
Ana Oliveira, para o Pragmatismo
Um homem de 35 anos morreu na manhã desta terça-feira (6) após ser brutalmente prensado entre as portas do trem e da plataforma da Estação Campo Limpo, na Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo. A cena, registrada por câmeras de segurança e acompanhada por dezenas de testemunhas, escancarou o colapso operacional e a negligência estrutural da ViaMobilidade, concessionária que administra a linha desde 2018.
O acidente ocorreu às 8h05, horário de pico no deslocamento da população trabalhadora da zona sul. A vítima, que faria aniversário em cinco dias, tentava embarcar quando ficou presa no vão entre as portas do trem e as de segurança da plataforma. Segundo relatos de passageiros, o homem foi arrastado e esmagado à frente de dezenas de pessoas em estado de choque.
“O trem passou por cima dele. Todo mundo ficou desesperado, começou a chorar. Ele ficou preso entre as portas”, relatou Bruno Moreira Costa, gestor comercial que presenciou o momento. “Está desesperadora a operação nos trens. Não tem segurança. Em todas as estações está ruim, mas aqui está grave.”
Apesar de alegar que os sensores de segurança e os alarmes visuais e sonoros estavam funcionando, a concessionária não foi capaz de evitar a tragédia. A ViaMobilidade, em duas notas públicas, atribuiu à vítima a tentativa de embarque após os avisos, reforçando um discurso de responsabilização individual que ignora falhas técnicas e a crônica ausência de agentes nas plataformas.
Sistema colapsado
O acidente não é um caso isolado. Em março, uma mulher ficou presa entre as portas na estação Vila Prudente, na Linha 2-Verde, administrada pelo Metrô estadual. À época, o trem não seguiu viagem e não houve feridos. No caso desta terça, a sequência de erros — humanos, técnicos e gerenciais — resultou em uma morte violenta que poderia ter sido evitada com uma operação minimamente eficiente.
A ausência de seguranças, a falha no sistema de sensores e a demora no acionamento de protocolos de emergência escancaram o descuido da concessionária, que opera sob regime de concessão pública. No mesmo dia, passageiros relataram paralisações de até 11 minutos nas plataformas da Estação Santo Amaro e lotação extrema em toda a linha.
“Pra você ver como está a situação. Cada vez pior. Precisamos nos resguardar, mas não temos segurança nenhuma. Está caótica a operação nos trens”, concluiu um passageiro em entrevista à imprensa local.
Privatização sob suspeita
Desde que assumiu a operação da Linha 5-Lilás, a ViaMobilidade tem acumulado falhas, acidentes e atrasos. A gestão privada, sob o discurso de eficiência e modernização, tem se mostrado incapaz de oferecer segurança mínima aos milhões de paulistanos que dependem diariamente do transporte sobre trilhos.
A tragédia na Estação Campo Limpo reacende o debate sobre os limites da terceirização de serviços públicos essenciais e os riscos da precarização da mobilidade urbana sob lógica mercadológica. Até o início da tarde, três funcionários da concessionária ainda prestavam depoimento na Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom). A identidade da vítima foi posteriormente confirmada pela polícia, mas não divulgada à imprensa por respeito à família.
A vida como estatística
A morte de mais um cidadão pobre no transporte público não pode ser tratada como fatalidade ou erro isolado. É resultado direto de um modelo de gestão que coloca metas contratuais acima da dignidade humana. Enquanto a lógica da velocidade e da lucratividade imperar sobre a segurança, novos acidentes continuarão a acontecer.
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O post Testemunhas desabafam após homem morrer prensado em metrô de SP: “Está caótica a operação nos trens” apareceu primeiro em Pragmatismo Político.