Pitança

Pitança, um prato esquecido na história de Paranaguá, é rememorado em rodas de conversa sobre o passado por poucos remanescentes. O termo “Pitança” significa “iguaria extraordinária” para ocasiões festivas, mas, em nossa região, referia-se a um molho de camarões ensopados com chuchu, iguaria outrora célebre, mas que se perdeu nas brumas do tempo.

O Coronel Theodorico, Prefeito Municipal entre 1900-1904 possuía uma notável aptidão diplomática e, durante os dois quadriênios de seu governo, sua principal preocupação era projetar Paranaguá no cenário nacional, tornando-a conhecida por figuras de relevância social, política ou econômica. Para esse fim, contratava um representante no Rio de Janeiro, incumbido de informá-lo por telégrafo sobre o embarque de personalidades com destino ao Sul. Senadores e deputados catarinenses, gaúchos e mato-grossenses, em trânsito do Norte para o Sul, dentro ou fora do período legislativo, recebiam a bordo a visita do prefeito, acompanhada de um convite para almoçar em terra. Enquanto isso, os imponentes “brigues” da antiga Companhia Nacional de Navegação, atualmente conhecida como Loyde Brasileiro.

Ao aceitarem o convite, os viajantes desembarcavam e permaneciam por mais alguns dias, hospedando-se na residência do Coronel ou nos tradicionais Hotéis Tristão e Martins. Durante a estadia, deliciavam-se, especialmente os rio-grandenses do Sul, com o célebre camarão ensopado, que conferiu notoriedade a Paranaguá. Posteriormente, ao viajarem do Sul para o Norte ou vice-versa, muitos desembarcavam espontaneamente, atraídos pela afamada “Pitança”, à qual denominavam “Os Camarões de Paranaguá”.

Essa diplomacia não representava perda de tempo ou recursos, pois o Coronel Theodorico habilmente direcionava as conversas para as necessidades do Paraná e de seu principal porto. Sua estratégia visionária foi fundamental para atrair a atenção de figuras influentes, consolidando Paranaguá como um destino reconhecido por sua hospitalidade e sua rica tradição gastronômica.

A culinária desempenha um papel fundamental na memória de um povo, e a Pitança constitui um exemplo eloquente dessa influência. Seu sabor inconfundível não apenas encantava os visitantes, mas também fortalecia os laços entre Paranaguá e o restante do país. Hoje, embora esquecida, a Pitança permanece viva na história e na identidade gastronômica da região, testemunho do engenho e da hospitalidade do povo parnanguara. Resgatar essa tradição culinária não apenas reaviva uma parte essencial de nossa história, mas também reforça os vínculos da cidade com suas raízes culturais, incentivando as futuras gerações a perpetuar essa deliciosa herança.

NASCIMENTO JUNIOR, Vicente. História, Cronica e Lendas. 1. ed. Paranaguá: [s. n.], 1980. 411 p.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.