Planejamento urbano é caminho para um trânsito mais eficiente

Integrar modais, valorizar o transporte sustentável, ampliar calçadas, investir em mobilidade vertical e estreitar o diálogo com a população: esses são apenas alguns dos caminhos possíveis — e necessários — para tornar Salvador e outras cidades baianas lugares onde circular seja mais seguro, eficiente e, sobretudo, humano.No mês de maio, em que se realiza mundialmente a campanha Maio Amarelo, a pauta da mobilidade humana e responsabilidade compartilhada ganha ainda mais visibilidade. A proposta é clara: conscientizar para preservar vidas. E, embora os desafios do trânsito urbano sejam reais, o momento é também de valorizar avanços, propor soluções e repensar comportamentos.Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre janeiro e abril de 2025, a Bahia registrou 1.060 sinistros de trânsito em rodovias federais, com 1.304 pessoas feridas e 145 mortes. Já em 2024, o estado contabilizou 4.038 acidentes, com 5.236 feridos e 610 óbitos. Na capital, os números da Transalvador também chamam atenção: 909 acidentes com feridos e 22 com mortes, somente no primeiro trimestre deste ano. As vias com maior número de registros incluem a Av. Luiz Viana Filho (68 acidentes), Av. ACM (52), Octávio Mangabeira (33), Afrânio Peixoto (29) e Silveira Martins (24).Mas, para além dos números, a pergunta que move especialistas e gestores públicos é: como transformar esse cenário? Para o professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Juan Pedro Moreno Delgado, o primeiro passo para a mudança é o planejamento urbano integrado. “O trânsito e a mobilidade são faces de uma mesma moeda. E não vamos resolver os gargalos do trânsito sem investir em mobilidade sustentável e numa cidade pensada para pessoas, não apenas para carros”, destaca.Entre as prioridades, o pesquisador reforça a importância de interligar diferentes meios de transporte, de modo que o pedestre, o ciclista, o passageiro do ônibus, o condutor do metrô e até mesmo o usuário de transporte por aplicativo compartilhem o espaço urbano com equilíbrio e segurança. Segundo ele, Salvador ainda enfrenta o desafio de não possuir uma rede pública de transporte verdadeiramente articulada — o que contribui para o aumento do uso de veículos individuais e o consequente impacto no trânsito e no meio ambiente.“A cidade tem ciclovias, mas não estão conectadas a estações do metrô ou a corredores de ônibus. Temos passeios precários, calçadas mal conservadas e, apesar da topografia íngreme, faltam opções de transporte vertical, como planos inclinados e elevadores urbanos, especialmente em regiões de grande circulação”, analisa.Exemplos como o Plano Inclinado da Liberdade e o Elevador Lacerda, quando operando plenamente, mostram como soluções criativas e adaptadas ao relevo podem ser eficazes. “Esses modais deveriam estar presentes em outras regiões da cidade e integrados ao sistema de transporte público como parte do plano de mobilidade urbana”, sugere Moreno.Ele ressalta, ainda, o papel de parcerias com outros órgãos. O Programa Vida no Trânsito (PVT), por exemplo, reúne esforços da PRF, Ministério da Saúde, governo estadual, prefeituras e instituições como a UFBA, para mapear sinistros, identificar fatores de risco e propor medidas preventivas. “É uma estratégia que tem mostrado resultados positivos porque atua de forma integrada e contínua”, destaca o pesquisador.O tripé da mudançaNa esfera federal, a PRF reforça a importância de um trabalho intersetorial e contínuo. De acordo com o policial rodoviário federal Fábio Rocha, a instituição tem direcionado esforços à fiscalização em pontos estratégicos e adotado o uso de tecnologias como radares móveis, monitoramento eletrônico e análise de dados para mapear áreas críticas, ou seja, a mudança no trânsito acontece por meio do tripé: tecnologia, fiscalização e educação.“Focamos em coibir condutas de risco, como o excesso de velocidade, ultrapassagens indevidas e direção sob efeito de substâncias. Além disso, promovemos ações educativas que aproximam o cidadão do tema segurança no trânsito, gerando conscientização e mudança de postura”, afirma Rocha.Avanços e desafiosPara o superintendente de Trânsito de Salvador, Diego Brito, a cidade vem avançando, mas ainda há muito por fazer. Segundo ele, o trabalho da Transalvador está dividido em três eixos: engenharia de tráfego, fiscalização e educação. E dentro disso, novas ideias estão em curso.Uma das ações recentes mais bem-sucedidas foi a implantação da motofaixa na Av. Bonocô, que reduziu em cerca de 60% o número de acidentes com motociclistas apenas no primeiro mês de operação. A experiência pode ser expandida para outras vias da cidade.“Também estamos atentos às áreas escolares, com projetos para melhorar a fluidez e segurança no entorno desses polos geradores de tráfego. Entre as propostas estão a ampliação de monitores de tráfego e reforço na sinalização”, destaca Brito.Outra preocupação é com a verticalização urbana, com a construção de grandes empreendimentos imobiliários, que tem concentrado grandes fluxos de veículos em áreas com infraestrutura viária limitada. “Nossa missão é equilibrar fluidez e segurança em um cenário de crescimento populacional e urbanístico constante”, acrescenta o superintendente.
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