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Condição em que o corpo tem uma tendência aumentada a formar coágulos sanguíneos (trombos) de forma inadequada, a trombofilia é um problema que se agrava na gravidez, podendo prejudicar gravemente a gestação.Armando Lobato, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), explicou que ela acontece devido a alterações na coagulação do sangue, que podem ser hereditárias (genéticas) ou adquiridas.“Os coágulos podem se formar nas veias ou artérias e causar obstruções em diversas regiões do corpo, comprometendo o fluxo sanguíneo e podendo provocar eventos graves, como trombose venosa profunda, embolia pulmonar, infarto ou AVC”, explicou o médico.Junto com esses problemas, ele citou ainda outros riscos para a vida da mãe e do bebê: abortos de repetição, especialmente no primeiro trimestre; pré-eclâmpsia, descolamento prematuro da placenta, restrição de crescimento intrauterino (RCIU) e parto prematuro.“Essas complicações geralmente ocorrem porque a trombofilia pode interferir na formação adequada da placenta, reduzindo a oxigenação e o fornecimento de nutrientes ao feto”, contou.Nesta edição do Fala, Doutor!, a fim de conscientizar leitores, Armando deu outras informações sobre o problema.
Armando Lobato, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV)
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A Tribuna – A trombofilia pode surgir na gravidez?Armando Lobato: A trombofilia não costuma surgir durante a gravidez, mas sim ser revelada ou agravada nesse período. Muitas mulheres que têm trombofilia são assintomáticas até engravidarem.A gravidez, por si só, já é um estado com maior risco de trombose devido às alterações hormonais e de fluxo sanguíneo, o que faz com que mulheres com trombofilia tenham risco aumentado de complicações.É frequente ter trombofilia durante a gestação?A trombofilia não é considerada extremamente comum, mas também não é rara. Estima-se que cerca de 10% a 15% das mulheres que apresentam perdas gestacionais recorrentes ou complicações graves na gravidez tenham algum tipo de trombofilia.Ela é mais frequentemente investigada quando há histórico pessoal ou familiar de trombose, abortos espontâneos, pré-eclâmpsia severa ou restrição de crescimento fetal.A trombofilia pode matar a mãe e o bebê?Infelizmente, sim. Em casos graves e não tratados, a mãe pode sofrer embolia pulmonar fatal e o bebê pode morrer devido à falta de oxigenação e nutrientes, principalmente se houver trombose placentária.Riscos como parto prematuro extremo também aumentam a mortalidade neonatal. Por isso, o diagnóstico e o tratamento são fundamentais.Como evitar a trombofilia na gravidez?Não é possível evitar a trombofilia, especialmente se ela for hereditária. No entanto, é possível evitar as complicações que ela causa.Para isso, é importante realizar avaliação médica pré-concepcional em mulheres com histórico de trombose ou perdas gestacionais; investigar casos suspeitos com exames laboratoriais específicos e iniciar tratamento preventivo logo no início da gestação, se indicado.Quando a grávida está com trombofilia, o que deve fazer?A gestante com trombofilia deve ser acompanhada por obstetra de alto risco e hematologista ou angiologista, e realizar monitoramento fetal e placentário frequente.Além disso, usar, se indicado, anticoagulantes, como a heparina de baixo peso molecular (por exemplo, a enoxaparina) durante a gestação.Também há o caso de associar, em algumas situações, o uso de ácido acetilsalicílico (AAS) em baixa dose. O tratamento é individualizado, com base no tipo de trombofilia e no histórico obstétrico da paciente.Quais são os sintomas da trombofilia? É fácil identificar?A trombofilia, por si só, não causa sintomas diretos. Os sinais aparecem quando há formação de coágulos, como: inchaço e dor nas pernas (trombose venosa profunda), falta de ar súbita (embolia pulmonar), dor de cabeça intensa e súbita (AVC) e abortos espontâneos recorrentes.Ou seja, ela costuma ser silenciosa, e por isso o diagnóstico muitas vezes ocorre após uma complicação.Em um quadro geral, a trombofilia pode se manifestar em pessoas em quais outras condições?Quem tem histórico familiar de trombose, quando há imobilização prolongada (pós-operatório, viagens longas), quem faz uso de anticoncepcionais hormonais, tem a presença de varizes graves, câncer e ainda doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico.