O presidente Donald Trump disse cogitar aceitar um avião de luxo de US$ 400 milhões (equivalente a R$ 2,2 bilhões) da família real do Qatar. A oposição pede que o caso seja investigado.
Governo Trump avalia que presente não viola as leis anticorrupção do país, nem a Constituição. Segundo a imprensa americana, os advogados da Casa Branca garantiram ao secretário de Defesa, Pete Hegseth, que aceitar a aeronave é “legalmente permitido” porque doação será em nome dos EUA. Eles também consideraram que o presente não pode ser visto como suborno porque Trump não anunciará nenhum ato em benefício do Qatar.
Oposição pediu uma investigação após chamar os planos do governo de “corruptos”. Os democratas citam uma cláusula dos Emolumentos Estrangeiros, que proíbe que o presidente e outras autoridades federais aceitem presentes de potências estrangeiras sem a aprovação do Congresso.
Texto foi criado pelos fundadores dos EUA para evitar corrupção e influência estrangeira no governo. A cláusula está em vigor desde 1789, mas não estabelece penalidades. “Nenhum Título de Nobreza será concedido pelos Estados Unidos; e nenhuma Pessoa que ocupe qualquer Cargo de Lucro ou de Confiança sob a autoridade deles poderá, sem o Consentimento do Congresso, aceitar qualquer presente, Emolumento, Cargo ou Título, de qualquer tipo, de qualquer Rei, Príncipe ou Estado estrangeiro”, diz a cláusula 8 da nona sessão do artigo primeiro da Constituição americana.
Plano de Trump é transferir propriedade do avião no fim do mandato. Segundo fontes ouvidas pela ABC News, o Boeing 747-8 seria entregue à Trump Library Foundation. A transação também é vista como legal pela procuradora-geral Pam Bondi e outros advogados do Departamento de Justiça.
“Não sei quem precisa ouvir isso, mas não, Donald Trump não pode aceitar um palácio voador de US$ 400 milhões da família real do Catar. Isso não é apenas ridiculamente corrupto, como também flagrantemente inconstitucional”, disse o senador Bernie Sanders.
“Em vez de impor a ética, o Procurador-Geral colocou o selo de aprovação do Departamento de Justiça a uma transação que viola flagrantemente tanto a letra quanto o espírito da Cláusula de Emolumentos da Constituição”, disse o deputado Ritchie Torres em carta ao Departamento de Justiça e Gabinete de Ética Governamental.
“Nada diz ‘América em Primeiro Lugar’ como o Air Force One dado a você pelo Catar. Não é apenas suborno, é influência estrangeira premium com mais espaço para as pernas”, disse o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer.
“A Constituição é perfeitamente clara: não se pode aceitar nenhum presente ‘de qualquer tipo’ de um estado estrangeiro sem a permissão do Congresso. Um presente que você usa por quatro anos e depois deposita na sua biblioteca ainda é um presente (e um golpe)”, disse o deputado Jamie Raskin.
Serviço Secreto considera doação do avião como um “pesadelo de segurança”, disse uma fonte à CNN. “A Força Aérea dos EUA teria que desmontá-lo em busca de equipamentos de vigilância e inspecionar a integridade do avião”. O veículo também precisaria passar por adaptações para poder transportar o presidente do país e só ficaria pronto para uso no fim do ano, diz o New York TImes.
Se aceito, presente será o mais caro recebido pelo governo dos EUA. O anúncio deve ser feito entre os dias 13 e 16 de maio, durante viagem de Trump ao Oriente Médio. O presidente e sua comitiva devem embarcar ainda hoje para o Qatar.
Trump defendeu “presente” ao governo americano. Nas redes sociais, o presidente afirmou que o Boeing 747-8 seria destinado ao Departamento de Defesa para substituir o avião presidencial, que tem 40 anos. Em fevereiro, o presidente fez “tour” pela aeronave enquanto ela estava estacionada no Aeroporto Internacional de Palm Beach, na Flórida.