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O vício em remédios para dormirA inflexibilidade de alguns pacientes é um obstáculo para barrar a automedicação segundo a neurologista Priscila Leite. “As pessoas não querem mudar hábitos e preferem uma fórmula que resolva tudo”, afirma. Em casos de dificuldades para dormir, Priscila é taxativa quanto a importância da adoção de um estilo de vida mais saudável para uma real mudança.Ela explica que inserir atividade física e uma alimentação mais nutritiva pode melhorar a qualidade do sono e inibir a necessidade do uso de medicação. “Mas, no geral, os pacientes acham isso muito difícil e preferem um remédio para apagar e dormir”, pontua.A médica explica que os benzodiazepínicos estão disponíveis nas farmácias como uma opção terapêutica para tratar quadros psiquiátricos, como a ansiedade. Com o tempo, no entanto, a experiência clínica e os estudos revelaram que o uso dessas medicações requer uma série de cuidados. O clonazepam, por exemplo, comercializado no Brasil sob o nome de Rivotril, é hoje um dos medicamentos mais consumidos no país, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).A principal recomendação da neurologista é limitar o uso a períodos curtos, preferencialmente de poucos dias, ou em situações pontuais de emergência, sempre com acompanhamento médico rigoroso. O uso contínuo desses medicamentos por semanas ou meses, sem o devido controle, pode levar à tolerância – o que significa que o organismo passa a precisar de doses cada vez maiores para alcançar o mesmo efeito. “Neste caso, a minha conduta é tratar a insônia, fazer o desmame e cuidar do transtorno de ansiedade”, fala Priscila.A neurologista explica que nem toda dor de cabeça exige uma ida imediata ao consultório médico. Em casos mais simples – como dores tensionais e sem sintomas associados – não há necessidade urgente de buscar atendimento especializado. “Se a dor é isolada, sem enjoo, vômito, sensibilidade à luz ou ao som, pode ser apenas uma dor de cabeça comum”, explica.No entanto, ela alerta que o quadro muda se houver frequência e sintomas adicionais. “Três crises por mês durante três meses já é um sinal claro de que é preciso procurar um neurologista”.
A neurologista Priscila Leite
| Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE
Tadalafila antes do treino? Urologista faz alerta Outro medicamento altamente comercializado no país, com consumo estimulado na internet e comumente usado sem prescrição médica é a tadalafila. O remédio, que ficou famoso no Brasil como “tadala”, é usado principalmente para tratar disfunção erétil. No entanto, como explica o urologista Anderson Luttigards, há um uso indiscriminado do medicamento por parte de homens que buscam um suposto aumento do desempenho sexual de maneira artificial. “Eles acabam usando doses muito maiores do que é prescrito habitualmente”, conta. Segundo o médico, o perfil de uso da tadalafila mais comum são pacientes jovens, em torno dos 20 anos.Além da procura pela performance sexual, há quem use o medicamento antes de praticar exercícios, pontua Anderson. Esse recorte chama a atenção do especialista pelo uso indiscriminado cada vez mais evidente em consultório. “Como o remédio é um agente vasodilatador, algumas pessoas tem feito uso para gerar uma espécie de vasodilatação da musculatura”, diz. “Só que não há evidência de efeito e eu percebo um número grande de pacientes usando”.O consumo indiscriminado do medicamento, especialmente sem orientação médica, pode trazer riscos sérios à saúde. “Pacientes com patologias não conhecidas podem ter problemas graves, como alterações cardíacas ocultas ou disfunção renal”, alerta o urologista. Ele ainda destaca que a automedicação favorece interações perigosas com outros remédios e, mesmo em pessoas saudáveis, o uso abusivo pode levar ao aumento da dose e da frequência sem necessidade clínica.Brasileiros viciados em remédioOutra substância usada de forma recreativa por pacientes e que se tornou uma dor de cabeça para os especialistas nos consultórios são os antibióticos. Alguns pacientes usam o medicamento assim que surge um sintoma, sem qualquer prescrição médica. De acordo com Anderson, o hábito só atrapalha o tratamento da doença. “É perigoso porque favorece o surgimento de bactérias mais resistentes”, explica. “Com isso, tratar infecções se torna muito mais difícil, podendo até exigir internação hospitalar para receber medicação intravenosa”.O costume de tomar antibióticos de forma inadequada encontra um dificultador na resolução da Anvisa de 2010 que determina que a venda do medicamento só pode ocorrer mediante apresentação de receita médica. Porém, o ginecologista José Carlos Macedo alerta que ainda existem estabelecimentos que efetuam a venda sem tanto controle. “É algo que precisamos observar porque o uso de antibióticos sem acompanhamento pode dificultar e prolongar tratamentos”, avisa.Abrir mão da consulta médica e preferir o aconselhamento da internet pode ser uma fuga encontrada por pessoas transexuais com receio da discriminação ainda presente em parte dos serviços de saúde. Essa prática, embora compreensível diante do preconceito, expõe esses pacientes aos riscos da automedicação. José Carlos compreende a situação, no entanto diz que o problema não está apenas relacionado à identidade de gênero, mas a uma cultura mais ampla no Brasil. “A automedicação é uma questão social, não importa o gênero. As pessoas perguntam ao amigo, ao Google, se baseiam na experiência do outro e isso é um perigo”, diz.