
Fenômeno atrai surfistas de todo o mundo, mas vem perdendo força com o avanço do mar, secas, barragens e erosão nos rios causadas pela agricultura e criação de gado. Surfista brasileiro em ondas em rio da Amazônia
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Surf em meio aos rios da Amazônia com ondas de até dois metros de altura. O fenômeno das pororocas atrai surfistas do mundo todo, mas agora eles estão preocupados que as mudanças climáticas possam colocar o seu fim em risco.
A pororoca é um dos mais impressionantes fenômenos da natureza. Ela é formada pela elevação súbita das marés no oceano que se encontram na foz dos rios. O encontro dessas águas gera uma onda que sobe pelo leito do rio e permite a formação de uma megaonda.
O surfista brasileiro recordista Sergio Laus é um dos apaixonados pela pororoca. Numa manhã no fim de abril, com a superlua ainda no céu garantindo a alta da maré ele caminhou por quilômetros de lama até o Rio Mearim, na ponta leste da Amazônia, para surfar na maior pororoca restante do país.
Laus surfa onda em rio da Amazônia
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“Uma onda quebra e se dissolve”, disse ele, comparando com as ondas do oceano. “Esta continua ganhando intensidade. É um tsunami na Amazônia”, conta. (Veja a imagem acima)
Mas o que ele vê hoje são ondas com metade do tamanho das que viu anos atrás. Elas são ainda menores do que as ondas de cinco metros que surfou no Rio Araguari, mais a oeste, antes que a erosão causada pela agricultura e pelas barragens secasse uma das maiores pororocas do Brasil.
“Olhando fotos antigas, eu disse: ‘Uau, olha o tamanho dessas ondas’”, contou. “Às vezes eu choro”, completou, explicando que sente falta das ondas enormes.
Laus, que quebrou dois recordes de surfe nas ondas mais longas do mundo, teme que o aumento do nível do mar e as secas provocadas pelas mudanças climáticas, somadas à erosão causada por represas e à ocupação agrícola, estejam alterando o equilíbrio que dá origem à pororoca.
Rio Araguari volta a registrar pororoca após 11 anos, no Amapá
E isso já começou a acontecer. No Rio Araguari, no leste do Amapá, um dos pontos mais conhecidos do país, o fenômeno desapareceu por 11 anos e só voltou em 2024. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a pororoca deixou de ocorrer após a construção de hidrelétricas e a abertura de canais para criação de gado na região.
A intervenção humana se soma aos efeitos das mudanças climáticas. Pesquisas mostram que o aquecimento global tem deixado partes da Amazônia mais quentes e alterado o regime de chuvas, afetando o volume de água nos rios.
Segundo o oceanógrafo Denilson Bezerra, da Universidade Federal do Maranhão, comunidades próximas ao Rio Mearim também perceberam que o mar está avançando mais para o interior. O movimento cria bancos de areia e novas áreas de manguezal que acabam bloqueando a maré.
“Sentimos o impacto disso na ocorrência da pororoca”, explica.