Monitoramento climático ganha força na prevenção de pragas e doenças nas lavouras

O aumento da temperatura, mudanças na umidade do ar, quantidade de chuva, entre outras variações climáticas, elevam as chances de que pragas, doenças, microorganismos e insetos se proliferem, mudem de espaço geográfico, invadam novos lugares ou apareçam com mais frequência. A partir dessa situação, o avanço das ferramentas de monitoramento climático se torna um verdadeiro aliado no tratamento fitossanitário.“O clima pode ser nosso maior aliado ou vilão”, aponta Jailson Rocha, engenheiro agrônomo, que descreve esses impactos no seu trabalho de produção de bananas-da-terra: “A cultura agrícola em que eu trabalho sofre diversos problemas de doença relacionados a fungos fitopatogênicos. Se o clima mudar, ele pode ser favorável ao produtor ou ao patógeno, no caso, aos fungos”. Ainda que não utilize tecnologias avançadas de monitoramento, ele diz ser impossível descartar a importância do assunto: “O produtor está o tempo inteiro pesquisando sobre o clima, previsão do tempo, probabilidade de chuva, velocidade do vento, precipitação, que horas vai chover ali, quantos milímetros. “Buscamos na internet, e usamos essas informações a nosso favor. Hoje, poucos produtores passam um ou dois dias sem olhar a previsão do tempo”.Controle fitossanitárioO controle fitossanitário é a técnica de proteção das plantas contra doenças, pragas e plantas daninhas. A ação serve para garantir a saúde das plantas e evitar perdas nas produções agrícolas. Pode ser feito de diferentes formas, como o controle químico, biológico, cultural, físico, mecânico e de forma preventiva, como no caso das tecnologias de monitoramento. Atualmente, os produtores podem ter acesso a uma variedade dessas tecnologias. As principais são: estações meteorológicas automáticas, instaladas em uma propriedade ou em redes maiores; sensores de solo, que monitoram a umidade do solo e são eficazes para avaliar as necessidades de irrigação das lavouras; drones, equipados com câmeras e sensores climáticos e infravermelhos, identificando necessidades como irrigação, riscos de pragas, danos ambientais e até déficits de nutrientes; e softwares de monitoramento, aplicativos digitais que usam dados de satélites e de ferramentas meteorológicas para oferecer essas previsões de forma mais acessível.O aplicativo Monitora Oeste, lançado em 2022, parceria entre a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é um bom exemplo de tecnologia de monitoramento. Com alertas em tempo real sobre a ferrugem da soja, ramulária e o bicudo-do-algodoeiro, principais doenças nas lavouras de soja e algodão no oeste da Bahia. O aplicativo é gratuito e produtores, gerentes e técnicos das propriedades podem inserir dados na plataforma, contribuindo para o processamento de informações. Alessandra Zanotto Costa, presidente da Abapa, conta que o aplicativo é baseado em sustentabilidade, conhecimento e inovação: “Uma ferramenta tecnológica que apoia o produtor na tomada de decisões mais conscientes, reduzindo impactos ambientais e promovendo ganhos econômicos e sociais. Como fomentadora de pesquisa e desenvolvimento, a Abapa investe continuamente em soluções que fortalecem a cotonicultura brasileira, enfrentando desafios históricos como o bicudo-do-algodoeiro, a pior praga da nossa cultura”.Antônio Carlos Araújo, gerente do Programa Fitossanitário da Abapa, explica como a tecnologia funciona: “Dentre as fontes de informação utilizadas para alimentar o Monitora Oeste estão as ‘armadilhas’ para o bicudo, que geram indicadores de infestação da praga em cada um dos 18 núcleos de produtores. Estes núcleos foram a forma que a Abapa encontrou para zonear as unidades de produção para efeito de monitoramento. Há também os ‘caça-esporos’, que cumprem a mesma função de geradores de dados, mas voltados à ferrugem e à ramulária. O monitoramento dos caça-esporos é semanal, e as lâminas com o material coletado são analisadas pela Fundação Bahia. Para dados climáticos, são utilizadas as estações meteorológicas das propriedades, monitoradas pela Embrapa Territorial”.Impactos no agroO meteorologista e especialista em clima, mudanças climáticas e seus impactos no agronegócio, Willians Bini, explica que, entre os benefícios do monitoramento, está a maior eficiência no manejo: “O que acaba trazendo um retorno financeiro é a melhoria da produtividade. Se houver melhora no manejo, no monitoramento das condições, automaticamente há na produtividade, consequentemente dando um maior retorno sobre o investimento”. Ele destaca também o benefício da sustentabilidade: “Se evitar uma aplicação, além da parte financeira, tem a questão benéfica para a natureza. É estar deixando de usar produtos químicos, sejam eles biológicos ou não. Então, para o produtor rural, é extremamente importante na parte financeira na proteção ambiental”.Iala Serra Queiroz, educadora ambiental e técnica em meio ambiente, trabalha com agricultura familiar e social, conta sua experiência com o monitoramento, usando o pluviômetro (para medir a quantidade de chuva que caiu em uma região), e o tensiômetro (medir a tensão da água no solo): “O uso fez com que os agricultores usassem menos água no plantio e, consequentemente, muitas doenças fitossanitárias relacionadas ao excesso de água no solo e nas raízes fossem reduzidas. O próximo passo do projeto é investir em drones para otimizar e aumentar a lavoura”. A agricultora disse que houve redução de energia, além da redução de agrotóxicos, que interfere na saúde do meio ambiente e até na do agricultor, diminuindo os custos de produção.Apesar dos benefícios, ainda há um certo receio dessas ferramentas por parte de alguns produtores. Willians acredita que parte disso vem da falta de conhecimento: “O desafio para uso dessas ferramentas não é o financeiro, por ser um investimento baixo. Trata-se justamente de uma mudança de mentalidade”. A questão da conectividade também é um fator de escolha: “Os equipamentos de medição climática no campo têm que estar conectados e chegar até uma central. Essa informação tem que chegar o quanto antes, de preferência online. Para isso, é preciso ter conexão, via celular ou satélite. E hoje, no Brasil, o sinal de rede não chega a todos os lugares. Nós temos um problema seríssimo de conectividade. Então acaba que o produtor escolhe investir mais em equipamentos via satélite, por exemplo”. Ainda assim, ele enfatiza que os avanços tecnológicos serão importantes para a resolução dessas questões no campo.*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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