Livro sou PANKARÁ será apresentado na 1ª Festa Literária dos Povos Indígenas de Itaparica

O livro “Sou PANKARÁ, sou indígena do Sertão de Pernambuco” será apresentado através da contação de histórias no dia 20/5, durante a 1ª Festa Literária Estudantil dos Povos Indígenas do Território de Itaparica- Ba. A obra foi escrita por Ana Selia Pankará e Thiago Pankará, e traz com traços autobiográficos apresentando uma narrativa sensível e educativa que valoriza a identidade indígena e o meio ambiente do semiárido brasileiro.

Através da protagonista Ana, uma criança indígena, e seu amigo umbuzeiro, a história constrói uma relação afetiva com a Caatinga e propõe reflexões sobre o preconceito, os estereótipos e a importância do reconhecimento da diversidade dos povos indígenas. É uma obra que, com simplicidade e profundidade, fortalece o orgulho das raízes culturais e promove o respeito à natureza e à pluralidade étnica.

A história de Ana, uma menina do povo Pankará, nasce do calor do sertão pernambucano e da força silenciosa da natureza.

Ana cresceu sob a proteção de seu melhor amigo: o umbuzeiro, árvore símbolo de resistência e sabedoria. Em suas sombras, Ana sonhava e conversava sobre os mistérios da vida. 

Segundo os autores da obra, o primeiro grande desafio superado foi a alfabetização: Ana leu, pela primeira vez, a palavra “mágico”. Um feito tão grandioso que lhe rendeu como prêmio um caderninho — mas o significado profundo daquela palavra ainda era um mistério que ela dividia em longas conversas com o seu umbuzeiro.”

Outra inquietação povoava seu coração: Ana tinha cabelos cacheados e vivia num mundo onde, muitas vezes, diziam que o “verdadeiro indígena” deveria ter cabelo liso, adornos e pinturas corporais diárias. Essas ideias homogeneizadas traziam tristeza e dúvida sobre sua própria identidade. Nesses momentos de dor silenciosa, Ana buscava consolo e palavras de força no colo de sua mãe.

A verdadeira compreensão da palavra “mágico” veio quando Ana participou de um encontro coletivo de Toré, onde vários parentes indígenas de diferentes aldeias celebravam a cultura viva. Ao sentir a dança, os cantos e a espiritualidade pulsando em seu peito, Ana entendeu: aquilo era a magia de ser indígena — múltipla, diversa e cheia de força.

A história também presta homenagem à professora que alfabetizou Ana, uma mulher respeitada entre o povo Pankará e mãe de um dos atuais caciques. Sua partida recente deixou saudades profundas, mas também um legado eterno no coração daqueles que aprenderam a sonhar por suas mãos.

Ana descobre, assim, que ser indígena é carregar orgulho nas raízes, plantar sonhos para o futuro e resistir com a beleza da diversidade. 

Sobre os autores

Ana Selia Rodrigues Novaes

Indígena do povo Pankará, a autora nasceu em Carnaubeira da Penha/PE. É professora do IFSertãoPE e doutora em Letras pela UERN. Participa do grupo de pesquisa Fauna e Flora da Caatinga e já atuou como coordenadora pedagógica e de biblioteca. 

Tem muita paixão pela leitura e educação, por isso, escreve artigos científicos e livros infantojuvenis. É mãe do coautor desta obra. 

Thiago Emanuel Rodrigues Novaes 

Indígena, natural de Floresta/PE. Formou-se em medicina pela UFFS de Passo Fundo/RS. O jovem autor encontrou a graciosidade na literatura, principalmente ao escrever com sua “mãinha”. Participa dos grupos de pesquisa, Fauna e Flora da Caatinga e Inovação em Saúde Coletiva: políticas, saberes e práticas de promoção da saúde. 

Debates literários, performances, ritual sagrado, oficinas de escrita e de arte indígena, exposição de artesãos de várias etnias, mostra fotográfica de estudantes indígenas e shows dos artistas Beatriz Tuxá, Wakay e Kaê Guajajara integram a programação do evento, que vai acontecer em Paulo Afonso e em aldeias nos municípios de Rodelas, Glória e Abaré. 

Uma festa multicultural com seis dias de duração promete movimentar Paulo Afonso e demais municípios do território de Itaparica, no semiárido baiano. A 1ª Festa Literária Estudantil dos Povos Indígenas do Território de Itaparica – FLEPITI acontece, de 16 a 21 de maio, com o tema “Memórias Opará, o rio de nossos ancestrais”. Nos três primeiros dias, o evento terá formato itinerante, passando por comunidades indígenas nos municípios de Rodelas, Glória e Abaré, e nos outros três dias o evento vai acontecer no Colégio Estadual de Tempo Integral de Paulo Afonso (CETIPA).

A  programação contará com, palestras, lançamento de livro, contação de histórias, encontros e debates literários, performances, oficinas, feira cultural, cineclube (exibição de documentários), apresentações musicais e poéticas. Realizada pela ONG Raso da Catarina, a FLEPITI conta com o apoio do CETIPA (Colégio Estadual de Tempo Integral de Paulo Afonso), das Prefeituras de Abaré, Rodelas, Glória e Paulo Afonso, Fundação Pedro Calmon e Governo do Estado da Bahia.

Com curadoria assinada pelo escritor e pesquisador indígena Ezequiel Tuxá e pelo doutor em Literatura e Cultura e professor da UNEB, Marielson Carvalho, a expectativa é que o evento reúna estudantes, professores, indígenas da região, inclusive suas lideranças, escritores, intelectuais, artistas e todos os interessados na cultura dos povos originários. “É um evento aberto à comunidade, uma Festa para celebrar a riqueza e diversidade da cultura indígena, destacando a importância da relação entre as águas do rio São Francisco (Opará), suas memórias e histórias, com atividades que abrangem literatura, artes visuais, cinema, dança, teatro, música e artesanato”, destaca Ezequiel Tuxá.  Segundo ele, o próprio tema do evento já tem essa expectativa de reposicionar o interesse sobre o legado que os povos originários deixaram para suas gerações no Território de Identidade de Itaparica e ampliar a visibilidade desses saberes.

“Esperamos que o trabalho literário, artístico e cultural de autores locais convidados para a FLEPITI possa ser expandido e ganhe outros espaços de leitura e formação, com a possibilidade de outras participações em eventos com foco nas culturas indígenas”, destaca Marielson Carvalho.  “Outra expectativa é que a partir das mesas, oficinas e rodas de conversa, consigamos ampliar o interesse pela leitura de textos indígenas nas escolas indígenas e não-indígenas do Território”, acrescenta.

Abertura com ritual sagrado e show em Paulo Afonso

A abertura da programação em Paulo Afonso será no dia 19, às 8 horas, com o Toré, ritual sagrado que reúne várias etnias indígenas do Nordeste brasileiro. “Através do ritual, reconhecemos a terra onde pisamos como viva, sagrada e habitada por memórias. É uma maneira de saudar os encantados, pedir proteção, e alinhar o espírito do encontro à cosmovisão dos povos originários”, explica Ezequiel Tuxá

Território de Itaparica

Com a maioria de seus municípios banhados pelo rio São Francisco, Itaparica é um território de identidade que fica no norte da Bahia, na divisa com Pernambuco, Sergipe e Alagoas, e possui uma forte presença de aldeias indígenas com 10 diferentes povos: Tuxá, Tuxí,  Tumbalalá, Xukuru- -Kariri, Kantaruré, Pankararé, Truká Tupan, Atikúns, Kariris Xokós e kambiwá karwará.

As comunidades indígenas ficam nos municípios de Abaré, Glória, Rodelas e Paulo Afonso.

Acessibilidade

Durante a FLEPITI, todo o conteúdo das rodas de conversas, mesas e debates da programação terá tradução em libras. Além disso, o espaço escolhido para sediar o evento, o CETIPA, é 100% adaptado para universalizar o acesso, com rampas, banheiros adaptados, piso tátil e placas.

O projeto foi contemplado no Edital de Apoio às Festas, Feiras e Festivais Literários (n° 01/2024), através do Programa Bahia Literária, com o apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria de Educação e da Secretaria de Cultura, via Fundação Pedro Calmon. O edital é direcionado na modalidade fomento à execução de ações culturais, conforme Decreto Federal nº 11.453/2023, Política Estadual de Cultura Lei nº 12.365/2011, Plano Estadual de Cultura Lei nº 13.193/2014, Plano Estadual de Educação da Bahia (Lei Estadual nº 13.559/2016) e Lei Federal nº 14.133/2021.

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