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O aposentado Orlete Mafessoni, de 62 anos, precisou realizar um transplante de rim após cinco anos de tratamento com hemodiálise, e encontrou no filho adotivo, Rodrigo Mafessoni, de 40 anos, o doador perfeito.A cirurgia aconteceu no dia 17 dezembro de 2024 no Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV), referência em transplante de rim.Apesar da ausência dos laços sanguíneos, o forte vínculo afetivo entre pai e filho fez com que Rodrigo, operador de máquinas pesadas, não tivesse dúvidas na hora de se oferecer como doador.“Quando ele chegou com a notícia, eu já me prontifiquei. Falei que se fosse compatível eu doaria meu rim para ele. Me senti muito bem em poder honrar ele dessa maneira”, relatou Rodrigo.O aposentado, que nasceu somente com um rim, sempre teve uma vida normal, até que, há cerca de 13 anos, descobriu a condição e começou a realizar acompanhamento médico. Com 25% do rim funcionando, e ciente da necessidade da operação, Orlete conta que o filho adotivo viu no gesto uma forma de devolver o amor que recebeu dele.“A minha irmã também foi compatível. Porém, ele fez questão de doar. Fiquei receoso por ele ser muito novo e ficar somente com um rim, mas ele disse que assim como eu salvei a vida dele, ele faria agora o mesmo por mim”, disse Orlete, recebendo o carinho do filho.“Meu pai me salvou e agora retribuí. O importante é que ele está bem melhor agora”, afirmou Rodrigo.A médica nefrologista do HEVV, Larissa Assis Kruger, explica que, além da compatibilidade sanguínea entre os dois, outros exames clínicos constataram que Rodrigo estava saudável, o que possibilitou o procedimento.“O doador faz uma série de exames laboratoriais e de imagem para saber se as condições de saúde possibilitam o transplante. Além disso, é feito acompanhamento psicológico para identificar se está certo da decisão de doar”, disse a nefrologista, ressaltando que é possível ter uma vida normal mesmo com apenas um rim.“Mesmo com um rim só, é possível viver bem a vida inteira. Mas é preciso manter uma qualidade de vida”, disse Larissa Kruger.Responsável por acompanhar Orlete após transplante, o médico nefrologista do HEVV, Helio Cyrino, explica que o procedimento, apesar de mobilizar uma equipe maior, não é complexo. “A média de cirurgia é de três horas. O receptor quase não tem desconfortos, já o doador pode ter cólica após a cirurgia, mas é um procedimento simples”.Orlete Mafessoni, aposentado de 62: “Nasci de novo, é outra vida”
Rodrigo, com Orlete e Lina, faz parte da família desde os 4 meses de vida
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A Tribuna – Como você adotou o Rodrigo?Orlete Mafessoni – Eu peguei o Rodrigo e levei para casa após a mãe dele, que já havia tentado deixá-lo com quatro famílias diferentes, me falar que ia se desfazer dele. Aquilo me tocou e eu disse: Me dá essa criança, que vai ser meu filho. E peguei ele para criar, ainda com 4 meses de vida.Como foi a reação da sua esposa?Ela (Lina) se assustou, porque estava grávida do nosso filho biológico, mas eu disse que onde come um, comem dois, três, quatro, etc. Até que ela aceitou a ideia. Uma irmã minha me apoiou, aí levamos ele ao hospital, depois registramos. De lá para cá só foi amor.A mãe biológica chegou a procurá-lo alguma vez?Não. Ela inclusive foi testemunha quando eu registrei ele, foi uma exigência do juiz. Eu disse para ela que ninguém ia me tirar ele, só Deus, e assim foi.Como descobriu o problema renal?Descobri (o problema) após minha glicose subir muito, chegou a 600. Aí procurei um médico e fiz outros exames. Descobri que tinha apenas um rim e o que tinha já estava comprometido, funcionando apenas 25%. Comecei a fazer o tratamento e após oito anos comecei a fazer a hemodiálise.Como se sente agora?Me sinto ótimo, até hoje não tive nenhum problema. Eu sou muito grato ao meu filho por ter feito isso por mim. Eu nasci de novo, é outra vida.Como foi sua recuperação?A recuperação foi ótima, em sete dias fui liberado. Apenas tive um vírus comum em transplantados, fiquei internado, mas não tive nenhuma rejeição.Do que mais sentia falta de fazer antes e que agora pode?De beber água. Já passei tanta vontade de beber água. Também tinha uma limonada muito boa em Afonso Cláudio que eu morria vontade de tomar.Como é a relação entre você e o Rodrigo?Ele é um menino muito bom, só nos deu orgulho. Nossa ligação é muito forte, até a mesma profissão (operador de máquinas) que eu ele escolheu. Temos muito amor e respeito um pelo outro. Deus quem colocou ele no meu caminho. Eu salvei ele no passado e hoje ele me salvou.Como foi sua reação quando ele disse que queria doar o rim?Senti muita gratidão. Já vi muitos pais desejarem que o filho se oferecesse para doar um rim, e não tiveram isso. Ele disse no mesmo momento que seria o doador, que fazia questão de retribuir o amor que demos a ele. Que como um dia eu o salvei, agora ele me salvaria.Opiniões