Coronel Nunes, ex-vice-presidente da CBF, teve audiência sobre fraude em assinastura, cancelada. Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Ainda em um cenário em que o TJ-RJ constate fraude, à CBF é dada a chance de se defender, com base no direito ao contraditório e à ampla defesa. A entidade pode recorrer a instâncias superiores, conforme o Código de Processo Civil. Além disso, a entidade que comanda o futebol brasileiro pode apresentar embargos, apelações ou recursos especiais e extraordinários, dependendo do conteúdo da decisão do TJ-RJ. “Do ponto de vista jurídico, decisões da Justiça brasileira podem afetar a governança interna da CBF, sobretudo se implicarem a nulidade de atos decisórios ou comprometerem a legitimidade da atuação de seus dirigentes”, pondera Marília, em contraponto à Fifa, que prevê a não interferência estatal nas federações nacionais.“No entanto, quando decisões judiciais decorrem de ações movidas por instituições do próprio ordenamento jurídico (como o Ministério Público) e tratam da apuração de legalidade e validade de atos internos das entidades, há um espaço jurídico para compatibilização dessas esferas”, conclui.Veja também1Ednaldo é denunciado na Comissão de Ética da CBF em meio a anúncio de Ancelotti2Histórico contraria escolha por Carlo Ancelotti no comando da seleção brasileira3CBF convoca presidentes de federações em momento de turbulência após contratação de AncelottiNa prática, isso quer dizer que a Fifa pode se manifestar com base em relatórios e outras informações que receber, e até mesmo adotar medidas com base no seu próprio estatuto.Um exemplo aconteceu quando o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (SJTD), José Perdiz, foi indicado como interventor após o afastamento de Ednaldo Rodrigues, em dezembro de 2023. Fifa e Conmebol não o reconheceram como representante da entidade. Foi esse um dos argumentos do ministro do STF Gilmar Mendes para conceder a liminar que reconduziu Ednaldo ao cargo.Ednaldo Rodrigues corre risco de deixar a presidência da CBF?O TJ-RJ recebeu uma determinação do STF para investigar a possibilidade de a assinatura de Nunes no acordo que manteve Ednaldo Rodrigues no comando da CBF, homologado pela Justiça fluminense em fevereiro, ter sido falsificada. O caso veio à tona na última após uma perícia ser anexada ao processo.Dois pedidos de afastamento de Ednaldo Rodrigues foram protocolados junto à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que julga o processo eleitoral que levou o mandatário ao poder no STF.O primeiro foi assinado pela deputada federal e ex-ministra do Turismo Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), e o outro foi solicitado por Fernando Sarney, ex-dirigente da CBF e um dos signatários do acordo. Ambos questionam a validade jurídica do documento. O ministro Gilmar Mendes, relator do caso no STF, negou os pedidos.A perícia foi realizada a pedido do vereador carioca Marcos Dias (Podemos), presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio. Segundo a análise realizada por Jacqueline Tirotti, foram observados elementos que diferenciam a escrita.“A convicção que se pode depreender de todas as características observadas e considerando todas as limitações intrínsecas ao presente exame é de não identificação do punho periciado de Antônio Carlos Nunes de Lima”, diz o parecer.Outro ponto que põe em dúvida a autenticidade da assinatura é o fato de Nunes, de 86 anos, ter informado à Justiça sofrer de um tumor no cérebro e cardiopatia grave. Junto à perícia, foi anexado um laudo apresentado pelo Dr. Jorge Pagura, Chefe do Departamento Médico da CBF, em que o profissional indica que Nunes sofre de déficit cognitivo, especialmente após passar por uma intervenção cirúrgica considerada agressiva em 2023.Em 6 de maio, a CBF se manifestou sobre o assunto por meio de nota oficial. A entidade defendeu a legitimidade do processo e informou que não teve acesso à perícia e que análise está sendo utilizada de maneira midiática e precipitada.“A CBF enfatiza que todos os atos relacionados ao acordo mencionado foram conduzidos dentro da legalidade e com a participação de representantes devidamente legitimados. O processo foi legítimo e tem acordo homologado, estando pendente de um pedido de vista”, disse a entidade.Em meio ao anúncio de Carlo Ancelotti como novo técnico da seleção brasileira, movimento considerado nos bastidores como uma vitória política de Ednaldo, o dirigente se tornou alvo de três denúncias na Comissão de Ética da CBF por razões distintas. Entre elas estão denúncias de assédio dentro da entidade, gestão temerária e a própria suspeita de fraude no acordo homologado pela Justiça do Rio