Por Dr. Jose Sion Cantos
Com alguma frequência nos deparamos com pacientes portadores de sintomas crônicos que já tentaram diversos tratamentos e usaram muitos medicamentos sem conseguir um alívio para seu sofrimento.
Perante a inefetividade dos tratamentos convencionais o médico acaba optando por terapias novas que tem validação científica para algumas doenças e que estão em fase de pesquisas para uma variedade de outros transtornos e doenças crônicas.
Como exemplos típicos podemos citar as dores crônicas, as crises convulsivas, a espasticidade muito frequente em doenças neurológicas como a esclerose múltipla, a insônia crônica e outros transtornos do sistema nervoso.
O estudo dos derivados da planta Cannabis Sativa (popular maconha) teve seu início ainda durante a segunda guerra mundial na década de 1940.
O uso medicinal da cannabis se deve à presença dos canabinoides na planta, sendo seus dois principais componentes o tetra-hidrocanabinol (THC) que é um composto psicoativo e o canabidiol (CBD) composto não psicoativo.
Esses fitocanabinoides exercem seus efeitos no sistema nervoso ao atuar no sistema endocanabinoide cerebral.
O sistema endocanabinoide somente foi identificado na década dos 90, existem grupos de neurônios que tem receptores específicos para as moléculas canabinoides.
Há também canabinoides que nosso corpo produz, são chamados de endocanabinoides, os mais conhecidos são a anandamida e o 2-AG.
Há décadas ficou comprovado que os fitocanabinoides apresentam propriedades anti-inflamatórias, antioxidativas e antinecróticas, eles tem também um perfil favorável de tolerabilidade e segurança.
Uma das peculiaridades na prescrição de fitocanabinoides é a resposta extremamente individual das pessoas no que se refere às diferentes formulações e doses.
Uma dose pequena pode ser muito eficaz em determinado paciente enquanto outro paciente com o mesmo sintoma pode precisar doses muito maiores.
Daí a importância tanto do conhecimento e da experiencia do prescritor e da necessidade de avaliações frequentes no começo do tratamento.
O CBD inicialmente foi oficialmente reconhecido como altamente eficaz em algumas síndromes epilépticas severas como a Síndrome de Dravet e a Síndrome de Lennox Gastaut.
O que observamos na prática clínica é que muitos outros pacientes portadores de epilepsias menos severas também se beneficiam com o uso dos fitocanabinoides reduzindo a frequência das crises, sua intensidade e muitas vezes conseguem reduzir a dosagem do anticonvulsivante tradicional.
Os efeitos positivos em casos de dores crônicas, dores provocadas pelo câncer, fibromialgia são evidentes e já existem publicações com número pequeno de casos reportando esses benefícios.
No Brasil a Anvisa aprovou a comercialização de extratos de Cannabis e já existem nas farmácias dezenas de nomes comerciais de fitocanabinoides em diferentes concentrações.
Uma ampla metanálise que revisou 101 artigos científicos que foi publicada em 2023 no British Journal of Medicine concluiu que os fitocanabinoides são eficazes para aliviar sintomas da esclerose múltipla, doença inflamatória intestinal, dores crônicas, medicina paliativa e epilepsia.
Barchel e colaboradores reportaram em 2019 que uma formulação específica de fitocanabinoides conseguiu diminuir em 68% os episódios de agressividade e de hiperatividade numa população de 53 jovens com autismo. Essas crianças também tiveram melhora na qualidade do sono.
Ainda há resistência para o uso de canabinoides tanto por uma parte da população quanto na própria classe médica.
Tudo indica que essas barreiras serão progressivamente vencidas perante a publicação de novos estudos e um maior conhecimento desta categoria de fitoterápicos.
Existem atualmente mais de uma centena de estudos clínicos com uso de fitocanabinoides em andamento em vários países incluindo o Brasil.
É provável que num futuro próximo o leque terapêutico do uso de derivados da cannabis seja muito mais abrangente.
Quando tudo parece perdido muitas vezes a resposta está ao nosso redor, na maravilhosa natureza.
Dr. Jose Sion Cantos
Brusque, 09 de maio de 2025
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