A nova onda de reorganização da indústria global está abrindo oportunidades concretas para que o Rio Grande do Norte passe a agregar valor aos seus produtos e deixe de ser apenas exportador de matéria-prima.
A avaliação é do presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), Roberto Serquiz, que participou recentemente de missão internacional promovida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nos Estados Unidos e voltou convencido de que o Estado pode ocupar posição de destaque nesse novo cenário econômico.
“Hoje exportamos etanol para os EUA, onde ele é transformado em combustível de aviação e vendido à Europa. Essa transformação já poderia estar sendo feita aqui”, afirmou, em entrevista nesta segunda-feira 19 à rádio 94 FM.
Segundo ele, os efeitos da pandemia, as rupturas nas cadeias produtivas, a guerra entre Rússia e Ucrânia e o reposicionamento dos Estados Unidos em relação à sua indústria de transformação estão mudando a lógica do comércio internacional. O protecionismo americano, simbolizado pela adoção de tarifas de até 135%, vem acompanhado de um movimento de neoindustrialização que tem como objetivo reduzir a dependência externa em segmentos estratégicos.
“O que está em curso é uma mudança cíclica, como outras que a economia já viveu. Quem estiver atento aos sinais, pode ganhar espaço”, explicou.
Para o dirigente, o Rio Grande do Norte tem vantagens reais a explorar. Ele citou o investimento de R$ 1,5 bilhão na extração de ouro no município de Equador, o potencial das rochas ornamentais, como o granito, e o sal marinho produzido no Estado, que possui capacidade técnica para derreter gelo em uma hora nas estradas americanas.
“São produtos que, se transformados aqui, têm muito mais valor do que simplesmente exportados em estado bruto”, disse. No caso do etanol, o exemplo foi direto: “Os EUA lucram com um produto que sai daqui barato e chega à Europa com preço elevado, após ser processado”.
O presidente da Fiern também apontou as energias renováveis como campo fértil para o Estado. O Rio Grande do Norte é o maior produtor de energia eólica onshore do Brasil e já se prepara para entrar no mercado offshore.
A Federação mantém a Faeti, Faculdade de Energias Renováveis, dedicada à formação de mão de obra para o setor, além de uma usina fotovoltaica construída no local de um antigo campo de futebol, que hoje funciona como laboratório de eficiência. “A decisão de instalar essa usina foi difícil, mas necessária. Temos 10 fabricantes de inversores e várias empresas parceiras testando placas solares nesse espaço”, comentou.
Na mesma linha, o Senai opera o CTGÁS, um centro tecnológico com laboratórios voltados para manutenção de torres e medição da velocidade do vento, por meio de um túnel chamado anemômetro.
Segundo Roberto Serquiz, o equipamento é referência nacional e é utilizado para calibrar medições realizadas em todo o Brasil. O Senai também é responsável pela produção de boias que serão utilizadas na Margem Equatorial brasileira, entre Fernando de Noronha e o Amapá. “Tudo isso mostra que temos capacidade instalada e precisamos usá-la para fazer parte da transição energética em curso no mundo”, disse.
Serquiz também falou sobre a Semana da Indústria, que terá como abertura o programa “Ela Faz Indústria”, voltado ao empreendedorismo feminino. A agenda inclui ainda palestra do professor Paulo Vicente, da Fundação Dom Cabral, lançamento de pacotes promocionais em unidades do Sesi, Senai e IEL, festival musical com trabalhadores da indústria no Teatro Riachuelo e inauguração do Memorial da Indústria, com espaço para música, dança, teatro e artesanato.
Ele relatou ainda visitas feitas ao MIT e a Harvard, onde conversou com professores e até com um prêmio Nobel. O dado que mais o impressionou foi o número de estudantes chineses nas duas instituições: 811. “Todos com compromisso de voltar para o país. A Indonésia aparece em segundo lugar, com 211. A diferença está aí: quem investe em educação, forma quadros que impulsionam a indústria”, afirmou.
Ao final da entrevista, Roberto Serquiz voltou a convidar a sociedade a participar da Semana da Indústria e comentou que a Fiern está reforçando suas unidades em todo o Estado. Ele mencionou a clínica do Sesi na Prudente de Moraes, com capacidade para três mil atendimentos diários, e o trabalho do Instituto IEA, que tem formado profissionais e aproximado os graduados do mercado.
Também defendeu que o ambiente de negócios no Rio Grande do Norte precisa de mais segurança jurídica e previsibilidade. “Temos feito propostas concretas ao Governo do Estado nesse sentido. O empresariado potiguar precisa de condições para atuar com confiança”, concluiu.