
Inquérito foi concluído e enviado para o Ministério Público Estadual e Ministério Público Militar. Quatro policiais vão responder por tentativa de homicídio e quebra de disciplina pela morte de Danilo Lipaus de 20 anos. Caso aconteceu em Colatina, Noroeste do Espírito Santo, no início de fevereiro de 2025. Polícia Civil conclui que erros de PMs causaram morte de jovem em Colatina
A Polícia Civil conclui que o assassinato do jovem Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, com 49 tiros em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, foi provocada por uma sequência de erros em abordagens da Polícia Militar. O caso aconteceu na madrugada do dia 1º de fevereiro.
De acordo com o inquérito, os militares confundiram o jovem com suspeitos de participarem de um assalto em outra cidade três dias antes.
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Imagens de câmeras de segurança registraram as quatro tentativas de abordagens realizadas pelos policiais e ajudaram a montar a cronologia da investigação.
Amigos da vítima relataram que o jovem ficou com medo de perder a carteira de motorista e por isso não obedeceu as ordens de parada e foi atingido pelos disparos.
“Ocorreu um erro, evitável, em razão da falta de cautela, falta de atenção e desproporcionalidade no número de disparos”, declarou o delegado titular da Divisão Especializada de Repressão às Ações Criminosas (Draco).
Com isso, o sargento Renan Pessimilio, o cabo Rodrigo de Jesus Oliveira e os soldados Eduardo Nardi Ferrari e Guilherme Martins Silva vão responder por conduta com indícios de crime militar e quebra de disciplina. Os militares foram indiciados por tentativa de homicídio e podem ir a júri popular.
Os advogados dos policiais Ramon e Rodrigo disseram que ainda não tiveram acesso ao relatório final da Polícia Civil e aguardam o documento oficial pra se posicionar.
Já a advogada da família da vítima também tenta acesso ao relatório.
Cronologia das quatro abordagens e fugas
Danilo Lipaus Matos, de 20 anos, foi morto com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo, durante ação policial
Reprodução
A investigação do caso começou na delegacia de Colatina, mas foi transferida para a Delegacia de Repressão as Ações Criminosas, a Draco, que fica em Vitória.
O inquérito apontou que equipes da Polícia Militar estavam desde às 23h15 procurando criminosos envolvidos em um roubo a mão armada que abandonaram uma caminhonete e fugiram a pé.
No mesmo momento, o jovem frequentava uma distribuidora de bebidas na região. Danilo deixou o local com alguns amigos na carroceria do carro.
A partir daí é feita a primeira abordagem da PM à 00h07. A ação foi registrada por uma câmera de segurança da região. A caminhonete branca da vítima é parada e um dos amigos cai da carroceria.
Outros jovens desembarcam e Danilo foge com um amigo que ocupava o banco do passageiro. Com isso, os militares avisaram no radiocomunicador sobre a fuga do motorista.
Mas de acordo com a Polícia Civil, os PMs não informaram que se tratava de uma abordagem motivada por infração de trânsito. Pouco depois, o carro foi parado por outra equipe e é possível ouvir o pedido dos policiais.
“PM, para, para, para para! Prioridade, prioridade!”, disseram os policiais durante a ocorrência.
Na quarta abordagem policial, o jovem de 20 anos Danilo Lipaus Matos, foi cercado pelos PMS e foi alvejado com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
Enquanto isso, a caminhonete com a vítima dá marcha ré, e foge em alta velocidade.
O delegado Tarik Souki, apontou que o policial é visto na imagem saindo do carro relatou em depoimento que viu um objeto que poderia ser uma arma no colo do amigo do jovem.
“O policial, ele se aproxima muito da janela do carona. E ele narrou que vê um indivíduo de cabelo vermelho, que levanta os braços, gira o tronco e faz menção de se entregar. E nesse momento ele vê. algo muito parecido com uma arma de fogo no colo desse carona”, disse o delegado.
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A terceira abordagem é realizada poucos minutos depois, 00h11. Mais uma vez, Danilo desobedece a ordem de parada e, pela primeira vez, dois dos policiais disparam pelo menos cinco vezes e atingem o carro. Os policiais alegaram legítima defesa.
“O motorista [da polícia] narra que acreditou que fosse ser atropelado, por isso pulou para dentro da viatura e efetuou um disparo de arma de fogo. O passageiro que está sentado atrás do banco do motorista, esclareceu que nesse momento estava em pé, com a porta aberta do lado de fora da viatura. Quando o Danilo passa, ele efetua quatro disparos na lataria. Eles alegaram que para repelir a injusta agressão, efetuaram disparos. Porém, as imagens de videomonitoramento mostram que mesmo após a passagem do veículo, há disparos de arma de fogo por trás do carro”, narrou.
Amigos acreditam que o jovem de 20 anos Danilo Lipaus Matos fugiu das abordagens policiais com medo de perder a carteira e acabou sendo morto com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
Durante a fuga, quando o carro de Danilo passa pelos policiais, um objeto é lançado no chão, mas a polícia não conseguiu identificar do que se tratava.
“Nós analisamos essa imagem dezenas de vezes, só fomos perceber alguns dias depois que Danilo havia dispensado algo pela janela. Quando nós retornamos ao local e pedimos ao proprietário da residência a disponibilização das imagens, ele disse que gravou por cima. As imagens então foram sobrepostas e não conseguimos mais fazer a análise para identificar com mais detalhes o que se tratava esse objeto”, pontuou.
Ainda de acordo com as investigações, o amigo de Danilo, com medo de ser baleado, pulou do veículo em movimento e se esconde.
Policiais que estavam em outro ponto e participavam da ação em busca de criminosos que teriam roubado uma caminhonete em Águia Branca, no Noroeste do estado, alguns dias antes, supõem se tratar de uma troca de tiros, e dão o alerta no radiocomunicador.
Danilo já estava sozinho no carro e é abordado uma última vez por outros policiais. Segundo o relatório da Corregedoria da Polícia Militar, o jovem é cercado e os PMs atiram. Nesse momento, Danilo é atingido e morreu com cinco tiros.
“Quando os policiais militares, da última tentativa de abordagem, encontraram Danilo, na cabeça deles, acreditaram que estavam agindo em legítima defesa. Só que era uma legítima defesa ilusória, imaginária. Ouvimos o amigo de Danilo duas vezes e ele falou que estava embriagado, não sabia o que tinha acontecido e acredita que Danilo fugiu porque estava com medo de perder a carteira de motorista. Também perguntamos sobre o objeto descartado pela janela, mas ele não soube explicar”, afirmou.
Caso segue em andamento
A Polícia Militar informou que enviou o inquérito da corporação para o Ministério Público Militar. Já o Ministério Público Estadual também afirmou que acompanha o caso e vai analisar os documentos para tomar as medidas cabíveis.
O MPES poderá manter, mudar os indiciamentos feitos ao fim do inquérito ou até mesmo solicitar novas provas e depoimentos antes de encaminhar o caso a Justiça.
Carro onde Danilo Lipaus Matos, 20 anos, foi atingido com mais de 40 tiros em Colatina, Espírito Santo, durante abordagem da Polícia Militar
Reprodução
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