O hábito de dispensar o profissional de medicina, preferindo uma aposta no próprio diagnóstico, seguido da escolha de um medicamento, por conta e risco, carece de investigação científica para estabelecer as causas do corajoso comportamento.Não se sabe a quantas anda a confiabilidade nos homens e mulheres de jaleco; tampouco se o costume tem sua gênese na ocupação portuguesa e desde então, fixou-se; nem se conhece, com o rigor da ciência humana, qual o impacto da internet neste contexto.Tem-se de mais recente uma enquete promovida pelo grupo midiático paulista “Folha”, indicando nove entre dez brasileiros habituados a desfavorecer requisições e receitas, evitando aviar prescrição na farmácia.Do lado das corporações médicas, acumulam-se certezas e vereditos, alertando para o perigo da automedicação, desde o comprimido contra sintomas leves, gravidez e disfunção erétil até a arritmia cardíaca.Não tanto por algum sintoma no caixa da clínica, pois a clientela fiel preenche a agenda – apesar dos milhões de ausentes -, o discurso em tom de boa intenção aponta para o agravamento dos quadros patológicos, o disfarce de enfermidades graves e o atraso nas terapêuticas.Além da participação de programas de pesquisa em pós-graduação de universidades e estabelecimentos reconhecidamente capazes, é possível pleitear uma política exclusivamente dedicada ao tema, pois trata-se de uma pauta de saúde pública.Como agravante, o Brasil mergulhou durante quatro anos (2019 a 2022) na escuridão negacionista, implicando em descrédito do conhecimento, tendo germinado suas sementes do mal, paradoxalmente, com apoio de órgãos representativos de Asclépio.No convívio corriqueiro do cotidiano, o tom monocórdio das queixas de quem presta o juramento de Hipócrates tem sido insuficiente para conter a automedicação, em tempos de plena contradição, nos quais o acesso fácil a um oceano de informações permite uma sensação de comodidade, sem saber se custará a vida ou um aleijão por falta de prudência.
A aposta na saúde
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