A Agência de Notícias das Favelas está entre as 50 organizações escolhidas para integrar o Programa de Formação em Captação e Gestão para Organizações de Favelas, uma iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que começa oficialmente nesta segunda-feira (5).
Com recursos vindos de emenda parlamentar do deputado federal Pastor Henrique Vieira, o programa é realizado pelo Escritório de Captação de Recursos da Fiocruz em parceria com o Plano Integrado de Saúde nas Favelas. Ao todo, 146 organizações participaram do processo seletivo.
O objetivo do programa é fortalecer a institucionalidade e sustentabilidade das organizações sociais atuantes nas favelas, especialmente por meio da formação em captação de recursos e gestão. A deputada estadual Renata Souza destacou a importância da presença de coletivos da comunicação entre os selecionados. “É fundamental que parte dessas organizações seja do campo da comunicação para que conteúdos e informações de programas e políticas públicas cheguem de maneira adequada e assertiva aos moradores das favelas e periferias”, afirmou.
Para o Pastor Henrique Vieira, a destinação dos recursos a uma iniciativa como essa representa um investimento estruturante.
O diretor-executivo da Fiocruz, Juliano de Carvalho Lima, reforçou que os pilares da instituição — Ciência, Saúde e Educação — estão diretamente ligados à necessidade de investimento prioritário em territórios periféricos. “Para garantir a vida, é estratégico o investimento prioritário em favelas e periferias. Não somente de fora para dentro, mas a partir dos saberes produzidos pelos seus próprios moradores.”, disse.
Representando as organizações selecionadas, Ariana fez um chamado à reflexão sobre os critérios exigidos em programas de investimento público. Ela mencionou, por exemplo, a necessidade de revisão das contrapartidas no BNDES Periferias, programa que destinou R$ 235 milhões em investimentos, distribuídos em três chamadas públicas.
Durante a abertura do seminário que marca o início da formação, estiveram presentes Guilherme Simões (Secretário Nacional de Periferias), Tereza Campello (Diretora Socioambiental do BNDES) e Patrícia Kunrath (Coordenadora de Conhecimento no GIFE).
Guilherme Simões destacou a histórica ausência do Estado nas favelas e o subinvestimento crônico nesses territórios. “Mesmo movimentando cerca de R$ 170 bilhões de forma avassaladora, as favelas foram forçadas a desenvolver tecnologias sociais próprias para ocupar os espaços de ausência do poder público. Ainda que o investimento esteja crescendo, isso acontece em um contexto de incoerência com um verdadeiro projeto de país. Aumentar o financiamento é essencial, mas ele deve estar aliado a novos interesses, a uma mudança estruturante”, defendeu.
Patrícia Kunrath chamou atenção para os desafios do investimento social privado junto às organizações de base. “Ainda patinamos em relação à filantropia direta junto a organizações das favelas e periferias, muito por questões de controle, contenção e confiança. Os conselhos dessas instituições são, em sua maioria, formados por homens brancos. Os investimentos que ocorrem acabam sendo aplicados de maneira indireta, via organizações de fora das favelas.”
Tereza Campello indicou a possibilidade de expansão nacional do Programa de Formação com apoio do BNDES.
Carmen Valdez, diretora do Grupo ANF também presente no evento, reforçou que a desigualdade nas favelas é resultado direto de uma dívida histórica do Estado brasileiro. Para ela, “somente com uma nova perspectiva de mundo e de valores essa realidade poderá ser superada”.
A seleção da Agência de Notícias das Favelas reforça o protagonismo das organizações da comunicação no fortalecimento das redes locais e na luta pelo acesso a direitos básicos nas periferias urbanas.
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