

O preço do tomate subiu mais de 32%, de acordo com a prévia do IPCA-15 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sozinho, ele respondeu por 18,6% da alta registrada no índice, sendo o item que mais pressionou a inflação em abril.
Este foi o segundo mês consecutivo de alta de dois dígitos no preço do tomate. Em março, o aumento foi de 12,57%. No acumulado de 12 meses até abril, a alta é de 3,93%.
Em Juiz de Fora, a disparada de preços também é observada. Na Central de Abastecimento (Ceasa), o tomate registrou alta de 25% no período analisado pelo IPCA-15, entre 18 de março e 14 de abril deste ano.
O responsável pelo Box Nutri Sempre, localizado no Mercado Municipal, Márcio Henrique Pereira Poçal, afirma que os custos foram repassados ao consumidor. “O reajuste foi significativo. Se antes era R$ 6, passou para R$ 12 — um aumento de 100%”, explica.
Embora o tomate não seja considerado um alimento insubstituível, a escalada de preços preocupa. Segundo o economista da UFJF, Fernando Agra, com a inflação, o poder de compra da população diminui, o que significa que as pessoas acabam comprando menos. Ele destaca que a população “tem sentido o impacto no bolso ao perceber que, a cada ida ao supermercado, gastam mais dinheiro e retornam para casa com menos itens.”
Joyce de Souza Lisboa, que costuma consumir tomate diariamente, relata que precisou reduzir a compra do legume por causa do encarecimento. “Gosto de comer tomate todos os dias, sempre coloco na salada. Costumava comprar um para cada dia da semana, mas dessa vez levei só dois, porque achei muito caro. Antes eu pagava R$4, até R$6. Agora já está R$9. Está acima do que eu costumo pagar, então, acabo comprando menos, só um ou dois, para dar aquele gostinho mesmo”, relata. Ela diz que, se o preço continuar subindo, pode até deixar de comprar. “Se continuar aumentando, vou evitar.”
- LEIA TAMBÉM: Estudo mostra que consumo de alimentos com licopeno reduz risco de câncer

O proprietário do Box São Francisco, no Mercado Municipal, Carlayle Francisco Lopes Barros, afirma que optou por não reajustar o valor do tomate, mantendo-o em R$ 9 o quilo. Ainda assim, ele percebe queda nas vendas.
“As pessoas que antes compravam dois quilos, agora levam um quilo. Quem comprava um quilo, leva meio. Outros pegam três, quatro tomates. Então, a quantidade vendida diminuiu bastante.”
Além da queda nas vendas, Carlayle destaca que a instabilidade nas safras tem contribuído para a elevação dos preços. “Se entra muito tomate, o preço cai um pouco. Mas quando quase não entra, ele sobe muito. Agora, toda a região está com pouca oferta, por isso, tem ficado caro.”
Márcio concorda e ressalta a influência do clima e do calendário nas oscilações do setor. “Hortifrúti é assim, muda sempre. Depende da temperatura, dos feriados… Quando tem feriado, a mercadoria encalha, o preço cai. E o clima tem que ajudar. Agora, por exemplo, era pra estar frio, mas está quente. Verduras e legumes sentem isso direto.”
Questão climática influencia nos preços
Agra destaca que, apesar do impacto do tomate na inflação, o IPCA é definido a partir da coleta de preços feita pelo IBGE, que considera mais de 400 itens em sua pesquisa. Ele explica que, no caso do tomate, assim como de outros produtos agrícolas, a variação de preços é fortemente influenciada por fatores climáticos. “Esses produtos de ciclo curto são altamente afetados pelas condições climáticas. Ao contrário do café, que tem uma safra bienal e leva mais tempo para ser colhido, o tomate é mais rápido de ser plantado e colhido. Isso significa que, assim como pode ter um aumento repentino de preço, ele também pode cair rapidamente. No caso do tomate, o calor excessivo prejudicou a colheita e foi um dos fatores que impactou o aumento dos preços.”
Uma das produtoras e responsáveis pela Cooperafame JF, Renata Negromonte destaca que as mudanças climáticas têm impactado diretamente a produção dos pequenos agricultores. A cooperativa, que reúne 130 famílias envolvidas com a agricultura familiar, sente os efeitos da alternância entre períodos de seca e chuvas intensas.
“A instabilidade climática tem prejudicado bastante. O tomate é muito sensível e acaba sendo afetado por doenças quando o tempo muda demais. Muitos produtores não conseguiram plantar lavouras maiores e, em alguns casos, perderam tudo.” Ela explica que esse cenário tem influenciado diretamente nos preços, “O tomate foi um dos que mais subiu, mas não foi o único. Estamos enfrentando entressafra em várias culturas”.
- LEIA TAMBÉM: Conta de luz fica mais cara em maio
Consumidores buscam alternativas

Diante do aumento nos preços, muitos consumidores têm optado por escolhas mais acessíveis. Agra explica que esse movimento é natural, especialmente entre as classes média e baixa. “Quando os preços sobem, a tendência é que as pessoas procurem alternativas mais baratas. Claro, não conseguimos substituir tudo, como o arroz, que é difícil de substituir na dieta brasileira, mas frutas, legumes, verduras e algumas proteínas podem ser trocados. Por isso, é importante revisar os hábitos alimentares.”
Renata concorda. “As pessoas têm procurado substituir o tomate por outros alimentos com valor nutricional parecido, mas mais baratos. Muitos estão optando por batata-doce ou inhame, por exemplo.”
A consumidora Angelita Carvalho lembra que já pagou R$7 no quilo do tomate italiano, mas que os preços dispararam. “Aquele tomate pequenininho era R$2 por 10 unidades. Agora está R$ 7 a caixa.”
Ela acrescenta que, apesar de adorar o sabor do tomate, tem recorrido a outros alimentos. “Uso muita beterraba — cozida, ralada, até farinha de beterraba. Dá para variar, mas eu amo o tomate e gosto de misturar.”
Eduardo Knaipm também sente a diferença no bolso, mas encara com pragmatismo. “Acho que dá para substituir por um tempo, até o preço voltar a um patamar razoável.”
Café e leite também pesam no bolso
Além do tomate, alimentos como café moído (6,73%) e leite longa vida (2,44%) também registraram altas expressivas em abril, reforçando o peso do grupo “alimentação e bebidas” na inflação.
A prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA-15, ficou em 0,43% em abril, segundo o IBGE. Apesar de representar uma desaceleração em relação a março (0,64%), o índice ainda reflete o forte impacto dos grupos “alimentação e bebidas” e “saúde e cuidados pessoais” que, juntos, responderam por 88% da inflação do mês.
No acumulado do ano, a inflação está em 2,43%; nos últimos 12 meses, chega a 5,49%.
Comer fora está mais caro
A alimentação fora do domicílio teve uma aceleração de 0,77% em abril, impulsionada principalmente pelo aumento no preço do lanche (1,23%) e das refeições (0,50%).
Agra explica que, apesar de muitas pessoas continuarem a comer em casa, a demanda por alimentos fora tem crescido devido à praticidade das entregas. “Observamos um aumento nas entregas por motoboys, o que tornou o processo mais conveniente. Muitas vezes, as pessoas não têm tempo de cozinhar, o que faz com que a comida fora de casa, principalmente pelos aplicativos, tenha se tornado uma opção mais popular.”
No entanto, ele alerta que o aumento dos preços pode não ser totalmente repassado ao consumidor final devido à concorrência. “A competição dos aplicativos e dos restaurantes self-service nos centros urbanos é intensa. Se os empresários repassarem todos os custos para o preço final, correm o risco de perder clientes. Por isso, muitas vezes, o repasse é parcial, e o empresário acaba absorvendo parte desse custo.”
*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli
- LEIA MAIS notícias sobre Economia aqui
O post Preço do tomate sobe 32% e pressiona inflação em abril apareceu primeiro em Tribuna de Minas.