A decisão de priorizar a educação no trânsito em vez da punição direta, orientada pelo prefeito Paulinho Freire (União Brasil), já mostra resultados práticos em Natal: as infrações por excesso de velocidade caíram 33% nos quatro primeiros meses de 2025 em comparação ao mesmo período do ano passado. Os dados foram apresentados pela secretária de Mobilidade Urbana, Jódia Melo, durante entrevista à rádio Jovem Pan News, ao comentar os efeitos da campanha “Desacelere, o seu bem maior é a vida”, desenvolvida pela STTU como parte das ações do Maio Amarelo.
Segundo Jódia, a diretriz do prefeito foi clara desde o início de sua gestão. “A gente tem trabalhado desde o início da sugestão do prefeito Paulinho Freire, muito intensamente, em tentar educar, educar, educar, elevar esse pilar”, afirmou a secretária, explicando que, mesmo com o avanço da abordagem educativa, a fiscalização ainda é necessária para aqueles que insistem em desrespeitar as normas. Ela informou que, entre janeiro e abril de 2024, foram registradas cerca de 66 mil autuações por excesso de velocidade em Natal. Em 2025, esse número caiu para aproximadamente 43 mil.
A campanha atual, elaborada em parceria com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura, utiliza vídeos de 30 segundos para impactar emocionalmente os condutores, com linguagem acessível e foco em todos os modais, de pedestres a motoristas de ônibus. A programação cobre os 31 dias de maio, com ações educativas em escolas, empresas, transporte público e espaços de grande circulação como shopping centers. “A gente quer sair da bolha e mostrar à sociedade que a STTU não é só um órgão que multa, mas que forma cidadãos no trânsito”, afirmou.
Além dos vídeos, a secretaria tem realizado palestras, simuladores educativos, demonstrações de primeiros socorros e oficinas com crianças e adultos, envolvendo parceiros como CPRE, PRF, Denit, Cruz Vermelha e o Ministério Público. Jódia contou que a programação do mês também inclui uma ação simbólica de inversão de papéis entre motoristas e ciclistas, para promover empatia entre os diferentes modais. No último final de semana do mês, a Prefeitura realizará um passeio ciclístico de 7 km e outro com motociclistas, ambos com foco na conscientização.
Boa parte da campanha é voltada aos motociclistas, considerados os mais vulneráveis no trânsito da cidade. Dados apresentados pela STTU indicam que cerca de 50% dos condutores de motocicletas que circulam nas vias urbanas do Rio Grande do Norte não são habilitados, seja por serem menores de idade, analfabetos ou por outros motivos. Em sete operações conjuntas realizadas em abril entre STTU, PRF e CPRE, 900 motociclistas foram abordados e 241 acabaram autuados — 25% do total. As irregularidades variam entre falta de documentação, ausência de equipamentos de segurança e problemas mecânicos.
Para enfrentar esse cenário, a Prefeitura lançou cursos gratuitos de pilotagem segura em parceria com o Ministério Público, voltados a trabalhadores da construção civil e outras categorias. “Eles são habilitados, mas não foram treinados para o dia a dia do trânsito. A ideia é oferecer formação prática para evitar acidentes”, disse a secretária. Segundo ela, os acidentes com motos representam não apenas uma tragédia pessoal, mas também prejuízos econômicos e sociais relevantes. “Muitas vezes, o motociclista é o provedor da família, e um acidente compromete toda a estrutura financeira e emocional do lar”, observou.
Jódia ainda comentou os desafios relacionados ao transporte por aplicativo. Ela afirmou que, apesar dos esforços do Ministério Público em obter dados junto às plataformas, as informações sobre motoentregadores são limitadas ou subdimensionadas, o que dificulta a criação de políticas específicas. “Muitos nem se identificam como entregadores no hospital, o que torna a base de dados frágil”, disse. A Prefeitura estuda regulamentações locais para definir regras claras de velocidade, jornada e condições mínimas para atuação de entregadores em Natal, mas reconhece que a medida precisa equilibrar segurança e realidade social.
A secretária também criticou o uso indevido de áreas de acessibilidade por motoristas que fazem retornos em canteiros rebaixados projetados para pessoas com deficiência. “É uma falta de respeito que compromete os avanços que a cidade tem feito para ser mais inclusiva”, afirmou.
Jódia reforçou que a mudança de cultura no trânsito depende de cada cidadão. “Não basta só a parte técnica. Tem que ter o querer das pessoas que fazem a mobilidade da cidade. E aí, sim, a gente vai conseguir os nossos objetivos. Juntos.”