há ainda aqueles que se multiplicam na hora da despedida, quase como uma senha para o “não vá”.
Beijo é ótimo, mas é no abraço que o amor começa.